Bruna é a Segundo-Sargento da Marinha do Brasil, e há 21 anos ingressou na carreira militar. Uma trajetória comum, mas cercada pela transfobia. Militante e defensora dos direitos humanos da população LGBTI, em especial das pessoas trans e travestis, ela também coordenadora e articula oo Instituto Brasileiro Trans de Educação e presidenta do Conselho LGBT de Niterói. Dentre outras atividades, Bruna também é vice-presidente da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBT.
Nascida no Ceará, ela chegou ao Rio de Janeiro aos 17 anos, após uma adolescência marcada por violências. Foi no concurso para a Escola de Aprendizes da Marinha que ela encontrou uma chance de estar livre. “Eu via muitas novelas, aquela liberdade que a gente acredita que aqui [no Rio] tem. Então eu cresci com essa ideia de morar no Rio de Janeiro. As pessoas trans não se evadem, são excluídas. Então dentro desse processo de exclusão, de uma adolescência incompreendida, eu vim”, conta.
Após ser dispensada das Forças Armadas ao revelar que era transexual, e sem conseguir reverter a decisão por vias administrativas, ela foi à Justiça e conseguiu o direito de voltar ao trabalho. Com sua militância a favor dos direitos das pessoas LGBT, Bruna ganhou n quarta-feira o Prêmio Faz Diferença na categoria Diversidade.
Ela é uma das primeiras transexuais na ativa nas Forças Armadas brasileiras. Em novembro de 2018, obteve decisão favorável da Justiça para que fosse reintegrada à Marinha, após um processo militar de reforma compulsória que teve como motivo um quadro de “transexualismo”.
Desde 2016, está na Diretoria da Antra, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, e é responsável pela elaboração do Dossiê dos assassinatos e violência contra travestis e transexuais no Brasil. Levantamentos deste tipo já existem há mais de 30 anos no Brasil, feitos por outras instituições, mas Bruna afirma que “ficava muito incomodada com esses dados e a maneira como eles aconteciam porque muitas vezes consistiam apenas em números, mas não se transformavam em nenhuma ação propositiva”.
Assim, por iniciativa própria, decidiu criar o Dossiê e transformá-lo em um novo instrumento de defesa de direitos para acabar com a violência de gênero contra a população trans, inclusive mulheres trans e travestis.
Em 2018, o Dossiê foi apresentado na Casa da ONU, em Brasília. O relatório foi entregue a representantes do Sistema das Nações Unidas no Brasil e à presidenta da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Bruna conta que a população trans e travesti está no foco da violência de gênero, principalmente a partir do momento em que se une ao feminismo. “Quando passamos a empoderar umas às outras, ‘ameaçamos’ o poder hegemônico, do patriarcado, e nos tornamos as primeiras pessoas ‘caçadas’ e violentadas”, explica a militante LGBTI.
“Os índices estão aí pra comprovar que o Brasil é um dos países que mais violenta e mata pessoas por questões de gênero feminino.”
Segundo a ativista, a violência é extremamente presente na vida das pessoas trans, pois “é a primeira instituição social que a população trans conhece quando passa a conviver fora do ambiente familiar – isso quando essa violência não acontece ainda dentro do próprio ambiente familiar, como em alguns casos”.
Redação da Agência de Notícias da Aids com informações