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Projeto Diversidade Sexual realiza roda de conversa sobre “História da Prevenção, Sexo Seguro e Redução de Danos”


Foto: Vagner de Almeida

Na tarde da última quarta-feira (28/07) foi realizado via Zoom a roda de conversa “História da Prevenção, Sexo Seguro e Redução de Danos”, promovida pelo Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). Com coordenação de Vagner de Almeida e assistência de Jean PIerry Oliveira e o assessor de projetos Juan Carlos Raxach, o encontro contou com a participação do diretor-presidente da instituição Richard Parker.

O objetivo central foi tratar da história do ativismo para a prevenção do HIV/AIDS, com foco nos conceitos da redução de danos e do sexo seguro, nessas quatro décadas da epidemia e seus efeitos em períodos de pandemia. “Nesse sentido é importante lembrar que as duas metodologias mais eficazes na história da pandemia, foram criadas pelas pessoas vivendo com HIV e também por aquelas mais vulneráveis à epidemia”, disse Parker. Que completou: “mas o que significa hoje em dia o sexo seguro e a redução de danos?”, questionou. 

Para ele, o ativismo cultural foi fundamental para a criação e propagação desse método, pois através dele foram lançadas diversas publicações com caráter lúdico, com erotismo, objetividade, ilustrativos e direcionado para a comunidade gay e HSH (homens que fazem sexo com outros homens). “Foi uma tentativa de brincar e resistir a opressão da sociedade que nos culpavam pela AIDS e diziam que tínhamos que parar de fazer sexo para conter o HIV. E nós dissemos que não: que iríamos continuar gozando, com segurança e prevenindo o HIV. Foi uma prática comunitária – e ainda é da prevenção”, explicou.

Já sobre a redução de danos, Parker salienta que o método foi muito eficaz para a redução das vulnerabilidades de usuários de drogas, mas que na questão do sexo mais seguro a coisa foi reformulada e é entendida sobre outras bases. “Eu acho que há um gap entre o início da epidemia e o HIV hoje, (que) esquecido e negligenciado, com negacionismo e com falta de preservativos e outras necessidades primárias”, lamentou Vagner de Almeida.   

Redutor de danos com atuação dentro das políticas de AIDS e uso de álcool e outras drogas Myro Rolim, de Jacareí –  no interior de São Paulo -, contextualiza o histórico do meio em que atua. Segundo ele, “havia um equívoco muito grande das políticas de saúde porque achavam que a redução de danos estava ligado só a questões de saúde mental –  e havia esse equívoco dentro do HIV/AIDS também. Mas aí a gente sai dessa ideia, começando a pensar nas questões sociais de raça, sexualidade e gênero, a partir de 2010. Que começa a trazer como o álcool e outras drogas começa a trazer desafios e novas políticas de saúde para os territórios, com os CTAs (Centro de Testagem e Acolhimento) das cidades”, afirmou. Apesar disso, o profissional de saúde afirmou que o preconceito e o estigma para com as populações afetadas (LGBTs, usuários de drogas e pessoas em situação de rua) e que devem ser atendidas por esses serviços é grande e dificulta a qualidade e a efetividade da estratégia.

Jovem integrante da Rede de Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/AIDS de Minas Gerais, Rafael Sann, disse que a realidade da saúde integral é incompleta. Porque muitas vezes as estratégias de reduções de danos não levam em conta toda a integralidade da situação. Isto é, fazem atendimentos com populações em situação de rua, por exemplo, mas sequer realizam um exame de HIV.  “Redução de danos não é só saúde mental. E acho esse conceito muito regionalizado. Aqui em Belo Horizonte trabalhamos muito também com profissionais de sexo masculino e feminino, em saunas e nas casas de acolhimento dessas meninas também. Levando qualidade do serviço de saúde para quem precisa dela. Mas fora de BH não há esse tratamento com os usuários, como o Myro disse”, criticou. 

Paulo Giacomini, um dos participantes de São Paulo da roda, disse que vê uma hipocrisia em relação à redução de danos e em outros planos de prevenção. “Não se fala de promoção ao cuidado. Redução de danos não é só se preocupar com saúde mental, temos que fazer dessa e outras estratégias uma verdadeira mandala de prevenção à saúde”, pontuou. Já para a professora aposentada Sandra Britto, “redução de danos para mim está ligado à políticas públicas. Entendo autocuidado como algo muito particular. Eu já estive nesse lado, não de quem age em favor, mas no lado de quem usou durante muitos anos de vida drogas injetáveis e essa política de redução de danos não me alcançou. Talvez se tivesse me alcançado eu não teria contraído HIV nessa brincadeira de trocar seringas”, revelou.

“E esse conceito dentro do HIV/AIDS no Brasil, com a questão do preservativo, não adianta muito porque tem uma questão cultural de não usar o preservativo. Não adianta só oferecer opções. Tem que sentar, conversar, explicar e fazer a pessoa entender aquilo ali. É uma questão de saúde mental. Desculpa se eu estou tocando na realidade alguém, porque não sou profissional dessa área, mas falo do que eu vivi”, enfatizou. Mulher trans e ativista, Karen disse que conhece de perto a realidade da redução de danos com as outras pessoas trans, como por exemplo, com a questão da aplicação de silicone industrial. Mas o atendimento não se torna efetivo, por uma única questão: a falta do acolhimento.

“A travesti e a transexual não são acolhidas no serviço de saúde. O jovem e o idoso não são acolhidos. E aí nós vemos meninas trans com HIV e lipodistrofia, tomando anabolizante e querendo aplicar o silicone industrial. Usando drogas e tomando remédios. Então o acolhimento para a adesão é algo pelo qual eu brigo muito. No CRAS tem vários médicos nutricionistas, dentistas e me pergunto: quantos deles saem de seus consultórios e vão conversar com os pacientes na fila? Quantas pessoas com HIV se consultam para saber que alimentos podem ou não podem consumir? Então falta disso e eu falo isso porque o movimento social é hipócrita no Brasil e não olha para essas e outras questões da pessoa travesti e com HIV”, atestou.

Vagner de Almeida disse que depois de 40 anos o discurso de não muda: o jovem faz isso, a população tal faz aquilo, mas “temos que mudar nossos discursos frente a epidemia do HIV/AIDS, porque precisamos trabalhar no coletivo. Tenho preocupação com pessoas muito técnicas e que vivem em guetos. Por isso trabalho com juventudes, no plural, porque não se pode ficar no horizontal. Temos que discutir sadiamente. Mas essas falas da Sandra e da Karen, cada uma com suas perspectivas, foram muito interessantes”, afirmou.  

“Há um falso triunfalismo da biomedicina, que coloca as questões como se estivessem no controle, mas faltam as questões estruturais. Se não resolvermos ela não teremos êxito para com a epidemia de HIV/AIDS. A ideia é potencializar e efetivar as estratégias de redução de danos, que foram colocadas de diferentes formas, mas ainda carecem de promoção de direitos porque há uma amplitude de questões individuais deixadas de lado”, observou Juan Carlos Raxach.

“Esse é o objetivo que queremos alcançar na ABIA: debates ricos sobre o passado da epidemia, mas que ainda são presentes como a segurança negociada e como as pessoas estabelecem as reduções de risco, que devemos realizar na segunda quinzena de agosto. Temos que pensar como desigualdade social se estruturam e limitam nossas possibilidades de lutar contra tudo isso. E quero agradecer a presença de pessoas mais velhas e aquelas mais novas do ativismo e de fora dele, porque nesses tempos difíceis não é fácil nos vermos”, encerrou Richard Parker que contou com uma audiência de 42 presentes no Zoom.

A roda de conversa “História da Prevenção, Sexo Seguro e Redução de Danos” será a primeira de uma série que o Projeto Diversidade Sexual promete realizar sobre o histórico das quatro décadas do HIV/AIDS no Brasil e no mundo.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

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