Em alusão ao Dia Nacional pela Visibilidade Trans, comemorado todo dia 29 de janeiro, o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens realizou na última terça-feira (28/01) a exibição do filme Janaína Dutra – Uma Dama de Ferro, na sede da instituição, no Centro (RJ).
Dirigido por Vagner de Almeida, coordenador do projeto, o filme traça a vida e luta política de Janaína Dutra permeada por pobreza, transfobia e resistência da primeira advogada travesti com a carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no país.
Após a seção, durante o debate, Almeida destacou “a forma como ela era contemporânea já 20 anos atrás mostrando o quanto Janaína estava à frente do tempo. A Janaína perpassava por um sincretismo muito forte também e sinto que ela “dirigiu” o filme junto comigo…” E completou “ e tudo que falaram dela no filme é verdade ela era um arraso por onde passava. ”
Um aspecto importante da filmagem, gravado em 2000 e lançado em 2004, foi o fato de todos os familiares se referirem a advogada no masculino- e até o fato de a própria Janaina se intitular como “o travesti”.
Psicóloga, Penélope Esteves chamou atenção para o aspecto “de uma família atípica, vindo do interior do Ceará e com o tratamento que davam a ela, mesmo à chamando pelo nome masculino. Vejo que ela entendia como forma de carinho, e por isso não se importava”, afirmou.
Angélica Basthi, jornalista, trouxe outro aspecto referente a questão da identidade de gênero, ao afirmar que “ naquela época não tinha a reivindicação do nome social feminino como hoje. Não era tão forte, presente e necessário naquela época como hoje”.
“ Naquela época ela e outros lutavam pela dignidade da travesti, não por outra coisa. Hoje já se buscam outros direitos e naquela época não exigiam isso como conquista” respondeu Almeida.
Para a pesquisadora Carla Pereira o reconhecimento da feminilidade era o mais importante, segundo suas análises sobre Janaína. “ E ela como advogada, entre outras coisas, buscava quais eram os seus direitos” falou.
Questionado pela ativista Vera Caldeira sobre qual foi a motivação para filmar Janaína, o diretor disse que “ percebeu Janaina como uma história muito rica. Eu tinha acabado de fazer Borboletas da Vida e o GRAB (Grupo de Resistência Asa Branca) – instituto cearense – queria fazer uma homenagem a ela, depois de sua morte. E foi assim que aconteceu”, explicou.
A exibição do filme “Janaina Dutra- Uma Dama de Ferro” foi uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA em 2020, com apoio da MAC AIDS Fund.
Texto: Jéssica Marinho e Jean Pierry
Fotos: Vagner de Almeida