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Projeto Diversidade Sexual realiza oficina com jovens ativistas e lançamento do Guia Online sobre ISTs


Foi realizada na última terça feira (26/03), no Scorial Hotel, no Flamengo, a “Oficina: Enfrentamento da Epidemia de AIDS no Brasil Contemporâneo” promovida pelo Projeto Diversidade Sexual Saúde e Direitos entre Jovens. De 09:00 às 18h30, jovens, ativistas, agentes sociais e demais representantes da sociedade civil de diversas regiões do Brasil reuniram-se para discussões e atividades diversas.

A abertura do encontro foi dirigida pelo diretor-presidente Richard Parker, Veriano Terto Jr., vice-presidente da ABIA, Vagner de Almeida e Juan Carlos Raxach, respectivamente coordenador e assessor do Projeto Diversidade Sexual. Além disso, os assistentes Jean Pierry e Jéssica Marinho também estavam presentes. “Vocês devem estar se perguntando quais são as pretensões desse encontro e o que nós buscamos com ele. Nós queremos a partir desse momento atual refletir sobre o panorama da pauta de HIV/AIDS dentro dos espaços da sociedade civil brasileira”, contou Parker sobre a importância de um encontro como este frente ao momento de escassez de politicas publicas voltadas para o HIV/AIDS. O antropólogo ainda indagou os participantes a pensarem ao longo do dia sobre “como nós resistimos dentro do quadro que estamos vivendo?”.

Em sua fala Terto Jr. Compartilhou a importancia do momento que resumiu como “ um intercâmbio de experiência de vozes.” O vice-presidente da ABIA alertou os presentes sobre a necessidade de estarmos todos juntos “ a gente só sobrevive lutando e é necessário que criemos essa cadeia de resistência nacional”.

Ainda durante a manhã o coordenador de projetos Vagner de Almeida fez uma breve apresentação sobre o histórico do projeto onde elucidou para os convidados através de fotografias toda uma trajetória de luta do movimento de HIV/AIDS desde a década de 80. Outro ponto-chave da fala de Almeida foi acerca do uso das mídias de massa para uma resposta mais expressiva frente a epidemia. Segundo o coordenador, é necessário que resgatemos a ousadia e inteligência para utilizarmos as novas de ferramentas de comunicação a nosso favor. Em seguida, foi aberto um espaço para que os jovens ativistas falassem um pouco mais sobre suas atividades e projetos sociais.

Oficina de Teatro Expressionista

O período da tarde foi iniciado com a atividade comandada pelo coordenador do Projeto Diversidade Sexual. Almeida convidou a todos que realizassem alguns exercícios criados por ele ao longo das Oficinas de Teatro Expressionista (OTE), na ABIA, e com a ajuda dos(as) mesmos(as) encenaram um ato chamado “Que Preconceito Você Trouxe Hoje?”.

O exercício tem como objetivo demonstrar o enfrentamento do estigma, da discriminação e do preconceito e dialoga com o tipo de ativismo realizado pelos participantes em seu estado. Os convidadxs foram desafiadxs para lerem os cartões com expressões pejorativas e, assim, aprenderem novas técnicas sobre como trabalhar opressões por meio da arte cênica.

Almeida finalizou a atividade alertando que “a mesma é um trabalho que traz ótimos resultados no futuro para se trabalhar com populações vulneráveis e estigmatizadas. Cada uma dessas palavras foram criadas pelo e durante o Projeto com os voluntários”, disse ele.

Através da Oficina de Teatro Expressionista, Almeida iniciou mais uma etapa do encontro com a pergunta “ Como tratar o estigma e a discriminação em ambientes jovens?”. Em roda os presentes compartilharam suas experiências. “ Eu comecei tem pouco tempo a trabalhar com pessoas privadas de liberdade (PPL) e no inicio tive alguns problemas com isso, porque eu tinha meus próprios preconceitos. E achava que só as pessoas negras estavam ali, mas lá eu vi um jovem branco e de classe média e não conseguia entender o motivo dele estar ali, porque nós somos levados a pensar assim.. Aí eu pude perceber e compreender outra realidade, inclusive de pessoas que estão ali e não sabem nem o motivo”, revelou Rafael Sann, da Rede Jovem de Minas Gerais.

Já Sandra Santos, pedagoga e fundadora da Fundação Poder Jovem compartilhou a realidade dura daqueles jovens infectado por transmissão vertical (da mãe para o filho) “que carregam muita culpa, uma culpa dupla. Deles e da família. E eu fui aprendendo a lidar com isso, o porque quando eu me formei achei que fosse lecionar e não trabalhar numa infectologia com pessoas HIV”, contou ela emocionada.

Já o Fundador da Casa 1, Iran Giusti, dividiu com os demais os percalços da vivência LGBT na casa de acolhimento. Segundo ele, “são muitos conflitos porque existem situações que passa pelo racismo, transfobia, sorofobia onde eu e a equipe temos que fazer uma intervenção, tipo pai mesmo, para evitar que saia de controle. Mas, existem limitações já que em certos casos eu posso orientar, mas não intervir.”, diz.

Lucrécia Borges, formada em geografia e ativista, de Tocantins afirmou que “ eu tenho três anos de transição de gênero e não é fácil ser trans. Ser eu. E muita gente fala que eu tenho passabilidade, que sou linda, não pareço trans, que não preciso sair de casa para militar, mas isso me incomoda. Será que eu vou sofrer a reprodução de preconceito ou normalização do próprio movimento? Não. Eu quero estar com as travestis negras, indígenas. Não quero ser padronizada”, atestou.

Com opiniões diversas e divergentes em determinados momentos os jovens argumentavam e defendiam suas formas de pensar a cada novo depoimento realizado.

Rio das Prevenções

A participação de Juan Carlos Raxach, assessor de projetos da ABIA e um dos coordenadores do Projeto Diversidade, foi iniciada através de um agradecimento sobre a oportunidade de participar da iniciativa, o compartilhou que desde 1983, ano de seu diagnóstico para o HIV, que voltou-se para o combate à infecção e introjetou a mesma como meta profissional e pessoal através de uma de suas principais vertentes: a prevenção.

Através de uma dinâmica estratégica ilustrativa, intitulada Rio das Prevenções, Raxach afirmou que “o conceito de Sexo Seguro foi inventado pelas comunidades populares, pelos grupos mais atingidos pela infecção. Não foi pela comunidade médica. E isso é muito importante”, frisou. Dentro desse curso do Rio das Prevenções vieram outros conceitos importantes como a Redução de danos (via práticas sexuais menos vulnerabilizadas como sexo sem penetração, o surgimento da camisinha masculina/externa e o Sexo mais Seguro), nos anos 80. A partir da próxima década, o Rio da Prevenção em sua apresentação evidenciou outras ferramentas no combate ao HIV e a AIDS, tal como a camisinha feminina (1993) e a Profilaxia pós-exposição (PEP), em 1996. “Mas é muito difícil ainda hoje você ter acesso a ela. Durante muito tempo ela foi direcionada somente para profissionais da saúde. Mas está disponível em inúmeras unidades pelos SUS”, contou ele.

Em 2000, a prevenção da transmissão vertical tornou-se outro aliado na epidemia com a redução e o combate de casos em que a criança se infecta através do parto ou amamentação. Próximo ao final do curso do Rio das Prevenções chegamos na PrEP (2012), que para o especialista “deveria ser ampliada e disponibilizada para todas as pessoas independente do que são. Nossas experiências devem ser transformadas em evidências”, observou. Tudo isso credencia o escopo da Prevenção Combinada, tido como um grande ponto chave em questões de políticas públicas para saúde (HIV/AIDS), mas que ainda esbarra em questões morais (vide a implementação da PrEP). “Na medida que existem métodos altamente eficazes, onde se toma um remédio e tudo acontece, o profissional de saúde determina quem pode e não pode tomar. Mas com isso ele esquece de outros quesitos dentro disso, como a compreensão das subjetividades dessas populações, impondo uma ótica normativa e prescritiva, sem a perspectiva dos Direitos Humanos”, refutou ele.

Ao fim do encontro os ativistas elucidaram aos demais a gratidão de estarem juntos naquele momento. “Gostaria de agradecer a todxs pelo acolhimento nestes dias. Amei conhecer alguns e reencontrar outros. Se ver de vez em quando é importante pra lembrarmos da importância da rede que compomos estando espalhando por esse nosso país”, começou Gustavo Córdoba., que concluiu sua participação no encontro afirmando que “Esses dias foram muito importantes pra que eu pudesse (re)pensar nossas políticas de prevenção e nossas atuação como movimento social frente ao Estado. Muitas vezes esquecemos de olhar criticamente para as políticas, devido as intenso sucateamento que nossas políticas tem sofrido. Sempre se contentando com as migalhas. Esse encontro, no todo, é muito eficaz nesse sentido. Podemos ouvir cada realidade, podemos ouvir as várias gerações , observamos as tensões que compõem nosso campo político, seja na saúde ou não.”

Lançamento do Guia Online sobre ISTs do Projeto Diversidade Sexual

Encerrando a oficina, mas não menos importante o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens lançou oficialmente o Guia Online sobre ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). O material encontra-se disponível no site do projeto. Juan Carlos Raxach, assessor de projetos “ queríamos que o material fosse simples e de fácil leitura para que as pessoas entendessem”, afirmou.

O Guia de “Sexo Mais Seguro – Prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis” é mais uma realização do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids e contou com o apoio da MAC AIDS Fund. Para fazer o download clique aqui.

Texto: Jéssica Marinho e Jean Pierry

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