Toda gestante, quando descobre que está vivendo com HIV, experimenta uma situação difícil, pois além da dor de ter que lidar com próprio diagnóstico, também há o medo de transmitir o vírus para o bebê que está gerando. Atualmente, uma parcela considerável dos diagnósticos de casos de infecção pelo HIV na população feminina ocorre durante a gestação.
O número de grávidas com HIV no Brasil vem crescendo desde 2008, de acordo com os últimos dados do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids divulgados pelo Ministério da Saúde. Em 2008, foram registradas 6,7 mil gestantes com HIV, o que representava 2,1 casos para cada 1 mil nascidos vivos. Em 2018, esse número passou para 8,6 mil, o equivalente a 2,9 casos a cada 1 mil pessoas.
Enquanto o número de casos notificados de aids, que é a síndrome causada por este vírus, cai entre a população em geral, desde 2014, em todo o Brasil, o número de gestantes com HIV aumentou quase 37% nos últimos dez anos.
No Maranhão, de 1985 a outubro 2019, foram registrados 21.288 casos da doença, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Em São Luís a situação é preocupante, pois de acordo com os últimos dados do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids do Ministério da Saúde, é a primeira capital nordestina e a terceira do Brasil no ranking de maiores taxas de detecção de HIV em gestantes. A capital maranhense está acima da média nacional de 2,9 casos para cada mil pessoas.
O boletim mostra que São Luís passou de 2,6 casos para cada mil pessoas em 2008 para 5,7 em 2018. Dentre as capitais nordestinas Maceió (AL) aparece como a segunda capital com mais casos de gestantes com HIV, com 4,9 casos, seguida de Recife (PE) com 4,7 e Aracajú (SE) com 3,6.
Se ser portador de HIV não é fácil, imagina, ao descobrir que está grávida, saber também que tem o HIV. Com a obrigatoriedade do teste, muitas mulheres só descobrem o HIV quando engravidam.
Hoje, em todo o país, todas as mulheres grávidas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) devem, obrigatoriamente, fazer o teste de HIV. Os casos positivos devem ser notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O diagnóstico e o tratamento precoce são importantes porque podem garantir o nascimento saudável do bebê.
Fiquei sem chão”, diz grávida
S. A. (ela não quis se identificar para a reportagem por causa do preconceito) tinha 27 anos quando descobriu ser portadora do HIV. E só soube depois que engravidou, quando foi fazer o pré-natal. Depois do susto e de até pensar em abortar, Juliana iniciou o tratamento antirretroviral aos dois meses de gravidez; do namorado, não teve mais notícias.
“Fiquei sem chão. Tenho certeza que peguei do meu namorado, e só soube porque engravidei. E ele que simplesmente se mandou. Na minha família tive apoio, mas é um assunto que quase não se fala. Tinha muito medo que minha filha também pegasse o vírus, mas graças a Deus minha bebê não nasceu com o vírus. E eu? Eu sigo me tratando”, resumiu a estudante.
A prova de que o país avançou no atendimento às gestantes é a redução da chamada transmissão vertical, quando o HIV é passado da mãe para o filho na gestação, no parto ou durante a amamentação. A taxa caiu de 3,6 casos a cada 100 mil habitantes, em 2008, para 1,9 mil casos, em 2018, o que corresponde a uma queda de 47,2%, segundo o Ministério da Saúde.
Pré-natal
As gestantes que forem diagnosticadas com HIV durante o pré-natal têm indicação de tratamento com os medicamentos antirretrovirais durante toda gestação e, se orientado pelo médico, também no parto. O tratamento previne a transmissão vertical do HIV para a criança. O recém-nascido deve receber o medicamento antirretroviral (xarope) e ser acompanhado no serviço de saúde.
Recomenda-se também a não amamentação, evitando a transmissão do HIV para a criança por meio do leite materno. Essas gestantes são a fazer uso de medicamentos inibidores da lactação, substituindo o leite materno por leite artificial ou humano processado em bancos de leite.
No Brasil, a gestante tem o direito de receber fórmula láctea infantil, pelo menos até o seu filho completar 6 meses de idade.Quando a gestante não trata o HIV
Quando a gestante não trata o HIV
Se não forem tratadas, a chance de transmissão do vírus para seus filhos durante a gravidez, o parto ou a amamentação é de 15-45%. Com intervenções adequadas e realizadas no momento certo, o risco de transmissão do HIV da mãe para o bebê pode ser reduzido para menos de 1%.
A adesão ao tratamento antirretroviral na gestação é a medida de maior impacto para prevenir que a criança seja infectada. Se seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e pós-parto, mães que vivem com HIV têm 99% de chance de terem filhos sem o HIV.
Casos
De 1980 a junho de 2019, foram identificados 966.058 casos de aids no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 39 mil novos casos de aids nos últimos cinco anos. Entretanto, o número anual de casos de aids vem diminuindo desde 2013, quando atingiu 42.934 casos; em 2018, foram registrados 37.161 casos.
De acordo com o levantamento epidemiológico do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o Maranhão notificou, desde o início da epidemia, em 1980, até outubro de 2019, 21.288 casos de Aids, sendo 62,8% do sexo masculino (13.020 casos) e 33,2% do sexo feminino (8.058 casos).
Fonte: O Imparcial