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Projeto Diversidade da ABIA realiza roda de conversa sobre impactos e novidades da IAS 2019


Na noite da última segunda feira (9) a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) realizou por intermédio do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, em sua sede no Centro (RJ), das 18h30 às 20h30, a Roda de Conversa “Grito da IAS 2019 – Esperamos Ecos”.

O evento teve como objetivo debater acerca das novidades, impactos, estudos e outras incidências reveladas durante a 10ª Conferência da Sociedade Internacional de AIDS (IAS) sobre Ciência do HIV, realizado entre os dias 21 e 24 de julho, no México.

Veriano Terto Jr (vice-presidente da ABIA) e Júlio Moreira (integrante do Grupo Arco-Íris – GAI), que estiveram na Cidade do México, foram dois dos palestrantes da noite. Ainda com eles esteve Felipe Carvalho do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI/ABIA).

Debate

O debate foi iniciado sobre a falta de entendimento da juventude sobre as questões abordadas na IAS 2019. Para Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade, Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, “ é difícil o jovem estar em locais e debates como esses quando não se é dada a devida importância ao conhecimento dessa pauta para os mesmos. ” Outra questão relevante é o fato do congresso focar demasiadamente em questões cientificas, que não necessariamente interessam ou fazem parte da realidade desses jovens, que muitas das vezes vivem à margem.

“Não adianta você falar de prevenção, principalmente com os jovens se ele passa fome. Se ele tá preocupado com a falta de emprego, com outros problemas. Isso deve ser levado em consideração”, tergiversou Júlio Moreira. Segundo ainda o ativista o atual contexto de violência e pauperização, em todos os sentidos, para além do esvaziamento da sociedade civil é um dos pontos nevrálgicos para revitalizar as ações. “Mas para que não pensemos que tudo tá perdido, na última semana tivemos uma grande procura, com direito a esgotamento de materiais, lá na Parada LGBT da Maré. Então isso é bom”, observou.

Alguns pontos chaves da IAS 2019 também mereceram outros destaques em sua fala, tais como:

  • Participação de mulheres e sobretudo jovens;
  • Questões relativas ao dolutegravir (um novo medicamento antirretroviral);
  • Impacto de determinados antirretrovirais durante a gravidez;
  • Anúncio de novas e promissoras medicações para o combate à epidemia;
  • PrEP (profilaxia pré-exposição) sob demanda;

 

A presença de pessoas trans na IAS deste ano foi sentida em maior número que em edições anteriores, porém e sobretudo dos EUA e Europa e de homens trans pesquisadores da área biomédica. “Isso, aliás, foi um ponto de crítica deles com relação aos outros países, que não tinham trans como representantes. E tivemos que fazer um contraponto, afinal, essa não é a nossa realidade no Brasil. Muitos desses homens trans por lá fizeram sua transição tardia, após o acesso e a conclusão de estudos e trabalho”, atestou Moreira.

Integrante do GTPI Felipe Carvalho também se mostrou animado com as diversas novidades apresentadas na Conferência. Apesar de não saber exatamente como essas tecnologias de ponta chegarão às pessoas, ele afirmou “que a função da ABIA é justamente essa: participar desses eventos e fazer uma ponte com a sociedade civil, esclarecendo numa outra linguagem as questões, com um processo de mobilização em torno dos temas. Só assim conseguiremos mostrar que estas realidades podem ser conquistadas por nós”.

Mediador de toda a conversa Almeida, repassou algumas lembranças de edições da IAS em que participou em países como África do Sul, Japão e Espanha – por exemplo – que tiveram importantes protestos. “Eu acho que o contexto conservador do Brasil e outros países pode e deve dificultar o debate sobre questões como o anel vaginal e vai influenciar nos preços”, preocupa-se Terto Jr. “Acredita-se que nisso, teremos uma prevenção para ricos e uma outra prevenção para pobres. Assim como já ocorre com o tratamento”, completou resignado.

“Nos EUA isso já é uma realidade. Em Manhattan, na cidade de Nova York, os gays de maioria branca fazem uso grande do medicamento (PrEP). Mas no Bronx – reduto negro – os gays não têm acesso”, criticou Almeida. Sobre a falta de interesse da sociedade civil com relação a essas e outras conferências e assuntos a psicóloga e ouvinte Penélope Esteves acredita que “nos anos 90 as pessoas tinham mais medo do HIV e a política, como um todo, era mais efervescente nesse sentido. Isso fazia a diferença”. “Hoje em dia é só dá um Google (para saber)”, completou Moreira.

Problemas estruturais

Para além de toda a conjuntura biomédica, a conjuntura estrutural também afasta e delimita o acesso às novas tecnologias de prevenção, como a PrEP, na atenção básica. Fatores como pobreza, prostituição, desemprego, raça, preconceito e estigma afastam o indivíduo – especialmente minorias – de usufruir do serviço. “Por isso o acolhimento e o aconselhamento são portas de entrada para um bom trabalho nesse sentido. Isso é um pouco do que o GAI vem tentando fazer em parceria com estudantes de Psicologia do IBMR e tem dado certo”, contou Moreira.

“E as pessoas que tem mais acesso aos movimentos sociais costumam ter mais adesão ao tratamento do que aquelas que vivem na clandestinidade e não tem essa relação com uma rede de apoio. Por isso são importantes o acolhimento, o aconselhamento e a atenção básica”, completou Terto Jr. Adesão também é difícil em outras instâncias. Nesse caso para falar de temas que são tidos como tabus. Sobre isso, Almeida contou que “nós estamos acessando algumas escolas, as últimas em Nilópolis, na Baixada Fluminense, mas porque estamos tendo que implorar para falar de gênero, sexualidade e AIDS com eles. Porque eles não vêm até nós”, criticou.

Outro ponto debatido e que foi falado na IAS e jogado na roda foi sobre a bi terapia. Isto é, o uso de duas e não três combinações de antirretrovirais para soropositivos. “Isso é uma discussão que precisa começar no Brasil. Porque continuar ofertando para as pessoas uma tri terapia que pode comprometer os ossos dela, por exemplo como os jovens, ao longo de sua vida? E não uma que diminui os danos à saúde dela?”, questionou Terto Jr. Além disso, os convidados alertaram sobre a necessidade de toda a população estar a par dessas discussões, pois de acordo com eles, somente em conjunto será possível chegar em um denominador comum.

A Roda de Conversa “Grito da IAS 2019 – Esperamos Ecos” foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens com apoio da MAC AIDS Fund em 2019.

Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho

Fotos: Vagner de Almeida

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