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Projeto Diversidade Sexual marca presença no 1º Debate da Juventude na Prevenção da AIDS no IPRA


Foi realizado na tarde da última sexta feira (12), na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, no Instituto de Prevenção da AIDS (IPRA) o 1º Debate da Juventude na Prevenção da AIDS. Com a presença de ativistas, não ativistas, jovens, estudantes e profissionais da saúde o encontro teve como objetivo falar acerca da epidemia de HIV e AIDS dentro da vivência juvenil.

O primeiro debate da roda dinâmica girou em torno do questionamento “AIDS, prevenção ou negligência?”, sobre como as ações em prevenção, assistência e tratamento afetam os usuários e também como a negligência dos indivíduos perante sua vida sexual e o uso (ou não) do preservativo pode vulnerabilizá-los. “Quando a gente fala sobre isso a gente tá falando da nossa relação de cuidado com o outro. E aí eu pergunto: a gente faz sexo e conversa sobre isso? A gente negocia nossa relação? Como vai ser a nossa prevenção?”, indagou a assistente social Wanilsa de Oliveira da Policlínica Antônio Ribeiro Netto (PARN).

Já o costureiro Jaime disse que em seu atual casamento esse diálogo ocorre, até porque “nossa relação já tem três anos, ele é drag queen e nossa relação é aberta. E eu vejo que tem muita gente que vem pedir para ficar comigo ou com ele quer fazer sem camisinha. E isso para mim é (auto) negligência. E não é porque minha relação é aberta, que eu posso desejar outros, sair com alguém casado que necessariamente eu vou fazer sem camisinha”, afirmou. Juliana Reiche, do CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde), trouxe o foco para a juventude e disse que é preciso “fazer o jovem falar sobre o corpo e conhecer seus prazeres. Porque quando a gente vai nas escolas e pergunta sobre quais são seus prazeres, quantos buracos você tem no seu corpo e os alunos não sabem é porque não se fala sobre prevenção. E a questão da negociação da camisinha a gente explica para eles que isso não é prevenção. Isso tá ligado ao diálogo e a confiança no outro. Então explicamos que se o jovem acordou sobre usar ou não usar camisinha, que isso não é uma negligência – não é bem essa a palavra – é uma escolha. E toda escolha trás seus riscos. Então não podemos culpabilizar o outro”, explica com assertividade.

“O outro também está ensinando e nós estamos ensinando a eles. É uma relação construída. E aí a gente percebe que muita gente que falava que transar com camisinha era como chupar bala com papel é um mito. Uma história construída culturalmente. Porque seu tesão não está na camisinha, mas no aprendizado de sua relação com o outro”. Essas foram as palavras de Maurício Florêncio, psicólogo do IPRA, complementando a fala acima.  Para o assistente de projetos Jean Pierry Oliveira – um dos debatedores do encontro em substituição à Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens – uma das questões cruciais de toda essa problemática também diz respeito à chamada violência estrutural.

“Um jovem que vive em um território conflagrado, seja no Estácio, na Rocinha, no Pavão-Pavãozinho e outros ele passa por tantas situações, por tantos enfrentamentos no dia a dia – na questão da moradia, violência, alimentação, empregabilidade, mobilidade – que usar ou deixar de usar a camisinha, com o risco de se infectar por HIV, será o menos importante ou o menor dos problemas para ele(a)”, opina. Foi nesse momento que Luciano* revelou, pela primeira vez de maneira pública, que ele é soropositivo e busca apoio para seguir o tratamento. Segundo ele, após um período de trabalho no interior de São Paulo e a aproximação com uma denominação religiosa, ele que diz não saber “como e nem como eu peguei essa doença” foi induzido à abandonar os antirretrovirais porque disseram que ele estava “curado”. Sensibilizado e se auto culpabilizando por ter seguido a recomendação da igreja, ele ainda falou que “quando eu caí há pouco tempo doente o médico me disse que eu já tô no último esquema (de tratamento) e eu tenho medo, porque parece que eu não terei mais vida”.

Imediatamente, os demais participantes – tanto os vivendo como os convivendo com HIV – compartilharam suas experiências de vida e profissionais e refutaram essa ideia estigmatizante de Luciano de que ter HIV ou AIDS é sinônimo de morte. “E eu também digo para ele que relacionamento não é só sexo. É companhia, união, amor, carinho e respeito. Eu não me importo dele ser soropositivo. Amo ele da mesma forma”, declarou com afeto seu companheiro não soropositivo Marcos*.

O enfrentamento do indivíduo com HIV  

Esse foi o tópico seguinte do 1º Debate da Juventude na Prevenção da AIDS. Numa sociedade que ainda trata pessoas soropositivas – e muitas outras – com estigma, discriminação e preconceito esse momento serviu de base para que os presentes que vivem com HIV pudessem partilhar suas histórias. Discriminação na igreja, do parceiro, dentro de casa, nas ruas e no trabalho foram relatos similares entre os participantes, o que reforçou o caráter excludente da epidemia de HIV e AIDS, seja a pessoa jovem ou adulta.

Mas como se constrói a resistência diante desses dilemas? “Bem, eu acredito que primeiro é importante aliar-se aos pares e juntos unificarem forças, buscando inclusive no histórico do próprio movimento lá no passado, aquilo que deu certo e pode ser adaptado para a resistência de hoje. E, além disso, a arte é uma grande aliada pois ela liberta, provoca e faz refletir. O que aliada à informação empodera o indivíduo e o faz protagonizar sua luta. Estamos num momento em que ser diferente não é normal, onde os valores da família tradicional e políticas em nome de Deus, determinam quem vale e quem não vale. Então chegou a hora de usar menos a força e mais o jeito. Temos que ser didáticos e lutarmos não por aceitação daquilo que somos, mas sim pelo respeito que nos devem”, ressaltou Jean Pierry.

“Bem, agradeço a participação de todos vocês e espero que como movimento social continuemos juntos, lutando para enfrentar essa sociedade que nos oprime toda vez que cruzamos as portas das nossas instituições. Porque eu posso estar há muito tempo no movimento, mas vocês que são mais novos é que terão a responsabilidade de propagar informações e formar uma nova geração de ativistas e outras contribuições no futuro para todos aqueles que ainda estão por vir”, encerrou com esperança o ativista do IPRA Gelson de Albuquerque.

*nome fictício

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

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