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Projeto Diversidade Sexual realiza roda de conversa sobre como debater o HIV com os jovens


Foi realizado na noite da última terça feira (30/07), no Centro (RJ), na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) mais uma roda de conversa do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. “Como Ouvir e Falar sobre HIV com jovens?” foi a temática central do encontro.

Lucas Pinheiro foi um dos primeiros participantes a se pronunciar. Universitário de Serviço Social da UNIRIO, o jovem afirmou que “há um descompasso inter geracional porque os jovens de hoje não compreendem e não querem ouvir os mais velhos, e os mais velhos não dialogam com os mais jovens. Nisso tudo ninguém se entende e a gente não anda”, respondeu criticamente acerca de um dos possíveis impasses que a indagação da Roda questiona.

Mas o desafio é maior do que se supunha, mesmo quando é possível dialogar sobre o tema. E dentro de casa. Professora aposentada Sandra Britto disse que “eu tenho um neto de 14 anos e falar de sexo, sexualidade e camisinha com ele é muito difícil. Ele não quer ouvir, fica envergonhado, pede para deixar falar. E nisso aí só sobra a internet, o Google, mas que não é a mesma coisa”, revelou. E completou: “e no meio disso tudo me assusta o crescimento das igrejas evangélicas. Confesso que tenho muitas reservas com relação a isso”.

“Quando a gente fala de saúde falamos de várias dimensões de direitos. Venho trabalhando há três anos com gerações de jovens e adolescentes e vejo que, cada vez mais, é a troca de informações e saberes que vão enriquecer o coletivo. Essa noção de direito tá ligada a política, economia, saúde e outros fatores de cidadania e autonomia”, enfatizou o também estudante de Serviço Social da UFF/Rio das Ostras Daniel Santos. Cidadania e autonomia essa que para Leonardo Aprígio, um dos coordenadores da Rede de Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/AIDS no Rio de Janeiro é deficiente na medida em que “as pessoas falam tanto em acesso à informação ou que hoje a juventude se infecta porque quer já que possui conhecimento sobre o HIV, (mas) qual informação é essa que o jovem está acessando? Como esse debate está colocado hoje publicamente? Só existir a informação não adianta, as pessoas precisam se apropriar desse tema. E para isso é preciso falar sobre educação, sexualidade, direitos”, explicou.

“Muitas vezes você não tá afetado só pela epidemia, mas pelo bolsão de pobreza que está em sua volta. É tanta coisa para dialogar sobre que você não consegue dar conta”, contou Vagner de Almeida, coordenador do Projeto. Conta essa que não fecha por conta de inúmeros problemas estruturais da sociedade que afetam pessoas – principalmente jovens – soropositivos. Alguns apontamentos citados pelos participantes foram: estigma, discriminação, preconceito, pobreza, LGBTfobia, conservadorismo, (falta de) assistência médica adequada, medo, silenciamento, vergonha etc. A conclusão tirada por Almeida após ouvir os relatos foi que é importante “o fortalecimento de nós enquanto pessoas, cidadãos e de nossa saúde mental. Porque nós somos importantes para a sociedade. E essa culpabilização, essa vergonha não pode ser maior do que nós”.

Entretanto, ainda falta muito para chegar ao pretendido. De acordo com o último Boletim epidemiológico em HIV/AIDS do Ministério da Saúde, a notificação de novos casos de HIV entre pessoas de 15 a 24 anos aumentou aproximadamente 700% entre os anos de 2007 e 2017. Para além disso, a desumanização da relação médico-paciente, citada pela maioria dos convidados, e do trato social fora do âmbito hospitalar fataliza opções e oportunidades para que pessoas com HIV/AIDS possam administrar sem receios sua própria vivência e com os demais. Outro ponto negativo foi o coitadismo com que algumas ONGs e suas respectivas lideranças impõem aos jovens soropositivos, “deixando-os dependentes e sem a autonomia necessária para se empoderar em prol de seus direitos e deveres”, afirmou o enfermeiro e também coordenador da Rede de Jovens Rio+ Anselmo Almeida.

 Seminário Nacional sobre Jovens e o HIV

Outro momento de destaque da noite foi sobre a futura realização do Seminário Nacional para Jovens que o Projeto Diversidade Sexual tem proposto para novembro, no Rio de Janeiro. Utilizando a Roda de Conversa como fomento para o desenvolvimento de ações para o evento, Almeida quis saber “o que seria necessário para podermos conversar com jovens de todo o Brasil e suas realidades?”.

“Eu acho que seria interessante, quando os jovens de cada Estado estiverem aqui, que fosse realizado uma roda de conversa. Até porque a realidade cultural do país é muito diversa e seria bacana saber o que eles fazem e entendem (sobre HIV) em seus estados”, sugeriu Leonardo Aprígio. Já para o ativista Jean Vinícius, “é importante resgatar a memória porque os jovens de hoje precisam entender com lições do passado, para não cometer falhas e reproduzir estigmas como eu ouvi de um jovem do Rio Grande do Sul no último Aprimorando”, alertou ele citando o último Seminário de capacitação em HIV/AIDS da ABIA.

Jéssica Marinho, assistente de projetos, porém, refutou que “apesar da importância de resgatar o passado, temos que focar nos jovens e seus contextos. Porque muito do que recebemos como demanda e devolutiva é essa questão geracional, onde o jovem não tem voz ou não se vê representado”. “Mas se não recuperarmos o passado vamos perder tudo do nosso histórico e o que podemos aprender com ele no presente. Acredito que uma proposta é entendermos dos jovens qual o compromisso dele com o conhecimento adquirido aqui para que juntos possamos trabalha-lo ”, rebateu Juan Carlos Raxach, assessor de projetos da ABIA e um dos coordenadores do Projeto Diversidade.

Intervindo nos diálogos, Almeida observou que a história da epidemia de AIDS é muito grande, importante e antropologicamente rica. Portanto, “o pensar do jovem é muito importante porque ele precisa ter voz, mas o passado te faz enriquecer o saber com o histórico de luta, ações e marcos, principalmente daqueles que lutaram. Até por que hoje vivemos em um mundo onde cada um escolhe o que quer saber, mas nosso dever é mostrar o que passamos para chegar até aqui”, contemporizou. Para Léo Aprígio o encontro será uma oportunidade de fazer os jovens entenderem que “ Na década de 80 e 90 as pessoas morriam. Hoje a gente não precisa morrer, mas a gente morre. Então devemos juntos buscar uma nova forma de combate a este conservadorismo que quer nos calar.”

A roda de conversa “Como Ouvir e Falar sobre HIV com jovens?” foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens em 2019, com apoio da MAC AIDS Fund.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho
Fotos: Vagner de Almeida e Jéssica Marinho

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