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Quarentena de jovens em áreas ricas é 7 vezes maior do que nas mais pobres em SP


O início da quarentena para combater a expansão da Covid-19 foi executada de forma extremamente desigual na cidade de São Paulo: entre os 24 distritos mais ricos, o número de viagens da população jovem caiu 42% após o início da medida. Nos 24 mais pobres, apenas 5%.

O levantamento foi feito pela Folha, com base em dados de movimentação de três milhões de celulares na cidade, fornecidos pelo Covid Radar, coletivo de 40 empresas e instituições que compartilham informações para enfrentar a pandemia.

A análise compara a movimentação das pessoas em dois períodos, de 2 a 14 de março (antes da quarentena) em relação à janela entre 24/3 e 6/4, já com o isolamento social determinado pelo governo estadual (foram considerados apenas dias úteis).

A Vila Mariana (zona sul) foi o distrito em que houve a maior queda na movimentação. A diminuição entre os dois períodos foi de 93%.

Na outra ponta estão Marsilac (distrito pouco habitado no extremo da zona sul) e Lajeado (zona leste), onde a movimentação chegou a subir 9% e 3% após o início da quarentena, respectivamente.

A renda média familiar na Vila Mariana é o triplo do registrado em Marsilac e Lajeado.

Na base de dados avaliada, a população entre 18 e 34 representa 83% da amostra. Os demais estão acima dessa faixa etária. Considerou-se como movimentação os aparelhos que se deslocaram para diferentes CEPs ao longo do dia ou que tenham saído do bairro.

Desde o mês passado, a Folha vem publicando reportagens que mostram as dificuldades de se seguir o isolamento social nas regiões mais pobres da cidade.

Um dos problemas é a moradia nessas áreas, em geral pequenas para um grande número de pessoas e com estrutura precária (há quase dez vezes mais domicílios em favelas em Lajeado do que na Vila Mariana). A situação dificulta que as pessoas permaneçam dentro das casas.

Outra dificuldade é o perfil dos trabalhos disponíveis para os moradores dessas áreas, difíceis de serem executados de casa, como de porteiros, seguranças e de entregadores.

Pesquisa do Datafolha divulgada na última quarta (29) mostrou queda no apoio popular ao distanciamento social no país. A população mais rica é a que declara maior oposição às medidas, embora seja a que mais afirme cumprir o isolamento.

Relatórios da Prefeitura de São Paulo indicam que também é na periferia onde tem havido mais mortes causadas pelo novo coronavírus.

Sapopemba e Brasilândia estão entre os locais com mais óbitos. Essas duas regiões estão no grupo de 21 distritos onde menos havia caído a movimentação dos jovens (num total de 97, presentes na base analisada pela reportagem).

Apesar de haver convergência entre distritos com menos adesão à quarentena e os com mais mortes pelo novo coronavírus, os dados analisados pela Folha não são suficientes para dizer que há relação direta entre os dois fenômenos. Outras condições podem ter influenciado também, como a situação da saúde das pessoas.

Um outro fator que pode ter influenciado a baixa adesão inicial à quarentena na periferia foi que a doença atingiu primeiro o centro expandido.

O primeiro caso confirmado do país ocorreu em 26/2, de um paciente de São Paulo que havia visitado a Lombardia (Itália), então epicentro da doença. Ele ficou internado no hospital Albert Einstein, um dos melhores do país, e se recuperou.

Uma observação possível com os dados de celulares é que a movimentação nos distritos pobres foi mantida devido ao fluxo dentro das próprias regiões. Por outro lado, caíram as viagens em direção ao centro expandido.

Outra observação que os dados trazem é que os distritos mais pobres, apesar de terem aderido menos no começo da quarentena, vinham apresentando aumento à adesão nos primeiros dias de abril.

Os dados analisados pela Folha são anonimizados, ou seja, não é possível identificar quem fez as viagens. Os celulares são agrupados, para que não se saiba o trajeto individual de nenhum aparelho.

A plataforma Radar Covid, que forneceu os dados à reportagem, conta com representantes de instituições como Serasa Experian, Amazon e USP, que contribuem de diferentes formas na iniciativa.​

Fonte: Folha de São Paulo

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