Warning: Use of undefined constant php - assumed 'php' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/storage/d/d2/36/abianovo/public_html/site/hshjovem/wp-content/themes/ultrabootstrap/header.php on line 108

Projeto Diversidade Sexual leva debate sobre sexualidade para escola estadual em Nilópolis (RJ)


Na manhã da última quarta feira (29), o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) esteve presente na Baixada Fluminense. Convidados pelo professor Cleverson Fleming, que leciona Sociologia, Vagner de Almeida – coordenado do projeto – e Jean Pierry Oliveira – assistente do projeto – tiveram a responsabilidade de falar sobre sexualidade, gênero, saúde e assuntos correlatos com alunos da Escola Estadual Bertha D’Alessandro, em Nilópolis.

“Estamos aqui para ensinar nada a ninguém. Aqui todos nós aprendemos uns com os outros e queremos falar sobre sexualidade e Direitos Sexuais que são Direitos Humanos”, disse Almeida fazendo referência a última campanha do Projeto. No primeiro momento, das 08h40 às 10h30, duas turmas do 2º ano do ensino médio – aproximadamente 60 alunos – reuniram-se no auditório do colégio e debateram acerca das vivências da(s) juventude(s). Chamando atenção para questões como o machismo, sexismo e igualdade de direitos Almeida afirmou que “muitas meninas são reprimidas, não podem sentar de pernas abertas, pegar quem quiser, ao contrário dos meninos. Da mesma forma que há meninos mais afeminados e os mais truculentos (que também sofrem) e etc. Mas os direitos são para todos. E o prazer também”, contou ele. E completou: “afinal, todos nós gostamos de sentir prazer e nos masturbar. Isso também é um direito sexual”, para risadas dos jovens ainda encabulados.

Importância do Preservativo

“Quando vocês realmente começarem a gostar do seu corpo, você vai começar  agostar de usar isso”. Foi de maneira taxativa que Almeida falou sobre a importância do uso da camisinha como prevenção. Também ressaltou que “durante as relações entre vocês, deve-se respeitar o corpo das meninas. O corpo é dela e somente ela decide o que quer. Não dá para forçar ou exigir”, alertou. Questionando os jovens sobre seus conhecimentos sobre HIV e AIDS, um dos adolescentes afirmou que “a AIDS mata”. “Errado. Ela pode até matar, mas você também pode morrer de câncer, bala perdida, atropelamento e muitas outras situações”, rebateu o coordenador que ainda descortinou os antirretrovirais como tratamento e qualidade de vida para o portador soropositivo.

Reconhecendo a excepcionalidade da escola por permitir e trabalhar questões de sexualidade na educação de maneira mais aprofundada – principalmente em tempos de Escola sem Partido – Almeida pediu também que os jovens “tenham paciência com seus familiares quando eles forem intolerantes ou não compreenderem suas questões. Eles não tiveram, muitas das vezes, essa oportunidade que vocês estão tendo”. Em seguida, de forma didática, ele ensinou como manusear a camisinha, desde a forma correr de abrir a embalagem até a correta utilização no pênis (não havia camisinha feminina naquele momento).

 

Diversidade Sexual

Na efervescência da idade, é natural que desejos, prazeres e corpos evoluam e fiquem cada vez mais em evidência. Mas com isso também nasce novas formas de se relacionar, como as relações homossexuais (masculina e feminina) e a descoberta da identidade de gênero. Sobre isso, Almeida falou que “a violência contra aquele menino que muitos chamam de viadinho (sic), a menina de sapatão (sic), a travesti de traveco (sic) também fere e subtrai direitos”. E indagou: “quem aqui é homofóbico, lesbofóbico ou transfóbico?”. O silêncio que imperou nesse momento no auditório revelou a dificuldade (ou vergonha) de reconhecer suas intolerâncias com as diferenças – e os diferentes. “Ninguém levantou a mão, mas eu tenho certeza que todos nós temos algum preconceito e algo para melhorar”, ensinou.

“Eu também sou jovem como vocês, vim de comunidade e sou homossexual assumido. E acho que ser homofóbico ou transfóbico vai além de violência física ou verbal. Também passa pelo fato de reconhecermos nossa ignorância, ou seja, não sabermos algo. Eu mesmo como gay tinha dificuldade de lidar com gays afeminados. Até que eu parei e refleti sobre o porque daquela intolerância se eu também era e sou LGBT. E hoje, mesmo não estando 100% livre disso, faço por onde melhorar”, revelou Jean Pierry Oliveira arrancando aplausos dos jovens.

ISTs

“Quais são as formas mais fáceis de pegar uma DST?” Foi uma das importantes e básicas perguntas feitas por um dos alunos. “Hoje em dia as DST (doenças sexualmente transmissíveis) são chamadas de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e a forma de pegar é pelo sexo desprotegido. Vocês sabia quem podem pegar gonorreia na garganta? E que além dela existem outras como clamídia, sífilis etc? Então para quem já faz sexo, tem que usar corretamente o preservativo. E para quem não fez, é saber esperar o seu momento e estar bem informado”.

“E o que fazer com a ejaculação precoce?”, foi outra indagação. “Muitas vezes isso é causado por uma ansiedade, nervosismo ou algo do tipo. Então meninos, se o problema for esse, não precisem se cobrar tanto. Mas quando se torna algo crônico, busca-se tratamento”, explicou Almeida. Outra aluna perguntou se é normal dois homens sentirem medo de fazerem sexo pela primeira vez. Vagner de Almeida disse que “sentir medo não é normal, mas muitas pessoas se deixam levar pelo preconceito, porque dizem que não é normal beijar outro homem, numa noite ocasional ou não ocasional”.

Além disso, também surgiram outras questões sobre sexo anal, vaginal, anticoncepcional, alergia ao preservativo, engolir esperma etc.

HIV e AIDS

Nesse momento surgiram diversas outras perguntas. Uma delas foi sobre quando ou quanto tempo depois de fazer sexo (desprotegido) surge os sintomas. “Depende muito porque cada organismo manifesta o vírus de uma forma”, respondeu Vagner de Almeida. “Tem pessoas que podem sentir os sintomas após seis meses, por exemplo. Mas tem aquelas que convivem com o vírus por 10, 20 anos e só depois disso que descobre. Então não tem regra”, completou Jean Pierry Oliveira.

Almeida também disse que muitos jovens, por uma questão de violência estrutural, se submetem a pequenas violências onde troca-se sexo por algum bem de valor ou vantagem. A jovem Milena* perguntou se isso não seria prostituição. “Não se trata de prostituição porque a pessoa não faz porque quer. Ela acaba sendo levada até aquela situação de vulnerabilidade diante de sua realidade e não consegue entender os riscos do que faz ou que aquilo pode ser algo errado. Prostituição tem outro caráter”, pontuou.

Finalizando o debate com aqueles alunos, o coordenador de projetos pediu que cada um dos alunos deixassem por escrito algo sobre a palestra, sem necessidade de identificação, como registro documental da experiência.

3º Ano

Das 11h00 às 12h00 foi o momento de conversar com os jovens do último ano do ensino médio da Escola Estadual Bertha D’Alessandro. Um pouco mais velhos que os do segundo ano, os jovens receberam preservativos e géis ao chegarem no auditório e ficaram exaltados entre brincadeiras e zoações.

A repressão de se falar sobre sexo e os tabus envolvidos com ele foi o mote inicial do tema com as duas turmas. Isso fez com que a infecção pelo HIV/AIDS, gravidez na adolescência e outros quesitos se sobressaltem na juventude. “Vocês tem que se levarem a sério também. Porque se vocês não se importarem com vocês, quem irá?”, refletiu Almeida. Mais conscientes sobre o conceito do que são direitos sexuais, eles citaram o direito à opinião, ao próprio corpo, à escolha como alguns desses direitos. Para além disso, direitos sexuais são direitos humanos e por isso mesmo, “como foram duas meninas que responderam minha pergunta sobre direitos sexuais fica a dica para vocês meninos respeitarem e saberem que o corpo das meninas só pertencem à elas”, pediu.

“O diálogo tem barreiras, muitas vezes há conflitos na comunicação, seja na escola ou em casa”, ratificou Vagner. Isso muitas vezes se traduz num controle que também se vê claramente sobre os direitos sexuais, quando um homem pode transar sem camisa e/ou sentar de pernas abertas e as meninas não, por exemplo. “Tudo isso leva (na busca pela) igualdade. E por isso os direitos humanos é tão importante. Porque vocês tem direitos”, afirmou.

E quando as repressões sociais afetam a saúde mental e leva a depressão, é preciso estar atento e forte. “E podem procurar e ligar para o 188. Esse é o número do CVV (Centro de Valorização da Vida). Busquem ajuda. Depressão tem cura”, alertou Almeida diante dos inúmeros relatos de saúde mental debilitada por parte de alguns estudantes.

Dúvidas

Não muito diferente das primeiras duas turmas, as dúvidas iniciais giraram em torno do sexo oral. Um dos alunos, João*, quis saber se tem problema gozar na boca da namorada (ou namorado). “Existem várias questões nesse pergunta. Tem que avaliar se não há uma porta de entrada na boca como cárie, se não há uma inflamação ou sangramento exposto, se você não tem uma IST ou outras lesões na boca. HIV você não pega, mas riscos de outras infecções sempre existem. Você pode passar, mas também receber”, informou o profissional da ABIA reforçando a importância do sexo com preservativo. Por isso, novamente foi demonstrado manualmente como se utiliza a camisinha.

Logo em seguida também foi levantada uma dúvida sobre os riscos do sexo anal. “ A região é muito sensível e deve ser sempre protegida. Ou pelo menos na maioria das vezes. Numa relação desprotegida pode se romper um vaso e você se infectar”. A PEP (Profilaxia pós-exposição) também teve seu momento de esclarecimento. Coube ao jovem Jean Pierry Oliveira explicar o passo a passo. “Vocês devem procurar entre duas horas e 72 horas uma unidade de saúde mais próxima ou de referência, quando se exporem numa relação desprotegida ou violência sexual, para poderem ser avaliados e monitorados, fazendo uso por 27 dias de um antirretroviral que pode impedir a infecção pelo HIV’, explicou.

Uma curiosa pergunta também foi feita. “Comer fruta cítrica deixa o gozo com gosto diferente?” “Isso é mito. Temos que desconstruir isso para ter um entendimento melhor sobre as coisas”, rebateu Almeida. No momento em que foram também indagados sobre quem é LGBTfóbico diversos jovens nessa turma assumiram que foram ou tiveram comportamentos homofóbicos. “Eu assumo que ainda não sou totalmente livre da homofobia”, assumiu o adolescente André* com sinceridade.

“Você já pensou se eu te espetasse com uma agulha? Você ia sentir dor, certo? Se você fosse um negro num lugar cheio de gente branca e rica e fizessem pouco caso de você, como iria se sentir? Gays, lésbicas e outros pessoas LGBTs são tão cidadãos como você e todos nós e não merecem serem vítimas de sua mágoa. Isso é uma formação que você teve, mas que você pode aprender a ser diferente e não internalizar isso”, deixou como reflexão para ele – e todos os demais – o coordenador do Projeto Diversidade Sexual.

Encerrando o dia, assim como na primeira metade da manhã foi feito, foram sorteados dois kits com camisetas, filmes, cartilhas e pôsteres do Projeto para os alunos. O retorno a escola em Nilópolis está marcado para o dia 05/06, das 08h00 às 12h00, para exposição em Feira de Ciências dos materiais institucionais. Essa foi mais ação do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens em 2019 com apoio da  MAC AIDS Fund.

*nomes fictícios

Texto: Jean Pierry Oliveira

%d blogueiros gostam disto: