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Projeto Diversidade Sexual e Richard Parker participam de segundo módulo de formação em prevenção combinada da SES-RJ


Na última terça feira (13) a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) realizou o segundo módulo da Formação em Prevenção Combinada que está sendo ofertada para profissionais e gestores de saúde. Coordenado pela Gerência de IST/AIDS/HV o evento teve como propósito capacitar profissionais de saúde das Gerências Municipais de AIDS, da Atenção Primária, de CTA (Centro de Testagem e Acolhimento) e de Consultórios na Rua da Baixada Fluminense e outras regiões metropolitanas.

Richard Parker foi o ato de abertura do painel no Copacabana Mar Hotel, zona sul da cidade. Durante esse momento, os profissionais e gestores da saúde puderam entrar em contato com importantes noções acerca da prevenção, do sexo mais seguro e outros determinantes da epidemia de HIV/AIDS. “O exercício da solidariedade sempre foi um dos caminhos para o HIV/AID. O estigma é muito grande, sempre foi, e sem solidariedade não é possível que isso se reduza”, afirmou ele. O diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) também ressaltou que o conceito da Pedagogia da Prevenção é um dos principais mecanismos para o enfrentamento da síndrome. Isto é, “as abordagens das comunidades mais afetadas e suas estruturas comportamentais e estruturais. Afinal, o conceito de sexo seguro não foi inventado pelos médicos, mas sim pelas comunidades de base”, reconheceu.

Biomedicalização

Mas esse reconhecimento não é bem creditado como se deveria. Com o advento de novas tecnologias de prevenção como, por exemplo, PrEP (profilaxia pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição) – entre outras – Parker criticou o direcionamento massivo dado somente à biomedicalização no que tange a prevenção do HIV/AIDS. “As abordagens biomédicas são importantes. A camisinha é uma ferramenta biomédica. Mas as pessoas querem e estão transando sem camisinha. Isso tá ligado ao comportamento e exige mudanças. Por isso, a noção das abordagens comportamentais e estruturais também precisam ser levadas em conta para criar uma mudança na forma das pessoas fazerem sexo e (realizar) sua prevenção”, explicou.

Prevenção Combinada

Segundo Parker, a Prevenção Combinada antes de mais nada é um projeto político. Ou seja, é uma tentativa de resgatar alternativas à forte biomedicalização da epidemia. Isso porque a chamada “educação bancária, do passado, já não dá mais certo. Esse é um pouco do trabalho e do desafio da ABIA: criar uma educação, uma pedagogia mais acessível às pessoas, reconhecendo suas complexidades e oferecendo a eles possibilidades de adequarem sua vida sexual na melhor forma de prevenção possível”, disse ele.

E esse desafio vem acompanhado de algumas considerações importantes, segundo a perspectiva de Parker e da ABIA. Tais como:

  • Superação do desperdício da experiência;
  • Encarar a roupa nova do rei para o que de fato ela é;
  • Retorno às raízes do nosso sucesso:

– Luta Política

– Mobilização comunitária

– A defesa incansável dos Direitos Humanos

 

Reinventando a Prevenção: Quarta Década da Epidemia 

Esse é o conceito chave para uma boa resposta à epidemia de AIDS. Algumas ações passam pela reinvenção do conceito de prevenção, combate ao estigma, a discriminação e o preconceito, a devolução do “lócus de controle” da prevenção para as comunidades, respeito à sexualidade que reside em cada um de nós etc.

“Temos que olhar para as comunidades de base e chaves e reconhecermos seus saberes e práticas. Não será chegando com uma “bala mágica”, do alto de uma experiência médica que vamos mudar a realidade. O trabalho é conjunto e precisamos reduzir danos. Senão estamos fadados a fracassar”, finalizou Parker.

Prevenção Combinada: Dinâmicas e Movimentos

Esse foi o mote da apresentação do Assessor de projetos da ABIA Juan Carlos Raxach. Iniciando sua fala com o compartilhamento de sua vivência enquanto médico – portanto, profissional de saúde também – e soropositivo, Raxach direcionou a palestra para outros pormenores da prevenção combinada.

Utilizando a pedagogia da prevenção como base, o Rio das Prevenções – baseado na dinâmica Rio da Vida – elucidou com mais clareza para os participantes os conceitos tratados desde o início da formação continuada. “Em cada parte desse Rio existem momentos diferentes. Tem as questões médicas, comportamentais e estruturais. É o que chamamos de uma ‘caixa de ferramentas’, onde diversos métodos relacionam-se e podem ser usados conforme sua vida sexual”, pontuou.

Mas o curso desse rio, desde sua nascente até a maior afluência, passa por diversos caminhos. Nesse período cronológico tratado pelo Rio das Prevenções alguns métodos e práticas notabilizaram-se, como:

– Abstinência sexual;

– Sexo Seguro;

– Camisinha masculina;

– Redução de danos;

– Sexo mais Seguro;

– Camisinha feminina;

– PEP;

– PrEP;

– Tratamento como Prevenção (TcP) etc.

“É uma nova proposta para avaliarmos todo esse conhecimento. Podemos adaptar a estrutura para criarmos o Rio da Sexualidade. E isso é maravilhoso”, sugeriu Raxach com relação a utilização da dinâmica para outros fins. Mas o assessor deixou claro que a caixa de ferramentas não é inata. Isto significa que, você pode utilizar a mesma para criar o que ele intitulou de “projeto individual de linha de cuidado”.

“Ou seja, a partir de métodos já disponíveis e possíveis você pode inventar a sua própria caixinha, conforme suas práticas sexuais. É um aprendizado baseado na livre escolha do indivíduo”, afirmou. Diante de tudo isso ele alimenta algumas expectativas, como:

– Resgate da história;

– Diálogo intergeracional;

– Diálogo interseccional;

– Aprender dinamicamente sobre prevenção combinada.

 

Guias de Sexo Mais Seguro

Para que, de alguma forma, essas expectativas acima e outros anseios sejam alcançados são necessárias algumas ferramentas ou materiais de apoio. Sobre isso, Vagner de Almeida – coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens – foi o responsável pela fala. O cerne de sua apresentação foram os Guias de Sexo mais Seguro. “Não podemos usar a mesma linguagem para todos. Sempre falo isso. E, portanto, repensamos a forma de falar com as populações que queremos alcançar”, justificou.

Populações essas que foram contempladas dentro de suas especificidades, tais como os de Homens que fazem Sexo com outros Homens (HSH), Mulheres (cisgêneras) e Mulheres Travestis e Transexuais, que formam uma subdivisão do módulo 1 com foco na prevenção do HIV/AIDS. “Ainda temos um (sub)módulo para entregar que é para homens trans. E, o mais importante desse trabalho, é a ousadia e a capacidade de falarmos de sexo mais seguro e sexualidade de forma aberta, franca e acessível. A proibição de falar sobre sexo leva a situações catastróficas”, alertou. Além do módulo 1, o módulo 2 sobre Prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) já está disponível para consulta no site hshjovem.abiaids.org.br. O terceiro módulo será focado na Prevenção das Hepatites Virais e ainda não tem previsão de lançamento.

Almeida enfatizou ainda que toda a linguagem, construção textual e visual (fotos e ilustrações) dos Guias contaram com a colaboração de voluntários (as). “Esses guias, na verdade, servem para todos nós. Queremos alcançar aquelas pessoas que não tem entendimento acessível para absorver isso. E que também eles possam multiplicar esse conhecimento”, frisou. Além das versões físicas, o material também pode ser encontrado no virtual via site do Projeto Diversidade – conforme relatado acima. Isso, para o coordenador, traz uma outra dinâmica, pois “no site podemos ir incluindo novas e diversas terminologias. É algo dinâmico e progressivo, móvel onde cada um de vocês podem colaborar para enriquecer nosso linguajar”.

E antes de finalizar, deixou uma mensagem para os profissionais: “gostaria que vocês pudessem trabalhar de forma horizontal e não vertical, porque dessa forma vocês conseguem ampliar sua atuação, os resultados e torna o trabalho mais colaborativo, principalmente com jovens”.

Debate

Após as apresentações foi aberta a sessão de perguntas e respostas com o trio. Uma das moderadoras do evento – Ana Lúcia Spiassi, do UNAIDS – vocalizou a dúvida de muitos profissionais de saúde no salão de eventos: a diferença entre sexualidade e gênero. Coube a Parker, resumidamente, explicar a diferença.

“Cisgênera é uma pessoa, seja homem ou mulher, que está de acordo com sua biologia ao nascer. Tem conformidade com seu gênero. Já uma pessoa trans é aquela que nasce fora dessa conformidade, ou seja, uma mulher que se reconhece como homem ou um homem que se reconhece como mulher”, disse. Complementando a informação, Almeida chamou a atenção novamente para os Guias de Sexo mais Seguro no tocante ao tema gênero e sexualidade x identidade de gênero. “Inclusive temos mulheres trans redesignadas (operadas/cirurgiadas) no nosso Guia e é explícito como vocês conseguem notar essas novas possibilidades e esclarece um pouco dessas dúvidas”.

Parker chamou a atenção ainda para a constante mudança dos processos dos movimentos identitários e como é necessário acompanhar isso. “E diante disso é importante, sobretudo, respeitar esse indivíduo”, complementou Raxach. Segundo o assessor de projetos, o mais interessante de todos os Guias no que diz respeito à sexualidade e prevenção “é podermos trabalhar com pessoas reais. Corpos reais, longe da perfeição. E a importância disso para a prevenção e enfrentamento do HIV/AIDS”, elogiou.

Enfermeira de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Teresa Cristina elogiou o trabalho do Projeto Diversidade “por conseguirem entrar nas escolas e falar sobre o jovem e suas mudanças. Porque eu não consigo no meu dia a dia por conta da hipocrisia de muitos de nós”, criticou. No primeiro bloco ainda surgiram questionamentos sobre o processo de comunicação para divulgar as informações com públicos-alvo, como atrair jovens para os serviços de saúde e o fluxo x demanda para cirurgias de redesignação sexual e atendimento para pessoas trans no Estado.

“Temos que aprender a ouvir para falar. Se não tivermos essa capacidade fica difícil a engenharia do falar, do pensar e da educação. É preciso quebrar os paradigmas em nossa volta”, advertiu Almeida. Já para Raxach, o mais importante e que se relaciona com todas as indagações, é o acolhimento. Para ele, “não podemos deixar que nos descaracterize com nossa humanidade. É preciso ouvir e acolher as pessoas, estabelecer uma relação de confiança e sem moralismos”, taxou ele sendo aplaudido. “Eu acho que tá faltando respeito. As pessoas não estão mais respeitando o direito do outro ser o que elas querem”, lamentou Parker que em seguida agradeceu mais uma vez a oportunidade de participar do evento.

“Peço que repensem a forma como falamos algumas palavras. Não podemos achar que uma pessoa trans que queira fazer uma operação esteja se mutilando. Porque? Se for assim toda vez que cortamos nossas unhas, pintamos o cabelo e fazemos plásticas também estamos nos mutilando”, rechaçou Almeida em contraponto a uma má colocação dita por uma das profissionais de saúde, porém também grato pelo convite.

“Fico feliz de estar aqui compartilhando, principalmente ao lado dessas duas pessoas ao meu lado, que desde 1994 me acolheram e me permitiram estar na ABIA enfrentando a epidemia com solidariedade, que é a verdadeira cura”, finalizou enternecido o debate Juan Carlos Raxach.

 

 

Texto: Jean Pierry Oliveira
Fotos: Vagner de Almeida e Jean Pierry Oliveira

 

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