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Segundo dossiê, 82% das pessoas trans assassinadas no Brasil são negras


Foto: Divulgação

“Nós somos atravessadas por dois genocídios em curso no Brasil”, afirma Maria Clara Araújo, mulher negra trans e assessora da deputada estadual Erica Malunguinho. A ativista se refere aos números do genocídio negro e à violência cotidiana existente contra a população LGBT, e em especial trans.

Os números confirmam o que Maria Clara Araújo aborda. De acordo com o Atlas da Violência referente a 2017, documento publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 62.517 pessoas foram assassinadas no país, sendo que dessas, 71,5% eram negras. No ano de 2018, o Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais no Brasil em 2018, apontou para o homicídio de 163 pessoas em 2018. Dessas, 82% eram negras.

“Eu sou uma travesti negra. Não dá para eu hoje combater o transfeminicídio ou o racismo. Para mim pensar interseccionalmente é pensar como meu corpo foi construído socialmente e quais são os marcadores de violência que me atravessaram, e tem coisas desses marcadores que me atravessam de maneira simultânea”.

Para ela, um dos caminhos para superar essas dificuldades é o maior cuidado por parte dos movimentos sociais para esse segmento.

“Essas questões estão entrelaçadas, mas só passarão a ser visibilizadas a partir do momento que todos os movimentos sociais passem a ouvir mulheres trans e travestis e ter a transfobia enquanto algo que estrutura as relações no Brasil também”, afirma.

A violência contra a população trans

De acordo com o dossiê, o Brasil lidera há três anos o ranking de país que mais mata pessoas trans no mundo. Foram 167 pessoas assassinadas no país em 2018, contra 71 no México, 28 nos EUA e 21 na Colômbia, o que faz do Brasil concentrar 41% dos homicídios de pessoas trans no mundo. Vale destacar que entre as americanas, 85% das assassinadas eram negras.

Maria Clara Araújo acredita que o caminho para a mudança desse necessário ainda é longo. Para ela, os avanços para a população negra e trans no Brasil ainda são limitados, principalmente em se tratando de um grupo que ainda luta pela vida.

“Quais são os nossos avanços no Brasil até agora? Casamento igualitário? Quando a população negra, que é LGBT está discutindo direito á vida”.

A violência contra trans no Brasil também tem outros marcadores presentes: o regional e o etário.

O Mapa dos assassinatos aponta que 60,5% das vítimas tinham entre 17 e 29 anos, 29,1% entre 30 e 39 anos e 10,5% entre 40 e 49 anos.

Os cinco estados mais violentos para pessoas trans, em números absolutos, em 2018 foram Rio de Janeiro, com 16 casos, Bahia, com 15, São Paulo, 14, Ceará, 13 e o Pará, 10.

Somente em 6 estados do país há a aplicação da Lei Maria da Penha para Travestis e Transexuais: Acre, Pará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com o documento, “As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher não estão preparadas para casos de violência a pessoas trans”.

Nordestina e natural de Recife (PE), Maria Clara Araújo aponta que ainda existe uma ausência de políticas fora do eixo do Sudeste também para a população LGBT negra.

“Eu que sou Recife. Lá a gente ainda está muito no campo do micro, das relações micro, do nome social enquanto uma gambiarra de direito e afins”.

A situação da população trans no país

Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) apontam que 90% da Travestis e Transexuais estão inseridas no mercado de trabalho por meio da prostituição. Não à toa, 65% das pessoas trans assassinadas eram profissionais do sexo e 60% foram executadas nas ruas.

Outro fator que chama atenção é o formato da exclusão. Segundo a ANTRA, travestis e mulheres transexuais costumam ser expulsas de casa aos 13 anos de idade.

No sistema educacional, as disparidades estão presentes. Apenas 0,02% do grupo está nas universidades, 72% não possuem o ensino médio e 56% não tem o ensino fundamental completo, segundo dados do Projeto Além do Arco-Iris/AfroReggae.

A perversidade dos dados e das violências, quando se olha para essa população LGBT e negra, exige da sociedade um olhar interseccional para a superação das desigualdades e garantia de direitos, segundo Maria Clara Araújo.

“Qualquer passo que seja dado tem que ser um passo dado interseccionalmente, pensando em toda a complexidade que implica ter esses corpos em movimento. É preciso que esses movimentos sejam atentos a esses corpos”.

Fonte: Alma Preta

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