O segundo dia de atividades do HEPAIDS 2017 (11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais – Prevenção Combinada: Multiplicando Escolhas) , realizado de 26 à 29 de setembro de 2017 em Curitiba, foi marcado pela apresentação do diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) Richard Parker sobre “Pedagogia da Prevenção Combinada: Sexo Seguro como uma prática comunitária”.
Durante sua fala na Sala Cascavel do Centro de Exposições Unimed, Parker iniciou seu debate a partir do conceito da origem e da importância do Sexo Seguro. “Esse conceito de sexo seguro nasceu dentro da comunidade, não foi um processo biomédico. Foram as comunidades mais afetadas como a dos homossexuais, por exemplo, no início da epidemia que iniciaram essa prática”, explicou ele. Enfático, Parker afirmou que a prevenção começou a perder o eixo quando as pessoas das comunidades afetadas deixaram de ser ouvidas e a questão passou a ser centralizada na comunidade científica e sua retórica da biomedicalização como solução para a epidemia. “Foi por isso que a partir dos anos 2000 nasceu um conceito chamado de Prevenção Combinada por pessoas preocupadas com a biomedicalização. Isto é, aliar diversas opções de prevenção para cercar o vírus e enfrentar as barreiras estruturais, comportamentais, raça, gênero e outros aspectos”, contou.
O Projeto Político da Prevenção Combinada
Foi uma tentativa de resgatar alternativas a forte (bio)medicalização da epidemia, entretanto, para Parker a prevenção combinada também funciona para empoderar seus indivíduos acerca daquilo que é melhor para si – e para outros, consequentemente. Mas ainda há muitas confusões sobre suas combinações que dificultam a implementação e adesão. “Ainda há insistência de tecnocratas de plantão nas apostas biomédicas. Então temos que pensar qual seria realmente o caminho para avançarmos numa pedagogia de prevenção combinada que queremos”, salientou. E destacou alguns caminhos que propõe bases libertárias e pedagógicas de tratamento e prevenção, tais como:
- Devolvendo o lócus de controle pela prevenção para as comunidades afetadas;
- Reconhecer uma maior expertise sobre a nossa sexualidade;
- Compreender o poder e conhecimento das comunidades afetadas pela epidemia;
- Reinventar o sexo seguro como instrumento de solidariedade.
“Temos que retornar para o caminho que fez do Brasil uma referência mundial na prevenção do HIV/Aids, que foram a luta politica, a mobilização comunitária e a defesa dos direitos humanos”, considerou, lembrando que a prevenção nunca esteve conceitualizada como direito humano, ao contrário do tratamento, o que acaba se constituindo como barreira. Para Parker o Brasil parou em uma espécie política se prevenção “inacabada”, que precisa avançar com a participação da população e sua diversidade. “Precisamos trabalhar uma educação mais enraizada politicamente para enfrentar as exclusões que causam a vulnerabilidade ao HIV. Há muitas outras formas de combater a transmissão do vírus e cada grupo pode escolher a sua, camisinha não é única forma de prevenção”, concluiu.
Finalizando sua apresentação, Parker alertou que “sem a recuperação da reinvenção do sexo seguro, o acesso a todas as ferramentas atualmente disponíveis, o acesso à prevenção como um direito fundamental de cidadania e a retomada da luta contra o estigma, preconceito e discriminação, não será possível fazermos a prevenção combinada significar nada na quarta década da epidemia de AIDS”.
Texto: Jean Pierry Oliveira