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Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens realiza, na ABIA, Oficina de Capacitação de Jovens Multiplicadores


Foi realizada na tarde da última terça feira (06/06), das 14h00 às 18h00, na Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), no Centro (RJ), o primeiro dia da Oficina de Capacitação de Jovens Multiplicadores (OCJM), do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens. Com o objetivo de mobilizar jovens e adultos para a formação e capacitação acerca de diversos temas, desde a diversidade sexual, gênero, HIV e AIDS até passar pela Comunicação e o Ativismo Cultural, o curso reuniu pouco mais de uma dezena de participantes no Salão Betinho.

Organizado pelo coordenador de projetos Vagner de Almeida, junto com seus assistentes Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho, a OCJM contou com a presença de Richard Parker, diretor-presidente da instituição, e foi aberta com uma indagação acerca dos motivos que levaram aqueles ali presentes a participarem da ação. Empoderamento, conhecimento, multiplicação, estudo acadêmico e de saúde foram os motivos mais citados como determinantes para a inscrição. Parker, em seguida, abriu as deliberações do primeiro módulo do curso explicando um pouco sobre a criação de trajetória da ABIA através de sua fundação pelo sociólogo e ativista Herbert de Sousa, o Betinho, os primeiros casos de AIDS e sua epidemiologia como forma de elucidação para os recém chegados à instituição. “Um dos primeiros grandes projetos sobre sexualidade na ABIA foi o HSH, voltado para homens gays e também aqueles que não necessariamente eram gays, mas encontravam-se vulneráveis a infecção”, disse ele. E ressaltou: “A AIDS é movida pela desigualdade social, onde tem discriminação de gênero, racial, sexual. Elas estão intimamente relacionadas e não se pode falar de AIDS sem abordar as vulnerabilidades à epidemia”, disse ele sobre os esforços e objetivos cotidianos do trabalho que servirão como base para esta primeira parte da Capacitação focada na temática da Diversidade Sexual, Gênero e Homofobia.

Sobre isto, Almeida enfatizou como a epidemia de AIDS e os palavreados anteriormente pejorativos, proibidos e de cunho sexual foram, ao longo do tempo, ressignificados e assumiram novas funções linguísticas – dentro e fora da comunidade LGBT. A partir disso, cada integrante recebeu uma espécie de glossário com a reunião de algumas novas terminologias sexuais e comportamentais utilizadas. “Desde a mais tenra infância esses tipos de palavras, assuntos e situações são tratados de forma distante, diferente. Havia uma preocupação especial dos meus pais para com a sexualidade em relação a mim, desde os meus seis anos, que me recordo, ao perguntar numa mesa de pizzaria o que era sexo anal”, revelou o estudante Jorge Luís Miguel sobre as visões e tratamentos conservadores dados por sua família quando se defrontava com esses eixos. Para Almeida, muitos jovens passam pelo desconhecimento a partir disso, pois tudo é trabalhado de maneira muito formal e primária também naquele saber relacionado a Educação Sexual. “Essa coisa de falar, criar espaço para falar abertamente de sexualidade e não aceitar esse silêncio como forma de repressão é uma das coisas mais importantes aprendidas e aliadas da epidemia de AIDS nessa conjuntura de Silêncio = Morte”, pontuou Parker.

“Quando a gente para e vê o outro, entender o outro e ver todo o seu contexto, você deixa de julgar. Isso é muito importante, pois nós já crescemos com todas as influências e formação do machismo e etc”, afirmou a assistente social Cléo Oliveira. E completou: “temos que começar a parar de julgar o outro a partir de nossas ações”. Segundo o coordenardor de Projetos Juan Carlos Raxach, o que acontece no Brasil com as questões de gênero e sexualidade, atualmente, é um silenciamento e uma posição conservadora ante as eficazes respostas e exemplos de outrora do país. Incômoda por natureza, numa sociedade com tendências moralistas e cerceadora sobre tudo aquilo taxado como tabu, a opressão da sexualidade e gênero configura-se como um dos malefícios as questões epidemiológicas e juvenis, quando estes mesmo jovens (gays ou não) são responsabilizados por seus atos mediante questões não trabalhadas social e institucionalmente. “A sexualidade é muito perversa de acordo com o ponto de vista do seu olhar. E muita das vezes a vítima ou aquela que não está dentro do padrão ainda é a culpada”, esbravejou Almeida. Com tantos temas engessados, a informação é a única forma instrumentalizada de desconstrução do senso comum, saindo do acadêmico e partindo para a linguagem popular. “E porque a mídia não pode ajudar nisso? Porque só se fala de camisinha no 1º de dezembro e não da vida do soropositivo?”, questionou o participante Fabiano Silva. Respondendo, o coordenador da Oficina afirmou que “a mídia, muita das vezes, é perversa. Só passa, cobre e exibe aquilo que ela quer. Mas eu também não vejo isso num baile funk, numa festa. Então, a sociedade acompanha a mídia”. Além disso, na observação de Willams Santos, o HIV e a AIDS não é pauta do jovem contemporâneo, pois a autoestima está muito baixa – especialmente no contexto em que vivemos – e “por isso mesmo não se consegue mal planejar a vida para daqui há um ano, quiçá preocupar-se com isso”.

Assunto também pautado e de destaque na OCJM foi a sexualidade no âmbito familiar, isto é, como a relação com a família é desestruturada ou atingida pela não heteronormatividade. Com pré-conceitos já arraigados, muitos LGBT’’s (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), especialmente os mais jovens, quando se descobrem são expostos pelos entes mais próximos e a questão da homofobia transpassa frontreiras, com julgamentos a partir de apontamentos moralistas regidos pela religião, geralmente. “É muito importante vocês terem essa consciência de que precisam empoderar-se do conhecimento, da informação e até da sua independência, ou seja, que terá que migrar até para outro estado como o Jorge Luís fez, por exemplo. Não é fácil”, vociferou Almeida. Para as mulheres cisgêneros presentes (identificadas com o gênero com o qual nasceram), a reprodução cultural de suas mães lhes foram passadas com imposições e restrições quanto a métodos contraceptivos, sexo, prevenção e relacionamentos. “Eu só fui num ginecologista na minha vida aos 21 anos e sozinha, porque na cabeça da minha mãe eu acho que ela acreditava que estaria me estimulando (ao sexo). E com isso eu tinha que aprender e saber algo com minhas amigas num grupo, parecia um tira teima”, observou a psicóloga Stephani Pereira. Tira teima foi um termo que se encaixou com propriedade aos questionamentos dos jovens e adultos da Capacitação quanto ao aprendizado das novas classificações e/ou terminologias sexuais e comportamentais. Diferenças entre travesti e transexual, cisgênero, não binário e outros são novos (e difíceis) conceitos para muitas pessoas.

Questionado por um dos participantes sobre como absorver essas novas tendências e multiplicá-la em seus espaços de maneira mais simples, Parker afirmou que “é preciso levar em consideração o espaço cultural e social em que você está inserido. Não adianta chegar lá e simplesmente normatizar esses conceitos”, disse ele. E sobre o conceito da Homofobia o diretor presidente provocou os demais com as seguintes questões: é medo ou aversão? Crime ou agressão? Essas indagações para ele configuram-se como uma colocação do estigma sobre o outro para controlá-lo. Chamando os jovens e adultos para dialogarem sobre isso, opiniões desencontradas se apresentaram e suscitou a importância de discussão do tema. “Homofobia não é crime. Quantas vezes fomos ou somos preconceituosos, racistas e homofóbicos com outros pares? A injúria é crime, dar tiro em alguém é um crime. Mas as fobias não são crimes. Eu perdi essa batalha, mas não é crime”, pontuou Almeida. Segundo Salvador Côrrea, psicólogo e integrante da ABIA, “a psicologia define as fobias a partir de algumas reações e sensações no corpo. E uma pessoa que vive a homofobia está ligada mais a uma violência do que a uma fobia que desperte sudorese, ansiedade ou nervosismo ao ver algo pela primeira vez, por exemplo, que são alguns dos sinais típicos”, explicou.

Encerrando o primeiro dia da Oficina de Capacitação de Jovens Multiplicadores os jovens reuniram-se para uma foto coletiva e foram convidados para retornarem na próxima terça feira (13/06), das 14h00 ás 18h00, para o segundo módulo da ação sobre as Novas Tecnologias de Prevenção, A História da Epidemia de AIDS, Prevenção Combinada e o Século XXI com Richard Parker, Juan Carlos Raxach e Veriano Terto Jr.

 

Texto: Jean Pierry
Fotos: Vagner de Almeida

 

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