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“Saúde Mental e Juventudes” é tema da primeira roda de conversa do Projeto Diversidade Sexual na ABIA em 2018


Na noite da última quarta feira (21/02), na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), no Centro (RJ), a primeira Roda de Conversa de 2018 do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. Com o tema “Saúde Mental e Juventudes” o evento teve como objetivo discorrer sobre os anseios, dilemas, desafios e angústias da contemporaneidade, especialmente entre as juventudes, e que relaciona-se e interfere (positivamente e negativamente) na saúde mental dos mesmos.

Inseridos em um contexto desfavorável, em meio a violência e o alto número de desemprego – os jovens formam a parcela mais afetada pela crise e recessão brasileira – é natural que a autoestima reduza, a pressão pelos objetivos aumente e a depressão e/ou o suicídio ganhe espaço na fragilidade emocional. O coordenador de projetos Vagner de Almeida iniciou a Roda salientando a importância de dar voz aos males e incômodos que nos afligem e a necessidade de falarmos e ouvirmos. Para a pedagoga, assessora parlamentar e ativista pelos direitos das pessoas Travestis e Transexuais Wescla Vasconcelos, a saúde mental é uma das mais importantes e significativas questões para as juventudes, sobretudo para mulheres transgênerxs como ela. “Eu sou pedagoga, me formei na (Universidade) Federal do Ceará, estou há um ano no Rio de Janeiro, mas desde o meu estado eu vejo como é necessário esse tema. Sempre me envolvi com essas questões e tudo aquilo que se relacionou com política e, dentro da minha experiência com travestis e população manicomial, eu percebi o quanto é preciso se fortalecer enquanto indivíduo; no meu caso, como mulher trans, saber lidar com olhares de rejeição por achar que seu lugar é na esquina e não com um crachá no peito como eu”, observou ela.

Sobre isso, Regina Bueno – advogada e ativista pelos direitos de jovens e pessoas com HIV/AIDS no Rio de Janeiro – questionou: onde e quem pode nos ouvir? Quem pode nos apoiar quando somos atacados emocionalmente? Respondendo e criticando a própria indagação, Bueno afirmou que há uma “competição” das dores alheias. Isto é, “a sua dor é maior que a minha”. “Aqui no Rio de Janeiro estamos assistindo um desmonte de políticas públicas voltadas para a saúde mental. E aí não tem tempo para a integralidade, não tem o acolhimento. Hoje se quer que a pessoa tome um remédio e tá tudo certo. Mas até para tomar um remédio você precisa de um equilíbrio mental para tomar aquele remédio. E isso é uma tendência global, onde tudo é muito imediato”, conclui a psicóloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Já para Sônia Correa, pesquisadora associada da ABIA e Co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política (SPW), é preciso ter a noção que antigamente o Estado fazia o controle social por meio de uma política de retirar da sociedade e abrigar em manicômios. E, atualmente, com a ausência do Estado e desse tipo de política de saúde pública, são setores religiosos de matrizes conservadoras que ocupam esses espaços. Além disso, para ela é importante separar dor e sofrimento. “Eu acho importante não negligenciar os efeitos perversos dessa sociedade cruel que vivemos, mas é importante também olharmos para aquela pessoa e perceber que ela tem que ter seu empoderamento”, completou Penélope Esteves ao dizer que nem todas as respostas estão na medicalização de uma tarja preta, pois nem todo mundo terá depressão.

Para o advogado e psicólogo Marclei Guimarães, o que falta é a prática da solidariedade. Segundo ele, “na minha juventude o antídoto para lidar com meus dilemas da homossexualidade foi o estudo. Foi a minha intelectualidade. Mas isso não é o antídoto para todo mundo. Eu sinto falta de grupos de apoio, de redes e grupos que nos auxiliem”, frisou. Já Almeida sintetiza que falar sempre na primeira pessoa é perigoso porque exclui a noção e sentimento de coletividade “e isso é se medicalizar tanto como quando sentimos uma dor de cabeça e tomamos um remédio”. O jovem jornalista e assistente de projetos, Jean Pierry, enfatizou que a busca por esse tipo de medicalização pode muitas vezes ocorrer devido a fluidez constante com que as coisas e sentimentos alheios perpassam pelas pessoas, “ Atualmente é muito difícil você ter amigos capazes de te ouvirem ou simplesmente essas pessoas não buscam um profissional capacitado com medo dos julgamentos que podem vir a sofrer. ” A roda de conversa “Saúde Mental e Juventudes” também suscitou bastante interesse via redes sociais. Na página oficial do evento foram alcançadas 2800 pessoas, entre visualizações e interações. “Foi muito importante para mim estar presente nesse evento, pois as conversas foram super precisas”, agradeceu Biancka Fernandes.

“Saúde Mental e Juventudes” foi a primeira ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA em 2017, com apoio da MAC AIDS Fund.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho

Fotos: Vagner de Almeida

 

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