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Pedagogia da Prevenção e Guia de Sexo Mais Seguro são destaques em Seminário da SES-RJ


Foto: Divulgação

Foi realizado entre os dias 15/07 e 16/07, no Rio de Janeiro, o Seminário de Formação em Prevenção Combinada da Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ). Coordenado pela Gerência de IST/AIDS/HV o evento teve como propósito capacitar profissionais de saúde das Gerências Municipais de AIDS, da Atenção Primária, de CTA (Centro de Testagem e Acolhimento), Serviço de Atenção Especializada (SAE) e de Consultórios na Rua da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo.

O primeiro dia os assuntos objetivaram o enfoque nas questões dispostas sobre:

  • Paradigmas de prevenção do HIV no Brasil e no mundo em direção à Prevenção combinada,
  • A consolidação do TTP – Tratamento para Todas as Pessoas e metas 90-90-90 até 2020;
  • O uso da informação em saúde para o planejamento de ações e metas;
  • Linhas de cuidado e projeto singular de atenção;
  • A oferta de dispositivos de Prevenção Combinada para segmentos populacionais prioritários – vulnerabilidades individuais e relação terapêutica.

Todos esses temas acima citados tiveram apresentação de grupos de trabalhos, debates e avaliações feitas pelos participantes e gestores presentes.

Pedagogia da Prevenção e Guia de Sexo Mais Seguro

Foto: Vagner de Almeida

Já no segundo dia do Seminário a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) e o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens estiveram como convidados na ação. Richard Parker (diretor-presidente da instituição) juntamente com Vagner de Almeida e Juan Carlos Raxach (coordenadores do Projeto Diversidade), respectivamente, realizaram suas apresentações.

O importante e interessante conceito da Pedagogia da Prevenção foi elucidado por Parker como uma importante ferramenta no tocante a reinvenção da prevenção do HIV no século XXI e sua relação com o sexo seguro. “Esse conceito de sexo seguro nasceu dentro da comunidade, não foi um processo biomédico. Foram as comunidades mais afetadas como a dos homossexuais, por exemplo, no início da epidemia que iniciaram essa prática”, explicou ele. Enfático, Parker afirmou que a prevenção começou a perder o eixo quando as pessoas das comunidades afetadas deixaram de ser ouvidas e a questão passou a ser centralizada na comunidade científica e sua retórica da biomedicalização como solução para a epidemia. “Foi por isso que a partir dos anos 2000 nasceu um conceito chamado de Prevenção Combinada por pessoas preocupadas com a biomedicalização. Isto é, aliar diversas opções de prevenção para cercar o vírus e enfrentar as barreiras estruturais, comportamentais, de raça, gênero e outros aspectos”, contou.

Mas ainda há “insistência de tecnocratas de plantão nas apostas biomédicas Então temos que pensar qual seria realmente o caminho para avançarmos numa pedagogia de prevenção combinada que queremos”, salientou ele. Em seguida, Juan Carlos Raxach descortinou o chamado “Rio das Prevenções” para os entes municipais de saúde.

Baseado no conceito de pedagogia desenvolvido por Paulo Freire na obra “Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa” ele afirmou que o “Rio das Prevenções não é perfeito, mas permite que cada um atenda sua melhor forma de se prevenir, com autonomia”, explica. Segundo ele a prescrição, o autoritarismo e a norma biomedicalizante que desconsidera a perspectiva dos Direitos Humanos não pode ser considerada Prevenção Combinada. Por isso o chamado Rio da Vida é salutar para a questão. A dinâmica é o nome que se dá para um trabalho que simboliza o percurso da vida de alguém. “Temos que conhecer os fatos da vida dessa pessoa, seu histórico, os acontecimentos significativos de sua vida para respeitarmos as decisões tomadas por ela, inclusive quando não quiser usar camisinha, por exemplo”, pontuou. E foi na trajetória do Rio das Prevenções que essa perspectiva ganhou forma com o surgimento de inúmeros conceitos, possibilidades e, sobretudo, direitos para exercer com particularidade e consciência sua vivência sexual. Especialmente a partir da “Caixa de Ferramentas, composta de fatores médicos (PEP, PrEP, Tratamento como prevenção etc), Comportamental/Barreiras Físicas (Educação, Redução de Danos, Abuso de Álcool e outras Drogas etc) e Estruturais (Acesso universal para medicamento, acesso universal a camisinha, promoção e garantia dos Dir. Hum etc).

Ainda segundo ele, a apresentação prendeu a atenção dos participantes “por mostrar coisas com os quais eles não estão acostumados a lidar. Foi um choque, porque a perspectiva do trabalho deles é mais formal e não dialoga da mesma maneira com a qual a ABIA trabalha com as devidas populações”. Nesse momento, foi a vez de Vagner de Almeida tomar a palavra e explicitar como seu deu o processo de criação e produção dos Guias de Sexo Mais Seguro. Focados na questão do HIV e da AIDS, o Módulo 1 foi desmembrado em quatro submodelos e isso foi o que mais surpreendeu os participantes. “Todos esses materiais foram compostos, produzidos e criados com a ajuda das populações com as quais direcionamos o foco. O voluntarismo deles, desde os grupos focais, até as fotos vistas no folder foi fundamental para o sucesso que temos alcançado com os materiais até aqui”, disse Almeida.

O coordenador revelou ainda que o termo HSH (Homens que fazem Sexo com outros Homens) – uma das populações com guia específico – era de desconhecimento de parte das representações municipais de saúde. Além disso, conta ele, a ousadia das fotos explícitas ao mesmo passo que foi destacado como positivo por uns, causou incômodo em outros. Sobre isso, Almeida diz que “não se pode fazer um guia de sexo mais seguro sem falar de sexualidade. Reações do tipo são naturais e não deixam de ser importantes para nós”, resumiu. Mulheres Cisgêneros (que se identificam com o gênero de nascimento) e Mulheres Travestis e Transexuais são outras duas categorias com sub guias também já publicados. A última será dedicada aos Homens Trans, ainda sem previsão de lançamento.

Na segunda etapa do processo, prevista para setembro de 2019, serão formados multiplicadores dos municípios participantes para que preparem os profissionais das unidades de saúde para ofertarem as tecnologias de prevenção combinada às populações considerando as necessidades e estilos de vida singulares das pessoas, suas possibilidades e limites. A meta é qualificar e ampliar o contingente de profissionais de saúde para implantar ou ampliar ações de Prevenção Combinada visando a garantia de acesso às diferentes tecnologias preventivas e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Texto: Jean Pierry Oliveira

Foto: Vagner de Almeida

Richard Parker
Juan Carlos Raxach

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