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Último módulo do Curso de Capacitação de Jovens Multiplicadores aborda a Comunicação, Mídias Sociais e o Ativismo Cultural


Foi realizado na tarde da última terça feira (20) na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), no Centro (RJ), o terceiro e último módulo do Curso de Capacitação de Jovens Multiplicadores do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens.

Ministrado pelos assistentes de projetos Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho, com moderação do coordenador de projetos Vagner de Almeida, os 12 jovens e adultos presentes assistiram e divagaram sobre o tema da Comunicação, das Mídias Sociais e o Ativismo Cultural. A aula iniciou-se com uma rápida releitura acerca de questões já trabalhadas nas duas aulas anteriores e que diziam respeito as questões suscitadas como mais duvidosas como gênero, sexualidade, expressão de gênero e identidade de gênero. Logo em seguida, a apresentação concentrou-se num dos principais temas do dia: como as redes sociais ajudam a propagar diversas informações (verdadeiras e falsas) e nos relacionamos com elas. “Hoje em dia é impossível não estarmos em alguma rede social, tem gente que passa até 14 horas ou mais completamente conectada em seus aparelhos, então é muito importante sabermos até onde podemos tirar proveito delas”, disse Jéssica Marinho. Facebook, Instagram, Youtube, Snapchat, WhatsApp, Twitter e tantos outros espaços de convivência virtual delimitam nosso dia a dia e já influenciam o campo do real, com a mesma intensidade de suas postagens. Isso ficou evidenciado no último ano através do novo conceito cunhado ao longo de 2016 e incluído no famoso dicionário Oxford: a Pós-verdade.

“O termo surgiu e ficou mais famoso durante as eleições presidenciais americanas, disputadas por Donald Trump e Hillary Clinton. Diz respeito a criação e modelo de falsificar a verdade, ludibriando a opinião pública e apelando as emoções e crenças em detrimento do fato mais importante”, explicou Jean Pierry. E completou: “isso se justifica quando inverdades são reproduzidas e alimentadas como verdades. Foi assim com Trump, foi assim na eleição de Freixo x Crivella e isso acontece por uma questão e hábito cultural de não lermos e nos informamos apenas pelo Jornal Nacional ou quando só prestamos atenção no título e não no texto, por exemplo, de uma matéria”. Para além de fatos históricos e políticos, um outro fenômeno e símbolo das novas gerações é a chamada “geração Youtubers”, isto é, novos e jovens formadores de opinião que se utilizam da plataforma multimídia para criar canais de interação e dialogarem com diversos públicos sob os mais diversos temas. Apesar da pró-atividade, a disseminação de toda e qualquer informação deve ser levada em conta, principalmente, quando reverbera sobre públicos como LGBT’s, negros, mulheres e outros tais como Nátali Nery (Afros e Afins) e Põe na Roda, por exemplo. “O que eu acho mais interessante é a linguagem fácil e acessível, a maneira como estudam os temas e o jeito de se falar de coisas ditas polêmicas sem esse peso, que essas pessoas geralmente têm. Mas é preciso estar preparado e saber de sua responsabilidade sobre a maneira como você vai falar de algo e como aquilo chegará nas pessoas do outro lado”, disse Marinho.

Essa preocupação norteou os debates acerca da representação LGBT na televisão quando os assistentes provocaram os participantes sobre: a presença de LGBT’s na TV ajuda no debate ou reforça esteriótipos? Para a universitária Cléo Oliveira “eu acho, no meu ponto de vista, importante quando se tem gays e eles são afeminados. Apesar do tão dito esteriótipo, todo mundo sabe que existe os afeminados e querendo ou não, foram eles que anos atrás abriram caminho para muitos de nós aqui hoje”, concluiu. “Mas eu não me sinto representado enquanto homem gay afeminado por aquela bicha que eles representam na televisão, que geralmente é sempre uma espécie de “bolsa de grife”, um apoio, pra um monte de mulheres ricas. Existem outras especificidades de afeminado além do cabeleireiro engraçado”, criticou Andrey Chagas. Pauta do momento, especialmente em horário nobre, a população de travestis e transexuais vem ganhando muita notoriedade através da novela “A Força do Querer”, de Glória Perez, mas para Vagner de Almeida há um grande problema na representação e representatividade. “Primeiro que eu acho muito tarde a transição daquela Ivana. Pela idade que ela tem, isso já deveria ter sido mostrado desde antes. E segundo porque eu acho que deveria ser feito por um transgênero”. E completou: “não é possível que eu consiga achar pessoas transexuais cheias de talento para os meus filmes e a Rede Globo, a Glória Perez, com milhões de reais e possibilidade não consigam”, disse.

Já para o jovem Willams Santos, é muito importante que se esteja falando do tema no momento, mas que “o mínimo possível do que aquela pessoa pode fazer, ela deveria. A desculpa foi que não acharam um ator homen trans. Mas se não houver nem a possibilidade do negro, por menor que seja o espaço, fazer um papel, o asiático, a trans fazer a trans, até isso será retirado como direito”, advertiu. Sobre esse lugar de fala, sobrou espaço para deliberações acerca da temática negra também. Geralmente com papéis subalternos, estigmatizados ou pequenos, as dificuldades persistem e a exceção continua sendo regra. “Esses dias eu tava vendo a novela e reparei que quase não tem personagens negros, são pouquíssimos e a que tem quase não aparece. Aí quando eles surgem numa cena, estão no morro e como bandidos. Ou seja, o negro sendo mais uma vez reduzido aos mesmos tipos”, desabafou o ativista Lázaro Silva. Outro sinal contemporâneo que incide sobre a comunicação, mídias sociais e ativismo relaciona-se com o advento e consumo de produções via on-demand, ou seja, pela internet através de plataformas como a Netflix. Com liberdade artística, financeira e social o conglomerado americano despontou nos últimos anos como principal concorrente de emissoras de TV e cinema e mobiliza milhões de espectadores em todo o mundo com suas séries e filmes, sempre recheados de assuntos tabus como depressão, suicídio, diversidade sexual, de gênero, racismo e outros. Destacaram-se no curso as séries 13 Reasons Why (Os Treze Porquês), Dear White People (Cara Gente Branca), Sense8 e Orange is The New Black.

Sobre elas, opiniões divergiram. “Eu esperava mais de uma série que se propôs a debater a questão do negro a partir de estudantes negros dentro de uma universidade de maioria branca. Eu não vi referências que pudessem ser trazidas para o nosso contexto, acho que não foi isso tudo”, falou Willams Santos sobre Dear White People. “Eu discordo. Eu acompanhei e acho que a série foi polêmica e incomodou tanto as pessoas brancas justamente por tocar naquilo que elas insistem em negar como o colorismo e o racismo institucional”, rebateu Andrey. Sobre a polêmica do suicídio em 13 Reasons, Almeida desconstruiu a ideia de que a série romantiza a ação, pois “ela mostra aquilo que acontece. E não será evidenciando uma coisa dessas que você fará alguém se matar. Como alguém vai romantizar ou ver beleza nisso? Além do que, o que essa menina vive e passa está lá justamente porque as pessoas querem ver. Nada é por acaso”, frisou.

O Curso de Capacitação de Jovens Multiplicadores foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA em 2017.

Texto: Jean Pierry
Fotos: Vagner de Almeida

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