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UNICEF: meninas que têm imagens íntimas vazadas precisam de redes de apoio


Para entender melhor a relação dos adolescentes com o “sexting” (troca de conteúdos eróticos por meio de mensagens de celular) e com o vazamento de imagens íntimas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) realizou pesquisa com 14 mil meninas com idade entre 13 e 18 anos no Brasil.

Os resultados mostram que a sexualidade da juventude atual inclui práticas de “sexting”. Entre as meninas que participaram da pesquisa: 35% já mandaram fotos ou vídeos íntimos a alguém; mais de 70% já receberam “nudes” (imagens íntimas) de alguém sem pedir; 80% já receberam pedidos de alguém para enviar “nudes”.

A prática pode ter riscos, em especial relacionados ao vazamento de imagens e vídeos íntimos. O problema afeta muitos adolescentes, em especial meninas, que têm pouca informação sobre como se proteger e baixo acesso a redes de apoio. Leia mais sobre a pesquisa.

Não é novidade que a Internet mudou hábitos e comportamentos, facilitando a comunicação entre as pessoas e o compartilhamento de conteúdo. Junto com as facilidades da rede, vêm também alguns riscos, em especial relacionados ao vazamento de imagens e vídeos íntimos. O problema afeta muitos adolescentes, em especial meninas, que estão nas redes, mas têm pouca informação sobre como se proteger.

Para dar aos adolescentes um espaço seguro para falar sobre o tema e chamar a atenção para os riscos do vazamento de imagens íntimas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) criou, junto com o Facebook, o Projeto Caretas. Trata-se de uma experiência virtual em que adolescentes e jovens interagem, via Messenger, com Fabi Grossi, personagem fictícia que teve um vídeo íntimo vazado na Internet pelo ex-namorado.

Por meio de um diálogo que usa inteligência artificial, a personagem conta os desafios que está vivendo e discute os riscos do vazamento de imagens na rede e as opções para obter apoio. Os participantes são informados de que é uma história fictícia e têm sua privacidade preservada.

Em um ano, quase 1 milhão de pessoas, em sua maioria meninas, interagiram com o bot Fabi Grossi. Para entender melhor a relação delas com o “sexting” e o vazamento de imagens íntimas, o UNICEF realizou uma pesquisa. Foi enviado um questionário a 14 mil adolescentes de 13 a 18 anos, do sexo feminino, que participaram da experiência. E foi feita, também, uma análise qualitativa dos diálogos completos de 100 meninas que interagiram com Fabi Grossi.

É importante entender a diferença entre “sexting” e vazamento de imagens íntimas sem consentimento. O primeiro é uma prática contemporânea do comportamento sexual. Enquanto o segundo pressupõe a exposição vexatória, muitas vezes por vingança ou punição à mulher que não agiu conforme o desejo de seu companheiro.

Os resultados mostram que a sexualidade da juventude atual inclui práticas de “sexting”. Entre as meninas de 13 a 18 anos que participaram da pesquisa: 35% já mandaram fotos ou vídeos íntimos a alguém; mais de 70% já receberam “nudes” de alguém sem pedir; 80% já receberam pedidos de alguém para enviar “nudes”; menos de 20% disseram já ter solicitado “nudes” a alguém; 55% disseram que essas práticas costumam ocorrer pelo aplicativo WhatsApp; 25% afirmaram que o “sexting” ocorre pelo aplicativo Snapchat.

Mas o vazamento de imagens íntimas traz desafios. Cerca de 10% das entrevistadas passaram por esse problema, sem uma rede de amparo, o que gerou bastante sofrimento. Entre as entrevistadas: 35% não contaram a ninguém; 31% falaram para uma amiga; 16% compartilharam o problema com alguém da família; 2% conversaram com docentes na escola

Quando questionadas sobre como se sentiram: 80% disseram ter se sentido culpadas; 30% disseram ter se sentido tristes e sozinhas; 26% cogitaram fazer algum dano ao próprio corpo; 3,8% mudaram de escola; 1% disse ter mudado de cidade.

A pesquisa deixa claro que existe uma profunda desconfiança das adolescentes em discutir o problema com a família e a escola. Elas preferem silenciar ou falar apenas com amigas, que também têm pouca informação sobre o tema.

A maioria das meninas também desconhece qualquer rede de proteção para vítimas de vazamento de imagens íntimas sem consentimento. Entre as 100 conversas analisadas, apenas 6% das meninas conheciam o canal online da Safernet (

https://new.safernet.org.br/helpline

).

Quando perguntadas sobre o papel da escola, 70% das meninas disseram que o assunto nunca havia sido discutido em sala de aula. Há, portanto, espaço para que a escola traga o tema para seu cotidiano e seja reconhecida como um ponto de apoio seguro para os adolescentes. Para tanto, é fundamental que professores sejam capacitados sobre o tema e saibam onde buscar informação.

A Internet também não é aproveitada ou mesmo percebida pelas adolescentes como um espaço de busca de informações sobre o tema. Os esforços de organizações públicas, privadas e de terceiro setor de disponibilizar materiais online ainda não alcançam esse público de modo eficaz, sendo necessário um trabalho complementar para que essas informações sejam acessadas.

Os dados da pesquisa revelaram, ainda, que boa parte das meninas só buscam os pais quando a situação relacionada ao vazamento de imagens íntimas se complica.

Diante desse cenário, o UNICEF recomenda fortalecer a capacidade das famílias de dialogar sobre o tema. Os adultos responsáveis por adolescentes nas famílias precisam estar preparados para exercer a mediação em relação ao uso da tecnologia, fomentando comportamentos seguros, assim como o fazem em relação a outros temas importantes para o desenvolvimento de meninas e meninos, como a alimentação ou exercícios físicos, por exemplo. O diálogo franco e respeitoso é fundamental para que todos os integrantes da família aprendam e promovam um uso seguro, saudável, crítico e construtivo das tecnologias.

A agência da ONU também recomenda fomentar iniciativas voltadas às escolas. Os ambientes educacionais têm grande potencial para ser espaços de diálogo em busca de soluções para a questão. Com ações voltadas a eles, escolas e educadores podem ter um papel fundamental na promoção do diálogo sobre o tema, falando sobre os riscos e onde as vítimas podem obter apoio.

A escola também está no centro do debate sobre “sexting”, já que conflitos gerados por essa prática muitas vezes começam ou terminam em ambientes escolares. Ela pode ter um papel importante na mediação de conflitos gerados pela prática.

O UNICEF também sugere investir em iniciativas inovadoras na Internet. O uso da Internet se mostrou importante, embora delicado. Os espaços virtuais que se dedicam a apoiar as vítimas de violência online não são conhecidos pela maioria das meninas. Vale investir em ações inovadoras e criativas, que possam gerar resultados importantes e em grande escala.

Outra sugestão é investir em ações que fortaleçam os vínculos entre pares (entre as adolescentes), uma vez que as meninas preferem compartilhar seus problemas com amigas. Isso faz com que elas se tornem a primeira rede de apoio em caso de vazamento de imagens íntimas. Para tanto, é preciso reforçar a importância desse acolhimento e fornecer as informações necessárias para que elas saibam como ajudar.

Clique aqui para acessar a pesquisa completa.

Sobre o Projeto Caretas

O Projeto Caretas é uma experiência inovadora de interação online desenvolvida pelo UNICEF no Brasil, em parceria com as empresas Sherpas, Chat-Tonic, o Facebook e a ONG Safernet, que usa inteligência artificial para criar uma das primeiras peças de ficção.

Nele, Fabi Grossi, uma personagem fictícia, interage com adolescentes e jovens entre 13 e 18 anos por um chat na Internet e a história avança segundo essas interações. O enredo gira em torno do “sexting” e suas consequências. Para saber mais, acesse: 

https://www.facebook.com/ProjetoCaretas/

.

Sobre o UNICEF

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) trabalha em alguns dos lugares mais difíceis do planeta, para alcançar as crianças mais desfavorecidas do mundo. Em 190 países e territórios, o UNICEF trabalha para cada criança, em todos os lugares, para construir um mundo melhor para todos.

Fonte: ONU Brasil

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