Em mais uma oportunidade o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) esteve presente numa escola para falar sobre Gênero, Sexualidade, Sexo, HIV/AIDS, Prevenção, Diversidade Sexual, Suicídio e outros temas. Vagner de Almeida (coordenador do projeto), Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho (assistentes do projeto) foram os responsáveis pela atividade.
Dessa vez o Projeto esteve na Escola Estadual Antônio Figueira de Almeida (AFA), em Nilópolis, na Baixada Fluminense, com intermédio do Assessor da Superintendência de Promoção da Igualdade Racial Junior Lima e da psicóloga Marcia Coelho. Alunos de duas turmas do 3º ano do ensino médio puderam assistir o documentário “Jovens, Cidadãos, Brasileiros e seus Desafios”, que conta diferentes histórias a partir das perspectivas de diversos jovens periféricos – LGBTs e não-LGBTs. “Enquanto jovens vocês têm direitos a serem exercidos. Por isso é importante saberem que são cidadãos plenos. E isso vocês têm que exercerem, principalmente enquanto jovens, a partir de três pilares: saúde, sexualidade e gênero. Esses elementos são integrados e importantes para essa fase da vida de descobertas e, por isso, ter conhecimento é fundamental para lidar com coisas como IST (infecções sexualmente transmissíveis), gravidez na adolescência e HIV”, afirmou Almeida antes de abrir a sessão de filme.
Debate
Após a sessão do documentário Almeida puxou um debate com os estudantes. Percebendo que durante a película os adolescentes ficaram agitados, o coordenador questionou o que mais havia incomodado neles. Ainda tímidos para responder, coube a diretora da escola Patrícia tomar a palavra e afirmar que “apesar de a realidade de muitos jovens dali (do filme) não ser uma realidade universal para outros jovens, não podemos esquecer que estamos numa sociedade plural. Então não podemos discriminar o outro por ser gay, por exemplo, só porque eu sou heterossexual”.
“Ouvir isso é muito importante porque eu conheço jovens do mundo inteiro. Seja do Rio de Janeiro, do Brasil e até do mundo como na África, nos EUA e Oceania, por exemplo. Então essa exclusão apontada no filme é a realidade estrutural de muitos. E só vocês podem mudar para melhor ou para pior tudo isso”, complementou as palavras Almeida dirigindo-se aos jovens. “Muitos aqui ficaram rindo durante o filme. Mas eu acho superimportante respeitar a sexualidade de alguém”, disse o jovem Michel*.
Já Diogo* criticou a “falta de maturidade de pessoas que não entendem o jeito do outro”. “Vocês sabem o que é um homem trans?”, indagou Almeida. Diante do silêncio, Jean Pierry Oliveira explicou que “para ficar mais fácil o esclarecimento é a mesma transição que foi feita pelo filho da Gretchen. Ele nasceu uma mulher chamada Tammy e hoje é “o” Tammy”. Outro ponto destacado por Vagner de Almeida foi a fala de reconhecimento dada aos professores. Segundo ele, “vocês são verdadeiros heróis por conseguirem conviver com tantas opiniões diferentes em sala de aula”. Um dos pilares preconizados pela ABIA, desde a sua fundação, a Solidariedade foi lembrada como o caminho para a empatia com o semelhante.
Tomaz*, um dos estudantes presentes, disse ter ficado muito tocado “pela menina que perdeu a amiga por conta das drogas. E isso é um fato que envolve todos nós aqui, principalmente, por onde moramos” pontuou. Contudo, Michael* acha que “muitos jovens não pensam no futuro e ainda atrapalham ou criticam aqueles que pensam”, completou.
A educação é transformadora. A escola não. Foi com essas palavras que o professor de Sociologia Leandro chamou a atenção dos adolescentes, principalmente pela agitação e despreocupação deles com os assuntos debatidos, para o que a vida os reserva pós-escola. “Estou vendo muitos de vocês rindo e fazendo pouco caso do que tá sendo falado e o que o filme mostrou. Só que vocês que estão rindo são os mesmos que já são pais, já são mães e são aqueles que em menos de seis meses estarão fora da escola, na porta de uma universidade e tendo que trabalhar em meio a tanto desemprego. Pensem nisso”, disse com ênfase para silêncio geral no auditório.
Ainda jovens e não tão distantes da realidade vivida pela maioria, Jean Pierry Oliveira compartilhou um pouco de seu histórico/trajetória para com os adolescentes como forma de criar empatia. “Venho de uma família onde meus pais sequer completaram o ensino fundamental porque ou eles estudavam ou trabalhavam pra ter o que comer. Sou o único da família e dos três filhos, porém, que conseguiu terminar os estudos e chegar numa universidade. Isso só foi possível porque eu sempre vi a educação como a porta de acesso para uma vida melhor para mim e meus pais. E vocês também tem como mudar a realidade de vocês através do estudo”.
Em seguida foi a vez de Jéssica Marinho, também assistente de projetos, relatar um pouco de sua vivência até aqui. “Eu sou filha de uma mãe que desde cedo teve que viver como cortadeira, como costureira. Eu via aquilo e sabia que não queria aquele mesmo futuro. E isso eu só poderia mudar estudando. Estou aqui vendo vocês e super me identifico com a turma do ‘fundão’, porque era a mesma galera com quem eu gostava de ficar e zoar na escola. Mas eu sempre gostei de ter coisa boa, sair pra beber, ter uma boa qualidade de vida e foi trabalhando e estudando que eu consegui isso”.
No final, foram sorteados e distribuídos kits do Projeto com cartilhas, folders, camisinhas e géis lubrificantes. Aqui vale um parêntese: após todo o desenrolar das atividades, apesar da boa receptividade dos gestores e dos alunos aos materiais, ao nos dirigirmos para a saída fomos informados que nossas publicações (Tudo Dentro, Homossexualidade: O que os Pais Precisam Saber e Prevenção Combinada) seriam recolhidos das salas. Questionados sobre o motivo, a direção adjunta da escola preferiu não responder e tratar o assunto de forma interna. O Projeto Diversidade, portanto, aguarda por maiores informações e justificativas acerca da recusa dos materiais educacionais e informativos.
Entretanto, vale ressaltar que a postura é antagônica uma vez que os professores presentes na palestra do AFA elogiaram a atividade e solicitaram o retorno da equipe em outros dias e horários, nos turnos da manhã e também da noite, inclusive com a prerrogativa de estender a ação positiva para turmas do 9º ano do ensino fundamental.
A atividade na Escola Estadual Antônio Figueira de Almeida (AFA) foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, em 2019, com apoio da MAC AIDS Fund.
*nomes fictícios
Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho
