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Projeto Diversidade Sexual leva debate sobre Gênero, Sexualidade e HIV e AIDS para a UNISUAM


Na noite da última segunda feira (26/03), o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) teve a oportunidade de adentrar o espaço acadêmico para mais uma ação positiva em 2018.

Dessa vez tivemos como parceira o Centro Universitário Augusto Motta, mais conhecida como UNISUAM, em Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. Das 18h45 até às 21h00, foi realizada uma palestra com o mesmo nome do projeto com a participação na mesa de debates dos seus coordenadores Vagner de Almeida e Juan Carlos Raxach e também dos assistentes de projeto – e ex alunos de Comunicação Social da universidade – Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho. Além deles, a professora Queiti Oliveira e o professor Bruno Manzolillo também ajudaram a compor o corpo de debatores. No auditório Sylvia Bisaggio, 300 alunos dos cursos de Comunicação, Direito e Psicologia ocuparam com lotação – e atenção – máxima o espaço. A seção foi aberta pela professora de Comunicação e também mediadora Vanessa Paiva, que ressaltou em suas palavras a importância de um espaço acadêmico como o da UNISUAM se abrir para questões tão salutares e importantes especialmente em momentos tão conservadores vividos no Brasil. “A universidade não é somente para o conhecimento técnico da sua área de formação pretendida. Ela serve também para formar seres humanos conscientes de seu papel na sociedade e, portanto, é imprescindível que assuntos como o da Diversidade Sexual seja tratado aqui dentro, apesar de todas as polêmicas que isso causa lá fora”, afirmou ela.

Em seguida, Vagner de Almeida deu início a sua apresentação com uma homenagem a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, que foram executados recentemente no Estado. Almeida discursou sobre a importância de não deixarmos que as mortes passem em branco como tantas outras e pediu uma salva de palmas em memória, o que foi prontamente atendido pelos alunos da instituição. Após evidenciou o histórico e o início do Projeto HSH (Homens que fazem Sexo com Homens) nos idos dos anos 90, na ABIA, e a necessidade de se abrir espaço dentro da instituição (e da sociedade) para se abordar questões pertinentes à sexualidade, gênero e prevenção. A construção de uma história de luta e ativismo por respeito, cidadania e direitos também ganharam eco em sua voz durante a palestra e Almeida fez questão de elucidar para os jovens o histórico do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) no Brasil e no mundo, desde a revolta de Stonewall Inn em Nova York, até as primeiras incidências no Brasil. “Além disso, não podemos deixar de lado a questão da violência em nosso país. Somos ainda hoje a nação que mais assassina LGBT’s e por isso mesmo devemos valorizar momentos como esse, de se falar sobre a diversidade. Se hoje as coisas estão um pouco melhores, lá atrás não foi nada fácil. E vale ressaltar que no Brasil ainda não temos nenhum amparo constitucional que mapeie dados sobre a mortalidade da comunidade LGBT. Todas as referências existentes nesse sentido vêm de instituições como o Grupo Gay da Bahia (GGB), por exemplo, ou de organizações internacionais. Mas isso são coisas que chegam até eles, ou seja, imagine os demais casos silenciados e, portanto, subnotificados”, alertou o coordenador quanto a vitimização sofrida por todos os LGBT’s.

Com o silêncio capturado dos universitários no auditório, atentos a cada informação e detalhe sobre o tema, o diretor ainda passeou pela criação e atuação do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens e toda a sua produção textual e audiovisual atualmente existente. “Temos como característica um trabalho interdisciplinar dentro da ABIA e do Projeto, onde nada é vertical. Tudo é feito horizontalmente e por isso mesmo promovemos diversas ações com os jovens através de rodas de conversas, ensaios fotográficos, filmes, retiros e publicações do tipo boletins, cartilhas e calendários”, explicou ele salientando ainda que a ousadia e uma linguagem sem meios termos utilizados nas ações é o que permite o sucesso das atividades, pois se conecta diretamente com a vivência e realidade dos jovens em seus territórios.

 

Prevenção Combinada

Outro momento de destaque da palestra foi a apresentação sobre Prevenção Combinada, através do jovem e assistente de projetos Jean Pierry Oliveira. Após ressaltar a emoção de retornar ao local onde se formou, dessa vez como jornalista e através do Projeto, ele buscou resumir da maneira mais objetiva possível – dentro do tempo disponível – o conceito da Prevenção Combinada e seus desdobramentos no universo da juventude. Instigando os universitários Oliveira buscou saber quantos ali dentro já haviam escutado algo a respeito do tema ou de Novas Tecnologias de Prevenção. Com pouquíssimas manifestações (e braços levantados), ficou claro para ele – e todos os demais – o quanto a falta de informação pode ser prejudicial para a efetiva incorporação dessas metodologias no cotidiano das pessoas.  Daí a importância da abordagem sobre elementos como a PEP, PrEP, Tratamento como Prevenção, Preservativos (masculino e feminino), Carga Viral Indetectável e Transmissão Vertical de sua fala.

“É muito importante que todos vocês estejam conscientes de que todas essas novas tecnologias de prevenção foram criadas com a intenção de permitir com que cada um de nós possa administrar nossas vulnerabilidades, de acordo com nossa vida sexual. Além disso, essas possibilidades se relacionam tanto para pessoas soropositivas, mas também para aqueles que não são soropositivos, ou seja, a responsabilidade é de todos e não somente de grupos específicos”, orientou ele. E completou: “e eu acredito que os cursos aqui presentes, certamente, lidam ou em algum momento vão lidar com essas questões porque são importantes para suas formações. Com a Comunicação Social, porque é a partir da obtenção e do direito à informação que se cria o empoderamento. Com o Direito, porque se pensarmos em propriedade intelectual e na falta de medicamentos, estamos falando de assegurar direitos e justiça social. E com a Psicologia, naquilo que tange as pessoas vivendo e convivendo com HIV, que vivem na ponta de um processo muitas vezes desgastante ou desafiador, quando recém diagnosticados ou abalados pela saúde mental”, detalhou.

Ao final de sua apresentação, o professor de Direito Constitucional Bruno Manzolillo assumiu o microfone para poder esmiuçar com maior clareza alguns artigos jurídicos (normas, legislações, decretos, medidas provisórias etc.) que protegem ou não as questões LGBT’s. Homossexual assumido, ele deixou claro o quanto explora algumas temáticas da diversidade em suas aulas “mesmo que isso contrarie alguns alunos, pois estamos tratando do direito do outro ser respeitado por aquilo que ele simplesmente é”. Dessa forma, ele passeou por projetos de lei de amparo as pessoas Travestis e Transexuais, união e casamento homoafetivo, adoção homoafetiva, uso do nome social por transgêneros, criminalização da homofobia, atuação da OAB nas questões de diversidade etc. “Eu sou um gay cisgênero, branco, de classe média e não posso imaginar o sofrimento de outras pessoas que não tenham a mesma condição que eu. Então, por isso reafirmo a necessidade e o dever de cada um de nós de respeitar aquele que é diferente, independente daquilo que pensa ou acredita”, observou ele. “E para vocês que são de Direito eu acho fundamental assistirem o filme que o Projeto produziu sobre Janaína Dutra. Para quem a desconhece, ela simplesmente foi a primeira travesti, ou seja, a primeira mulher formada em Direito e com carteira da OAB com nome social no país”, relembrou Almeida, no que aguçou a curiosidade dos alunos e fizeram com que os exemplares levados do documentário, rapidamente se esgotassem antes do final da palestra.

Já a professora Queiti Oliveira abordou as consequências que a falta de políticas públicas, apoio (social e emocional) e direitos causam em adolescentes e jovens LGBT’s, psicologicamente falando. “É impressionante o número de suicídios causados pelo desamparo familiar, pelo estigma, discriminação e preconceito sofridos, pela violência física e emocional causada e que ninguém fala. Precisamos falar da saúde mental dessas pessoas e da necessidade do diálogo em casa, nas escolas, nas universidades e na sociedade para evitarmos tragédias como a do menino Iago”, disse ela citando o caso do adolescente do interior paulista que tirou a própria vida por não ser respeitado e aceito enquanto homossexual por seus familiares.

Ao fim das apresentações o coordenador, Juan Carlos Raxach pediu a palavra e deu a seguinte declaração: “ Eu vivo com HIV desde a década de 80 e passei por todas as fases da epidemia. O atual contexto político e social nos mostra a necessidade de repensarmos a nossa forma de enfrentamento. Devemos estar atentos ao fato da criminalização do HIV dentro da área jurídica que vem sendo pouco discutido. ” Além disso o coordenador falou a respeito sobre a importância da democratização da informação para que as pessoas não tenham o acesso negados as novas tecnologias de prevenção.

Próximo do encerramento, ainda houve tempo para um pequeno debate com os universitários e um deles, formando em Comunicação, se destacou por criticar a universidade pela ausência de respostas aos alunos que criticaram no ambiente virtual da página do evento o tema da palestra e da importância do apoio aos demais LGBT’s da instituição. “Só quero frisar que as gays, as sapatão, as bi, as trans e as travas já estão fazendo a revolução”, disse ele em cântico sendo efusivamente aplaudido pelos demais estudantes. Já outra universitária, que está no 5º período de Recursos Humanos e é evangélica salientou que a orientação sexual ou identidade das pessoas não pode ser motivo para a discriminação.

Ao fim do encontro a mediadora Vanessa Paiva agradeceu a parceria do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens com a universidade e solicitou que novos debates e palestras com a temática sejam realizados no local.

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