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Projeto Diversidade Sexual discute racismo, colonização, hipersexualização e estigma em Roda de Conversa sobre LGBT’s negrxs


Foi realizado na última quarta feira (14/11), na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) , no Centro (RJ), das 18h30 às 21:00, a Roda de Conversa “Os enfrentamentos e dificuldades de ser um LGBT Negrx”.

Organizado pelo Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, coordenado por Vagner de Almeida, com ajuda dos assistentes Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho, o evento reuniu jovens e adultos em torno da importante temática. Na verdade, antes de adentrar no assunto cenrtral, os participantes buscaram contextualizar por vias históricas a questão estrutural do racismo, da escravidão, da era colonial e suas implicações ao longo do tempo. “Essa coisa do negro e do índio não serem vistos como gente, mas como ‘animais’, remete a uma prática e visão desumanizadora praticada no Brasil especificamente pelos portugueses e todos aqueles que por aqui passaram. Apesar dos jesuítas terem sido aliados desses povos, quando suas reais intenções foram descobertas, eles foram expulsos de nossas terras”, explica a professora de História Sandra Brito. “Não siomente isso. Vale lembrar que negros e índios sofreram um apagamento de toda a sua cultura, religiosidade e costumes. A ideia foi justamente ocidentalizar e catequisar seus modos de vida”, completou Vagner de Almeida.

Já ára Andrey Chagas, que se reinvidica como afro-indígena, tudo isso se traduz e se alia com o conceito da Eugenia (seleção dos seres humanos com base em suas características hereditárias com objetivo de melhorar as gerações futuras), o que criou maiores cisões e ainda é uma dívida histórica em nosso país. “Os indígenas tiveram suas terras ocupadas e roubadas. Ainda hoje sofrem por não serem reconhecidos como verdadeiros e primeiros donos dessa terra”, aponta ele.

Lugar de Fala

Com tantas vozes e opiniões das mais diversas, logo o debate centrou-se em outro importante eixo, atualmente tão suscitado nas redes e movimentos sociais: o lugar de fala. Quem pode falar? Quem não pode? É importante para quebrar falas hegemônicas? Ou desviou-se como cerceador de posicionamentos favoráveis ou contrários a temas e grupos identitários? A polêmica instalou-se.

“Eu fico muito incomodada com isso. Não sou negra, mas se eu tiver que falar por um negro e defendê-lo eu vou. Ou será que não posso? Só se tiver um negro no mesmo ambiente que eu? Acredito que já estão criando muitas divisões com relação a isso”, criticou Sandra Brito. Já Lucilene Borges acredita que sempre é importante permitir que pessoas diversas tenham vozes, mas que por uma questão de empatia não se furta de “falar sobre determinados assuntos. Eu estudo Serviço Social na Unirio e faço parte de um grupo de estudo sobre Gênero e Sexualidade. E por isso mesmo já decidi que meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) será sobre pessoas trans, porque acho um absurdo nossa expectativa de vida ser de 78 anos e dessas pessoas até 35 anos”, explicou ela.

Para contemporizar, apoiado sobre leituras feministas com recorte de raça/cor, Jean Pierry Oliveira buscou descortinar o termo como forma de esclarecimento da prática. “Não existe problemas em uma pessoa branca falar pelo negro ou mulheres cis pelas trans, como um intercessor ou intercessora, digamos. O problema é que muitas vezes essas mesmas pessoas e populaççies historicamente marginalizadas e subalternizadas não tem sequer a oportunidade de falarem por si mesmas. A questão do lugar de fala tá ligada numa estrutura hierárquica onde existe olhares, falas, saberes e apontamentos de experiências que são postas como universais e, paralelamente, anula a subjetividade, poder de fala e conhecimento de quem foge da norma vigente hetero, cis e branca”, discorreu.

Hipersexualização e Invisibilidade de LGBT’ Negros

Finalmente após as deliberações anteriores, os participantes voltaram suas apreensões para a temática central da Roda. Negritude e homossexualidade quando inbricadas trazem consigo um combo dos mais pesados para corpos pretos: hipersexualização, invisibilidade, estigma e racismo. E lidar com tantas intersecções não é das tarefas mais fáceis.

“Vejo muitos amigos negros solteiros, alguns solitários até, afetivamente falando. Ou em relações interraciais conflituosas ou ainda servindo apenas como objeto sexual. E é muito introjetado determinados comportamentos e olhares para bicha preta dentro do próprio meio LGBT. Quanto maior a melanina da pele, maior será o desafio”, revela Jean Pierry. Performando seu gênero e sexualidade de maneira não binária, Andrey revela que por diversas vezes já foi confundida como profissional do sexo ao andar pela rua ou aguardar condução no ponto de ônibus. “Também tenho dificuldades de me relacionar com (rapazes) mais novos. Geralmente saio com caras mais velhos. Porque é isso né, nos rolês da vida você muitas vezes tem que ter algo a mais para aparecer (corpo padronizado, másculo) e eu poderia ir lá pra Farme (de Amoedo, famosa rua gay de Ipanema) afrontar as Barbies (como são chamados os rapazes musculosos no meio LGBT), mas isso não é para mim”, afirma.

Sobre isso Almeida fala que também é muito difícil ver por áreas notoriamente gays ou LGBT’s casais afros. “E geralmente quando você vê um negro com uma ‘Barbie’ da vida, aquele negro não somente é tirado e exibido como troféu pelo cara branco, como muitas vezes é tachado como interesseiro”.

A Roda de Conversa “Os enfrentamentos e dificuldades de ser um LGBT Negrx” foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens em 2018, com apoio da MAC AIDS Fund.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

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