Um artigo produzido pelo Grupo de Trabalho Racismo e Saúde, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), observa que, durante a pandemia da COVID-19, além de ser o grupo com maiores vítimas pelo vírus, a população negra também sofre impactos em sua saúde mental, o que demanda atenção e discussão. O GT Racismo e Saúde tem apoio institucional do Fundo de População da ONU (UNFPA).
O artigo, assinado pelo professor e psicólogo Emiliano de Carvalho David, observa que dados do Ministério da Saúde confirmam que há maior número de suicídio entre adolescentes negros e mais mortes por consumo abusivo de álcool entre pessoas negras, quando comparado às pessoas brancas. De acordo com o pesquisador, em 2016, a cada 10 suicídios entre adolescentes, 6 foram entre negros.
Além disso, historicamente as pessoas negras foram as maiores afetadas pelos métodos psiquiátricos manicomiais, sendo compulsivamente internadas em manicômios – mesmo sem justificativa válida – e subjetivamente atreladas à loucura e periculosidade.
Durante a pandemia, esses fatores estão ainda mais evidenciados e a saúde mental de pessoas negras segue sem ser discutida, destaca o artigo. “A população negra é o grupo racial com maior exposição às formas de contágio, devido ao acesso precário a saneamento básico; trabalhadores (as) informais, moradias precárias, dificultadores de distanciamento social, entre outros. Tudo isso tem interferência direta na saúde mental dessa população, provocando medo, ansiedade, desânimo, exigindo processos de luto, entre outros efeitos e demandas psicossociais”, lembra o pesquisador.
O artigo conclui que “a COVID-19 escancara a necessidade de estratégias em saúde e saúde mental que visem à redução de danos como abordagem e estratégia de cuidado clínico, bem como a importância do cuidado em liberdade”.
Fonte: ONU Brasil