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Richard Parker participa de Seminário da Secretaria Estadual de Saúde no Rio de Janeiro


Foi realizado no Centro (RJ), das 09h00 às 16h00, o Seminário “Desafios para prevenção do HIV em tempos de prevenção combinada”, promovido pelo Comitê Estadual de Saúde da População LGBT e Gerência de DST/AIDS, Sangue e Hemoderivados/ Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro.

A abertura teve início com Denise Pires (SES/RJ) falando sobre a política atual da prevenção. Com a iminência de um novo governo, em âmbito estadual e federal, a servidora evidenciou diversas falas, publicações e aspas ditas por representantes do novo governo presidencial que se caracteriza pelo “combate ao marxismo e a ideologia de gênero”. Tudo isso para se chegar a pergunta: o que esperar para as políticas de AIDS nesse cenário?

“Por mais que seja óbvio, temos que reforçar algo que está na nossa Constituição: Saúde é um direito de todos. Integridade, Equidade e Participação são valores que não podem deixar de ser engendrados por um novo governo. No caso do Rio de Janeiro, estamos no 6º lugar do ranking em taxas de HIV/AIDS e precisamos fazer algo mudar isso,”, pede ela.

Históricos e Perspectivas

Esse foi o percurso e a temática percorrido por Richard Parker em sua apresentação logo após Denise Pires. O diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) dividiu sua fala entre mudanças de paradigmas do HIV/AIDS, (re)biomedicalização e prevenção combinada. O objetivo foi levantar e trazer apanhados históricos como lições para analisarmos questões contemporâneas.

“Num primeiro momento da epidemia foi dito que era necessário não fazer sexo, usar camisinha e outras propostas que culpavam as pessoas pela sua doença. Mas as comunidades mais afetadas reagiram e criaram respostas frente ao estigma e à discriminação que surgia, como a noção do Sexo Mais Seguro – criado sobretudo pelos homens gays – e a Redução de Danos, conceito sobretudo praticada por usuários de drogas (UDI).  E isso tem que ser falado, porque foram coisas oriundas das comunidades mais afetadas e não da comunidade médica”, contou ele. Tudo isso categorizou o Sexo Seguro como:

– Um exercício de solidariedade;

– Uma prática comunitária

– Um exercício de cidadania.

Num segundo momento, sobre “como caminhar para o futuro”, Parker chega a prevenção combinada sob três aspectos:

  • Perspectiva Biomédica;
  • Perspectiva Comportamental;
  • Perspectiva Estrutural

“Quando essa ideia de prevenção combinada surgiu, através de organizações como UNAIDS e outras, foi por achar que estávamos indo longe demais na linguagem biomédica, foi para tentar retornas as questões da prevenção aliando pontos comportamentais com o biomédico”, disse Parker. Que completou: “mas temos que tomar bastante cuidado para que isso seja colocado dentro de uma pedagogia para a prevenção combinada, com bases políticas além de técnicas, sem balas mágicas – Testar e Tratar, Tratamento como Prevenção e outros -se queremos fazê-la dar certo”, ressaltou.

E o terceiro momento de sua apresentação trouxe passos para uma pedagogia da prevenção combinada. Pontos chaves para o diretor presidente são fatores como:

  1. Retorno as raízes do sucesso: a luta política, mobilização comunitária, enfoque nos Direitos Humanos;

 

  1. Superação do desperdício da experiência

 

“Temos que reinventar o sexo seguro com PrEP (Profilaxia pré-exposição) e outras abordagens biomédicas, que considerem a sexualidade, sem estigmatizar no século 21”, é um dos objetivos cruciais para Parker no que tange à política de AIDS e prevenção como saúde pública e direitos no Brasil. Mas essa ideia de prevenção como direito, para ele, passa também por outros apontamentos:

– Acesso à toda a caixinha de ferramentas disponíveis (biomédicas, estruturais, comportamentais);

– Combate ao estigma, discriminação e preconceito para superação de barreiras, principalmente com as populações mais afetadas pela epidemia;

– Devolver o lócus da prevenção para as comunidades;

– Reconhecer sexualidade como expertise;

– Reinventar sexo seguro como instrumento de solidariedade e direito.

Durante a sessão de perguntas e respostas, Richard Parker ainda posicionou-se a partir de questionamentos como PrEP no SUS (Sistema Único de Saúde) e seus desafios, Escola sem Partido, perspectiva da pedagogia da prevenção para pessoas trans, profissionais de saúde como agente na prevenção combinada, política brasileira e outros temas. “Não sei se vamos ter sucesso no futuro, mas temos que ter um diálogo intersetorial para alcançar o sucesso de nossas ações. Devemos encarar  que as novas metodologias se não forem incorporadas a outros aspectos comportamentais e peculiares de cada grupo não irão funcionar”, encerrou ele.

Experiências de Prevenção

Em seguida, uma mesa redonda foi formada para falar de experiências de prevenção. Maria Eduarda Aguiar, do Grupo Pela Vidda (GPV-RJ), e Júlio Moreira, do Grupo Arco Íris, foram os responsáveis por abordar a prevenção combinada no universo da população trans e o Projeto PrEP, respectivamente.

“Eu acho que não devemos trabalhar somente até onde a PrEP vai chegar, mas trabalhar com a questão da vulnerabilização, do acesso mediante a isso, a empregabilidade e a informação à população trans longe do estigma”, é o que acredita Maria Eduarda completando ainda que a expectativa de vida de pessoas travestis e transexuais como ela é de somente 35 anos no Brasil e isso não pode ser desconsiderado quando se fala de prevenção combinada e PrEP.  A advogada ainda criticou o futuro ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que afirmou que a prevenção deve ser falada e tratada dentro de casa. “Mas como travestis e transexuais podem aprender algo em casa se elas são as primeiras expulsas por suas famílias e também das escolas?”, indagou.

Outro ponto crítico foram os dados revelados pelo novo Boletim Epidemiológico sobre HIV e AIDS no Brasil, que para ela além de vergonhoso, talvez seja maior por dados subnotificados, “pois o percentual de trans que se tratam é baixo. Então não sei até onde vai essa exatidão dos índices. A vulnerabilidade impede que as políticas de saúde tenham êxito”, afirmou encerrando sua fala em tom de esperança. Já Júlio Moreira começou sua apresentação compartilhando sua vivência enquanto usuário de PrEP, desde 2009, “momento de ponto cego da profilaxia porque não sabíamos se estávamos tomando o comprimido ou o placebo”. Usuário de camisinha, mas também com questões incômodas sobre ela, Moreira disse que com a PrEP ele teve a autonomia de poder transar sem camisinha em suas relações – após a demonstração de sua eficácia – e “isso permitiu fazermos aquilo, que quem tá mais por dentro do movimento social e com acesso à informação, chamamos de gerenciamento de risco com o parceiro, dialogando de acordo com a situação”.

Estudos e pesquisas como o ImPrEP foram destacados pelo ativista, porém ele ressaltou que “a PrEP ainda está reduzida a pessoas brancas, de classe média e média alta, como usuários(as). E não chega a quem precisa como negros, trans, menos escolarizados etc”. Isso para ele é uma das questões estruturais mais importantes do medicamento. Além disso, “a PrEP tem que ser ampliada para outros territórios e locais fora dos grandes centros urbanos. Muitas vezes as pessoas não têm dinheiro de passagem para poder vir fazer o tratamento”, observa. Encerrando sua apresentação, Júlio espera que a profilaxia pré-exposição seja trabalhada com a perspectiva das intersecções que atravessam o indivíduo e sem estigmas e moralismos sob sua eficácia, distribuição e usuários (as).

Durante o momento de perguntas e reflexões acerca dos pensamentos de ambos os palestrantes o coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, Vagner de Almeida posicionou-se sobre a necessidade dos gestores do Estado e município e Ministério começarem a falar para o público alvo do projeto, “ Essa fala técnica não alcança as populações que nós trabalhamos que são extremamente vulnerabilizadas. Se quisermos ter sucesso na adesão da PrEP com essa parcela da população-chave devemos começar a falar para eles e com ele.”

Após o almoço, o evento seguiu com uma mesa redonda sobre “Vivências de Prevenção”, nos seguintes eixos:

– Adolescentes no ambiente escolar, com o professor Mário Sérgio (Colégio Estadual Júlia Kubitschek)

– Ações extra muros na via Dutra, com Rosa A. do Nascimento e Glória Beatriz Rezende (Coordenação municipal de AIDS de São João de Meriti/RJ)

– Testagem em via pública, com Márcia Sant’Anna (Coordenação municipal de AIDS de Niterói/RJ)

– Engajando a comunidade no universo das pesquisas, com Cléo de Oliveira Souza (INI/Fiocruz)

 

Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho
Fotos: Vagner de Almeida

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