Warning: Use of undefined constant php - assumed 'php' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/storage/d/d2/36/abianovo/public_html/site/hshjovem/wp-content/themes/ultrabootstrap/header.php on line 108

Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA realiza oficina teatral no HEPAIDS 2017- “Que Preconceito você Trouxe hoje?”


Foi realizado de 26 a 29 de setembro, em Curitiba (PR), o 11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais com a temática da “Prevenção Combinada: multiplicando escolhas” organizado pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV e das Hepatites (DIAHV) e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, respectivamente. O evento teve como objetivo reunir a comunidade científica, a sociedade civil, as pessoas que vivem com o HIV e com as hepatites virais, profissionais de saúde e os gestores públicos, para discutir os avanços e os desafios da resposta brasileira, com uma abordagem cada vez mais integrada e voltada para as necessidades e características individuais de cada pessoa.

Um desses agentes sociais foi o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) – representando a Articulação Nacional de AIDS (ANAIDS) –  que teve a possibilidade de realizar a esquete teatral “Que Preconceito Você Trouxe Hoje?” com os participantes presentes. Organizado e comandado pelo coordenador de projetos Vagner de Almeida no palco Paulo Freire, no meio da Vila Social do HEPAIDS, o jogral expressionista caracterizou por provocar e instigar nos presentes os seus principais ou maiores preconceitos. Durante uma hora, a atividade centralizou as ações em torno de elementos textuais que representavam e expunham comentários racistas, sexistas, homofóbicos, transfóbicos e inúmeras outras formas de ser pejorativo para com alguém.

“Tragam seus preconceitos! Todos nós temos algum tipo de preconceito que não revelamos. É muito importante botarmos pra fora tudo aquilo que temos dentro de nós. Aquelas opressões que atinge a sociedade por serem negros, gordos, LGBT, afeminado, travesti, puta”, bradou Almeida em meio ao palco revestido e simbolizado por uma mandala. De início tímido, aos poucos os espectadores começaram a manifestar-se. A primeira a encarar o público e o microfone foi a jornalista Angélica Basthi. Durante seu expressionismo, ela exasperou o preconceito racial ao impunhar palavras como “sai daqui seu negrinho. Você não vale nada. Sujo!”. Apesar das fortes palavras, uma das propostas da Oficina “Que Preconceito Você Trouxe Hoje?” foi justamente trabalhar a auto estima, o fortalecimento psicológico e o acolhimento dos indivíduos afetados pelo sistema que os oprime.

Em seguida foi a vez de uma das representantes da sociedade civil, do movimento das prostitutas do Brasil, deixar a sua mensagem/protesto no palco. “Eu quero falar a respeito dos preconceitos que nós putas sofremos. Temos o direito de ser putas e sermos respeitadas por isso. Viva as putas! Viva a liberdade! Respeitem as putas!”. Mas um dos momentos de maior destaque ainda estava por vir. Após realizar a leitura de diversos cards com sentimentos e outras simbologias orais de cunho preconceituoso, Almeida trabalhou o estigma e cerceamento sofridos pela nudez ainda nos dias de hoje, “o que não deveria acontecer. A nudez é algo tão natural e ainda assim as pessoas consideram tabu e tratam como se fosse algo ruim ou proibido”.

Nudez

 A interação e palavras acima serviram de fomento para que o coordenador da ABIA provocasse a plateia com a seguinte pergunta: “quem teria coragem de ficar nu no palco?”. Para surpresa de todos o que assistiam a Oficina, com naturalidade e voluntariosamente, o jovem ativista e advogado Ozéias aceitou tirar a roupa no meio de todxs. Pouco a pouco ele se posicionou no meio da Vila Social e despiu-se. O ato gerou aplausos, gritarias, olhares curiosos, outros mais repressores e também fotos e vídeos. Em seguida, ele pediu a palavra. “Quero dizer que eu fiz isso aqui porque não tenho qualquer problema com meu corpo. Eu me sinto bem com ele, sou feliz com minhas qualidades e defeitos e acho que temos que ser todos assim. Nos aceitarmos e vivermos livre de padrões que querem nos empurrar”, afirmou ele. Novos aplausos. Apesar disso, a manifestação suscitou opiniões divergentes por todo o Hepaids entre aqueles que defenderam a nudez e aqueles que acharam exagerado o ato. Como diz Almeida “Toda Nudez Não Será Castigado” em protesto da neurose que paira nos dias de hoje no universo dos moralistas e fundamentalistas.

Após essa intervenção, foi a vez de uma outra integrante do movimento social marcar presença com sua fala sobre a soropositividade. “Fico muito incomodada quando ouço, até mesmo dentro do movimento social, as pessoas dizendo que quem tem HIV/AIDS é portador. Portador do que? Não portamos nada. E aí eu pergunto a vocês: o que nós somos? Somos pessoas vivendo e convivendo com o vírus HIV e a AIDS. Eu sou uma pessoa comum, vivo minha vida e não gosto de ser caracterizada como portando alguma coisa”, criticou.

Durante o jogo teatral uma jovem surpreendeu e emocionou todxs ao revelar que descobriu o que era preconceito ao ouvir de seu médico que ela deveria ter amor próprio, já que havia descoberto recentemente que seu parceiro era soropositivo, e a mesma muito consciente de suas escolhas o respondeu que “ o seu amor próprio estava em usar o preservativo. ” A fala arrancou muitos aplausos daqueles que estavam na Vila Social.

“Quero agradecer a todos vocês que estiveram aqui presentes e participando de nossa atividade. Para nós da ABIA é muito importante trabalharmos todos esses temas, especialmente sobre as opressões e preconceitos. Espero que possam multiplicar tudo isso aqui em seus espaços, em suas comunidades, seus lugares de convivência. Viva a Vida!”, exclamou Almeida encerrando sua Oficina no tilintar de um triângulo.

P.S: as fotos da Oficina – principalmente as que continham a nudez de Oséias – foram bloqueadas do Facebook, mesmo sendo postadas com a edição necessária (sem serem explícitas) para a rede social.

Texto: Jean Pierre Oliveira, Jessica Marinho, Vagner de Almeida

 

%d blogueiros gostam disto: