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HIV 2020 – uma alternativa à tão esperada Conferência de AIDS 2020


Em março de 2018, a Sociedade Internacional de AIDS (IAS, sigla em inglês) anunciou que a cidade de São Francisco (Califórnia, Estados Unidos) sediará a 23ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2020).1 A AIDS 2020 foi projetada para ser a maior conferência internacional de AIDS no mundo. No entanto, a crescente oposição contra a escolha de local do evento ameaça a participação valiosa de organizações não governamentais e atores da sociedade civil.2

Desde o anúncio durante a IAS 2018, diversos ativistas do HIV/AIDS se opuseram à escolha dos Estados Unidos como sede da AIDS 2020. A hostilidade e animosidade promovidas abertamente pela administração de Trump contra as populações mais vulneráveis à infecção do HIV contribuiu para estabelecer um ambiente hostil a uma participação realmente global durante a Conferência da IAS. Além disso, a escolha por São Francisco, uma das cidades norte-americanas mais ricas do país, não reflete as necessidades das comunidades mais vulneráveis e mais afetadas pela atual crise do HIV/AIDS. Esta divergência levou à publicação de uma carta aberta por ativistas argumentando pela mudança de local da Conferência AIDS 2020. Entretanto, passado mais de um ano desde o primeiro anúncio e a relutância da IAS em mudar o local da conferência, ONGs e organizações da sociedade civil decidiram intensificar os seus protestos . Assim, criaram a conferência “HIV 2020: Comunidade Reivindicando a Resposta”3, um encontro alternativo para as pessoas que não podem ou não desejam participar em São Francisco .1, 4

 A Conferência HIV 2020 será realizada na cidade do México e promete um programa pensado especificamente para as necessidades das populações mais afetadas pela epidemia.3 Os objetivos da conferência alternativa são: 1) reafirmar o papel crítico que as comunidades desempenham mundialmente na resposta ao HIV; 2) destacar a importância dos direitos humanos; e 3) debater os desafios específicos que as pessoas que vivem com HIV enfrentam no México e na região latinoamericana.4 Os organizadores da HIV 2020, tendo como mote o envolvimento comunitário, refutam o caráter elitista e voltado para o lucro da IAS em São Francisco.

Enquanto ambas convocações clamam por uma união global na luta continuada contra o HIV/AIDS, aqueles que apoiam a HIV 2020 argumentam que a seleção da IAS pelos EUA como sede da conferência se opõe diretamente ao suposto valor de inclusão afirmado pela organização.5 Dado o preconceito histórico dos Estados Unidos contra as populações-chave da epidemia – tais como prostitutas, pessoas que vivem com HIV, usuários de drogas e pessoas originárias de países de menor renda 6 – e à atual retórica anti-imigração da administração norte-americana, a entrada dessas populações aos EUA mesmo para a conferência é também altamente improvável. Embora a preocupação com a entrada nos EUA pode estar exacerbada pela linguagem discriminatória  amplamente utilizada pela atual administração, a ansiedade em relação à solicitação de visto é fundamentada na exclusão de comunidades-chave nas edições de 1998 e 2010, que também aconteceram nos EUA.1 Sem a participação das populações mais marginalizadas, a AIDS 2020 descumpre completamente o seu objetivo principal de acelerar uma agenda de HIV/AIDS global progressista e de litígio.7

Além da crítica à falta de acessibilidade, também acusam o evento de ser uma conferência ao estilo de feira comercial multimilionária, que prioriza o ego das elites da saúde pública em detrimento das necessidades das comunidades de maior risco à epidemia.1,6 Embora os Estados Unidos sejam o maior doador do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS (PEPFAR) e do Fundo Global, as ações e políticas promovidas pela atual administração norte-americana fracassaram em unificar a resposta global ao HIV/AIDS. Enquanto os defensores da AIDS 2020 argumentam que uma conferência com sede nos EUA poderia impor uma pressão global à relutante administração Trump, é muito mais provável que a dependência da cooperação do país anfitrião somente produza críticas mínimas às lideranças americanas.8

Embora o principal debate da AIDS 2020 se concentre no acesso e representação das populações-chave, a questão subjacente da tensão entre os dois eventos é proveniente de um desacordo interno sobre qual seria o caminho mais eficaz para o progresso. A AIDS 2020 enfatiza a “resiliência” e reitera a atual estrutura da resposta global à AIDS, enquanto a HIV 2020, por sua vez, clama por uma “retomada comunitária” que desafie o atual sistema de lideranças da resposta ao HIV/AIDS. Apesar das autoridades estabelecidas do HIV/AIDS terem reduzido drasticamente o ônus geral da doença, a resposta não foi tão equitativa – comunidades ricas e brancas, como as de São Francisco, podem vislumbrar um futuro livre da AIDS, enquanto o Sul global ainda luta contra um ressurgimento alarmante da epidemia. Mesmo que a doença não estabeleça distinções entre classe, raça, gênero ou sexualidade, as políticas que garantem a disponibilidade e o acesso ao tratamento eficaz o fazem. As atuais vítimas do HIV/AIDS precisam de uma liderança que tratará da epidemia em acordo com o contexto contemporâneo e, embora a AIDS 2020 promova um envolvente conto das realizações históricas, é o HIV 2020 que vai garantir que as populações mais vulneráveis se beneficiem de futuros sucessos na resposta de enfrentamento ao HIV/AIDS. 

**** NOTA: Para quem deseja mais informações sobre o HIV 2020, acesse a página da conferência no link abaixo.

 HIV 2020:

https://www.hiv2020.org/

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2019

Texto: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS

Fontes:

 

  1. Networks of People with HIV Oppose U.S. Location for 2020 International AIDS Conference. (13 de março de 2018). Disponível em

    https://www.thebody.com/article/us-networks-of-people-with-hiv-oppose-us-location-

  2. International AIDS Society. Hosting AIDS 2020. Disponível em

    http://www.aids2020.org/About/Hosting-AIDS-2020

  3. Ativistas se unem por uma alternativa para a Conferência Internacional sobre HIV/AIDS. (4 de setembro de 2019) Disponível em

    Ativistas se unem por uma alternativa para a Conferência Internacional sobre o HIV/AIDS

  4. Advocates Unite to Plan an Alternative to AIDS 2020. (6 de Agosto de 2018)Disponível em

    https://www.poz.com/article/advocates-unite-plan-alternative-aids-2020

  5. Five IAS Values. Disponível em

    https://www.iasociety.org/Who-we-are/About-the-IAS/Five-IAS-Values

  6. There Might Be an Alternative AIDS Conference in 2020. (4 de setembro de 2018). Disponível em

    https://www.thebody.com/article/there-might-be-an-alternative-aids-conference-in-2

  7. AIDS 2020 Theme. Disponível em

    http://www.aids2020.org/About/AIDS2020-Theme

  8. 2020 AIDS Meeting in Bay Area Sparks Early Controversy –Groups blast U.S. policies; continue tradition of protests at international HIV/AIDS meetings. (26 de julho de 2018). Disponível em

    https://www.medpagetoday.com/meetingcoverage/iac/74259

  9. HIV 2020 Alliance. Disponível em

    https://www.hiv2020.org/

  10. HIV2020 Informational Webinar – MPat (28 de março de 2019). Disponível em

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