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Projeto Diversidade Sexual realiza capacitação sobre população trans no Rio sem Homofobia


Na tarde da última terça feira (19/11) o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) esteve presente no prédio da Central do Brasil, coração do Rio de Janeiro, para realizar uma capacitação sobre Saúde da população Trans com gestores estaduais da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSODH).

É nessa pasta que se encontra o projeto Rio sem Homofobia. A ação positiva contou com a presença dos funcionários do setor. Wescla Vasconcelos (assessora da Superintendência de Políticas LGBT do Estado do Rio de Janeiro) e Marcia Viana (assistente social), abriram os diálogos de boas vindas aos presentes, respectivamente. “Esperamos que esse momento seja uma oportunidade de estreitarmos uma parceria com o projeto e com a ABIA, que é uma organização tão importante para a luta do HIV/AIDS e a luta com os direitos da população LGBT e principalmente trans. E eu fico muito feliz de ter ajudado a construir esse Guia para as mulheres travestis e transexuais”, disse Wescla.

Em seguida, Marcia também se mostrou grata e feliz por esse momento e completou dizendo “que esse encontro seja uma tarde grandiosa para nos qualificarmos e atendermos a população LGBT com mais efetividade”, pontuou.

Apresentação

Coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens Vagner de Almeida – acompanhado no evento pelos assistentes Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho – iniciou sua apresentação chamando atenção para a historicidade do programa Rio sem Homofobia e os anos de parceria dos mesmos com a ABIA. “Voltar aqui é um momento feliz porque tem muita luta e história dentro do ativismo entre nós”, salientou. Caracterizado por não seguir o mais do mesmo, o coordenador deixou claro que abordar em seu projeto as Juventudes, no plural, “é uma forma de reconhecer diversas populações, porque não somos um só. Há várias formas de ser jovem e o projeto tem essa premissa”, explicou.

Um dos marcos das atividades do Projeto em 2019, o “Guia de Sexo mais Seguro para Mulheres Travestis e Transexuais” foi evidenciado. O material, que foi relançado na ocasião, contempla tanto mulheres trans redesignadas (operadas) como aquelas não redesignadas (não operadas) envolto numa linguagem clara, objetiva e com a ousadia necessária para informar. “Retratar essas mulheres travestis e transexuais é uma forma de levar informação, desconstruir o estigma”, disse Almeida.

Aliás, o estigma foi taxado como algo inerente, infelizmente, às vidas dessa população. “O estigma é algo que ninguém gosta. E vocês, enquanto trabalhadores que lidam diretamente com LGBTs, devem sempre bater nessa tecla”, completou Almeida. Outro elemento de desagravo é a discriminação. “Quando você começa a fazer com seu colega uma inferiorização, você deve rever seu ponto de vista. Durante um período de três anos eu consegui desconstruir isso na ABIA dentro das minhas oficinas. E isso é muito legal porque você respeita o direito do outro. Perguntar as pessoas como elas querem ser chamadas é fundamental”, relatou ele em alusão também à questão do nome social, que é uma das principais reivindicações do movimento trans.

Compreender esse primeiro ponto já é um grande passo para contribuir com a construção de outro aspecto destacável: a autoestima. “A qualidade da valorização do corpo e da própria aparência é diferenciada. E quando você trabalha a autoestima de uma dessas meninas, seja a que retirou o pênis, como a que adora o seu pênis, você mostra que ela é importante na sociedade”, disse o coordenador.

Um ponto de criticidade levantada na apresentação foi a singularidade das ações de muitos grupos e coletivos. “É muito difícil você ver alguém fugir da máxima do ‘eu fiz’, ‘minha parada gay’, ‘meu grupo’, ‘minha ONG’; Esqueceram do ‘nós’”. Uma das servidoras estaduais presentes respondeu que “aqui na secretaria temos como prerrogativa sempre usar o coletivo nas ações e práticas do dia a dia, justamente para evitar isso”.

“E mesmo assim Vagner temos que nos fortalecer diariamente, justamente por trabalharmos como uma população tão violentada e estigmatizada. Porque nós sofremos com o julgamento e o preconceito das outras pessoas também. Estou aqui há 10 anos como assistente social e junto com as demais meninas vivemos isso. Nós somos o suporte uma das outras para nos mantermos fortes”, desabafou Marcia Viana. “Isso é um erro. Porque vocês não têm a obrigação de serem o elo de vocês mesmas. Deveria ter profissionais de fora do elo para tratarem essas questões particulares e que vão derrubar a rigidez de vocês uma hora”, completou Almeida em tom de alerta.

Construção do Guia

“Construir um guia como esse não é fácil”. Foi essa a primeira definição passada para os/as participantes da palestra nas palavras de Vagner de Almeida. Segundo ele, os bastidores “trouxeram riquíssimas parcerias e todas as meninas foram voluntárias. Nenhuma delas foi obrigada a tirarem a roupa sem estarem confortáveis. E sabemos que nem sempre isso é fácil, principalmente para aquelas que têm pênis. Mas também para as redesignadas. Então sou muito grato à todas elas”, agradeceu.

Durante esse momento diversas imagens de toda a pré-produção, produção e pós-produção foram exibidas para que os presentes tivessem a noção de como se deu a construção e a formatação do material. Questionado sobre a repercussão e aceitação do trabalho, o coordenador do Projeto foi enfático. “Toda vez que esse trabalho é lançado – já que não há esse tipo de informativo nos lugares – vemos que chama atenção justamente por muitos não saberem o que é um mulher trans redesignada, (entender) o que é um homem trans (que será o próximo módulo). Porque, quem sabe o que é isso fora daqui?”, indagou.

Paulinha Única, transexual e coordenadora da diversidade sexual da Prefeitura de Mesquita, na Baixada Fluminense – uma das convidadas que assistiam o evento – pediu a palavra e fez uma revelação. “No início eu fui um pouco preconceituosa, não sei se preconceito é a palavra, mas (achava) vulgaridade. Eu não conseguia ver isso como tô (sic) vendo hoje ao ouvir vocês falando. Tô saindo daqui feliz e com um aprendizado enorme, em poucas horas, por ter mudado minha visão e opinião”. Ela ainda levantou a desconfiança que, talvez, por ser evangélica, seus valores neopentecostais tenham suscitado estranheza à primeira vista sobre o Guia de Sexo mais Seguro.

Estranheza também causou a nova nomenclatura utilizada para se referir aos preservativos – realçados pelo Guia e pela chamada de atenção de Wescla Vasconcelos: camisinha interna (feminina) e camisinha externa (masculina). “Eu não bombardeio as pessoas com todas essas terminologias porque isso confunde as pessoas. Eu procuro passar os saberes de forma geral”, relatou Almeida. Porém a assessora explicou que “esses termos surgiram mais para poder não sexualizar os corpos. Porque uma mulher travesti e homem gay podem usar a camisinha no pênis e no ânus, mas um homem trans ou uma mulher transexual redesignada não usaria. E como fica?”.

Prevenção do HIV e IST’s

O apagamento do trabalho sobre a prevenção, a banalização e foco do uso da camisinha externa (masculina) sobre a camisinha interna (feminina) e as novas tecnologias de prevenção – como PrEP (profilaxia pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição), por exemplo – são fatores estruturais com os quais deve-se lidar hoje em dia, segundo Almeida.

Por isso não se pode arrefecer no tocante ao HIV/AIDS e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), também assuntos bastante explorados nos Guias de Sexo mais Seguro – no físico e amplamente no digital. “O governo municipal, estadual e federal não está falando de IST e HIV/AIDS com as populações mais afetadas. E quem é que tá falando? Somos nós do movimento social”, lembrou.

Finalizando o evento Almeida encampou mais uma vez a importância da campanha “Direitos Sexuais são Direitos Humanos” e divulgou as próximas ações do Projeto Diversidade Sexual: 26/11 (Roda de conversa sobre saúde da população trans na ABIA) e 11/12 (entrega do Prêmio Reconhecimento no CCBB-RJ). “Espero rever vocês nessas ações e também que tenha sido um momento de muitas trocas de informações, experiências e conhecimentos para todos/as aqui. Assim como foi para nós do Projeto”, encerrou ele, distribuindo alguns exemplares do filme “Janaína Dutra”, Guias e folders.

A capacitação sobre Saúde da população Trans com gestores estaduais da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSODH) foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA em 2019.

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

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