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Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA comenta matéria sobre o aumento de PEP pós-carnaval


Em matéria publicada na última quinta-feira (15/02) em seu blog o jornalista Paulo Sampaio do UOL chama a atenção para o aumento da procura da “pílula do dia seguinte do HIV”, também conhecida como PEP (Profilaxia Pós Exposição), após o carnaval no Serviço Público de Saúde de São Paulo.

Na reportagem o jornalista evidencia a busca, muitas vezes desesperada, motivada por situações de exposição sexual durante a folia. Sampaio percorreu diversas unidades da capital paulista, entre elas o Hospital Emilio Ribas, referência no atendimento de infectologia e tratamento do HIV. Durante quatro horas e após 23 entrevistas o profissional observou uma procura maior de jovens homossexuais, heterossexuais e um bissexual (não assumido).  A falta de mulheres (heteros, bis e lésbicas) em busca do medicamento surpreendeu o jornalista.

Ao longo do texto Sampaio procurou destacar as principais histórias que o marcaram durante a estadia nas unidades de saúde.

Uma das boas observações no contexto das histórias diz respeito a forma como a informação sobre a PEP circula, já que existiu um aumento na procura do método. No entanto, o mesmo alerta para a falta de conhecimento das pessoas sobre as situações em que a mesma deve ser administrada. Isto é, a PEP foi criada para o uso em até 72 horas como forma de prevenir a infecção por HIV quando determinadas barreiras fossem rompidas durante o sexo (gozo interno, camisinha que rasgou ou furou, preservativo fora da validade e também por profissionais de saúde quando expostos a acidentes perfurocortantes) ou até para casos de abuso sexual (estupro). A PEP é administrada durante 28 dias por via oral e deve ser acompanhada por três meses pela equipe de saúde do centro ou pronto-socorro.

Apesar da matéria ser muito informativa e necessária na atual situação da epidemia dentro do país é necessário esclarecer alguns pontos que ficam em aberto ou nas entrelinhas ao longo da leitura:

O primeiro ponto que chama a atenção está na fala da coordenadora adjunta do programa estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) /Aids, Rosa de Alencar Souza que afirma “ a probabilidade de transmissão entre homossexuais é maior porque é o grupo onde há mais pessoas infectadas” e completa com os seguintes dados epidemiológicos “ a taxa de gays infectados é de 20%, ante 0,4% entre heterossexuais.” Na primeira fala existe o equívoco que reforça a classificação de grupo de risco quando na verdade o que existe é o comportamento de risco inerente a qualquer pessoa independente da orientação sexual. Já no segundo trecho, ainda que exista essa discrepância, isso não significa necessariamente que esses homossexuais sejam os mais infectados pois os mesmos 20% podem ter suas cargas virais indetectáveis (quando o vírus se encontra em níveis baixíssimos de transmissão no organismo). Deve-se existir um cuidado maior ao falar e considerar os muitos estilos e comportamentos sexuais de diversos grupos para que não haja uma generalização ou padrão das formas de se relacionar com um ou mais parceiros. Do ponto de vista epidemiológico, a fala da Rosa Alencar está correta, no entanto, este dado deve ser relativizado, para evitar generalizações que podem reforçar juízos de valor negativos e representações equivocadas sobre grupos e populações já equivocadas.  Apesar da alta prevalência entre segmentos da população homossexual, há sempre que lembrar, que existe um número expressivo de outros segmentos de HSH que tem relações homossexuais sem risco para o HIV, como masturbação mútua, muitas vezes em cinemas, banheiros, parques etc.  Existem outros que vivem relações monogâmicas de longa duração, outros que são abstinentes em diferentes períodos da vida, e outros que preferem sexo virtual.  É importante considerar a diversidade de práticas sexuais e estilos de vida no mundo homossexual masculino, para que o dado epidemiológico não termine por assumir um caráter absoluto na hora de pensar e representar a sexualidade e os potencias de risco para infecção ao HIV.

  • Em diversos momentos o jornalista relata casos onde os indivíduos que ali estavam à procura da PEP afirmaram que faziam o uso da camisinha, mas que a mesma estourou durante o ato. Entretanto em matéria publicada no dia 06/02 no Jornal O Globo deixa claro que o número de camisinhas que estouram durante a relação sexual é muito pequena, pois durante o carnaval foram realizados diversos testes pelos principais órgãos de qualidade do país com as mais de 20 marcas de preservativos comercializados no Brasil, além da que o Governo Federal oferece gratuitamente nos postos, onde nenhuma foi reprovada. Tal fato demonstra que possivelmente as formas que os jovens vêm utilizando a camisinha não está sendo devidamente segura o que reforça uma necessidade de intensificação de campanhas ou ainda educação sexual.
  • Outro momento que chama a atenção é o uso banalizado da PEP como forma de prevenção ao HIV ou “pílula do dia seguinte do HIV”, conforme descrito no título, que é um outro ponto a ser questionado. O uso indiscriminado e a insistência apesar de não ser necessária em alguns casos apontados revela a falta de informação sobre o método devido a uma ineficiência governamental, que não promove os devidos esclarecimentos sobre o importante tratamento e o seu correto uso. Diferentemente de uma pílula anticoncepcional, de uso mais constante e frequente, a PEP não deve ser utilizada de forma indiscriminada, e somente em casos específicos.  Representá-la como pílula do dia seguinte, por parecer que este método seria similar ao método anticoncepcional, só acarreta em mais confusão e não ajuda a apontar os momentos, finalidades e formas que em que a PEP pode ser utilizada.
  • Vale destacar que apesar do aumento da procura pelo uso da PEP as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) ainda continuam sendo encarada pelos jovens como algo de menor risco em relação ao HIV conforme percebe-se no texto. Tal fato alerta que não adianta mudar as siglas se a atitude e a falta de informação e divulgação continuarem sendo as mesmas. É importante ampliar o acesso e o nível de informação sobre as IST’s dentro do ambiente escolar para que assim exista maior consciência no uso do preservativo.

Assim podemos concluir que existe uma necessidade de investimento em novas formas de abordagem que se enquadrem no contexto atual em matéria de linguagem, acessibilidade, alcance e ousadia. De forma que a informação circule pelas diversas populações mais vulneráveis existentes dentro de um país tão plural como o Brasil. É necessário que as falas estigmatizadoras perante aqueles que buscam se proteger sejam deixadas de lado para que haja um acolhimento satisfatório e respeitoso. Perceber que o Sistema Único de Saúde, mesmo que sucateado, ainda serve como referência em atendimento para questões de HIV/AIDS, mas que sua qualidade também passa diante daqueles que o administram, ou seja, os profissionais de saúde.

Para obter maiores informações sobre onde encontrar a PEP em seu Estado acesse o link do Ministério da Saúde.

 

Texto: Jean Pierry e Jéssica Marinho

 

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