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Linn da Quebrada racha noções de gênero no filme ‘Bixa travesty’


Foto: Divulgação

É encarando a câmera que Linn da Quebrada aparece em boa parte das cenas do filme Bixa travesty (2018), documentário em cartaz em cinemas do Brasil desde 21 de novembro, mais de um ano após ser aclamado ao ser apresentado em festivais do Brasil e da Europa.

Faz sentido o olhar de frente para a câmera porque o filme – roteirizado pela artista paulistana com os diretores Claudia Priscilla e Kiko Goifman – é veículo para Linna Pereira botar a boca no mundo patriarcal e expor o corpo como arma social e política para se (a)firmar e obter visibilidade, respeito e espaço para travestis, negros e bichas.

Linna nasceu Lino em julho de 1990 e já foi Lara antes de se tornar Linn da Quebrada, cantora, compositora – projetada em 2016 com o lançamento da música Enviadescer – e atriz.

No elenco da série Segunda chamada (TV Globo, 2019) como a travesti Natasha, Linn embaralha em Bixa travesty as noções de gênero. A começar pela grafia inusual das palavras bicha e travesti usada no título do filme rodado com cenas de nudez explícita.

Ao se perceber tanto como bicha quanto como travesti, sem deixar de se sentir mulher, Linn quebra conceitos estereotipados que enquadram gays de aparência masculina e travestis em compartimentos devidamente separados.

Essa quebra é explicitada nas conversas com amigas, como Jup do Bairro, e nas letras diretas das músicas ouvidas no filme em takes extraídos de shows da artista. A presença em cena da mãe de Linn, nordestina afro-indígena de 67 anos, contribui para fortalecer o recado e o tom feminino do documentário.

Sim, Bixa travesty manda recado para os machistas e/ou homofóbicos ao enfocar negros gays com assumido orgulho do corpo (no caso de Jup do Bairro, um corpo plus size fora dos padrões ditatoriais da sociedade).

Mas a vida nem sempre se revela uma festa nas cenas do filme. Pelas frestas das conversas de Linn com amigas, o telespectador voyeur captura falas que expõem solidão e carência de afeto em mundo de alta voltagem erótica. Tais sentimentos jamais esmaecem o orgulho da personagem-título de vir conquistando um lugar em mundo ainda homofóbico e opressor.

Mais do que apontar faltas, Bixa travesty celebra presenças e vitórias. Inclusive a vitória sobre o câncer no testículo, rememorado por Linn ao ver imagens do tratamento na fase mais dura da quimioterapia.

Bixa travesty põe o dedo na cara dos machistas e em feridas sociais, apontando a subida de Linn da Quebrada – e consequentemente a de Linna Pereira – na escala social.

Ao destilar orgulho negro e LGBTQI+, o filme de Claudia Priscilla e Kiko Goifman documenta o crescimento artístico e pessoal de uma bicha travesti que aponta nódulos sociais sem adotar sistematicamente um discurso de vitimização que, embora fosse legítimo, empanaria o brilho das conquistas de Linn / Linna. (Cotação: * * * *)

Fonte: Blog Mauro Ferreira/G1

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