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Pansexualidade: entenda o que é essa orientação sexual


O que é a pansexualidade? Psicóloga explica o que é essa orientação sexual Foto: Arte de Ana Luiza Costa

Seja sincero. Você conhece todas as designações da sigla LGBTQIA+? Quando se trata da orientação sexual, os seres humanos podem se identificar como lésbicas, gays, bissexuais e assexuais, por exemplo. Para algumas pessoas, no entanto, o sexo biológico ou a identidade de gênero não importam no âmbito da atração sexual, romântica ou emocional. Essas pessoas se declaram como pansexuais.

O termo não é novo. Está em uso desde 1914, segundo o dicionário Oxford da Língua Inglesa, quando a palavra apareceu no Journal of Abnormal Psychology (Jornal da Psicologia Anormal, em tradução livre)se referindo obsoletamente a pessoas com parafilias sexuais — ou seja, aquelas que tinham “preferências sexuais” diferentes da norma.

No Brasil, o termo tem sido cada vez mais pesquisado nas plataformas digitais. Segundo dados do Google Trends, em julho de 2004 o interesse por “pansexualidade” era inexistente, mas as buscas pela palavra têm apresentado aumento significativo desde 2018, chegando ao pico de interesse já registrado em julho de 2020.

Bárbara Menêses, psicóloga e sexóloga do Centro de Referência LGBT+ de Campinas, explica o termo, ressaltando que a pansexualidade é diferente da bissexualidade:

— A pansexualidade é uma orientação afetiva e sexual relacionada a um desejo por pessoas, independente de sexo biológico e identidade de gênero. A atração sexual do pansexual está relacionada a inteligência, caráter e afinidade. É diferente, portanto, das pessoas bissexuais. Estas se atraem por homens e mulheres, pela figura binária relacionada ao masculino e feminino — diz.

A especialista destaca que, apesar de haver mais informação disponível sobre a orientação sexual, os preconceitos enfrentados por esse grupo não diminuíram. Um deles, segundo Menêses, é a invalidação:

— Um dos preconceitos relacionados à pansexualidade é a sua anulação. O prefixo “pan”, de origem grega, significa tudo. Antigamente, o termo era utilizado para nomear as pessoas que se relacionavam com animais e objetos, o que hoje conhecemos como parafilias sexuais. Atualmente, a pansexualidade adquiriu um novo significado — explica a psicóloga, enfatizando que os pansexuais sofrem um outro estigma, que é a cobrança por definição.

— Das orientações sexuais, é a definição mais livre da sigla LGBT+. As pessoas, tanto heteroafetivas, quanto homoafetivas, colocam a pansexualidade como uma fase, como se fosse um descrédito, o que é um mito.

‘Autorreconhecimento’

Há dez anos, a bandeira pansexual, criada por Evie Varney, viralizou na plataforma de blogging Tumblr. O símbolo é composto por três linhas horizontais, com as respectivas cores primárias: rosa, amarelo e azul. A parte rosa representa a atração sexual pelo feminino, o amarelo pelas pessoas não binárias e o azul pelo masculino. Apesar de a iniciativa de representatividade não ser recente, as pessoas pansexuais continuam sofrendo discriminação, inclusive dentro da comunidade LGBT+, onde a discussão sobre o preconceito contra esse grupo é incipiente.

A estudante Livia Alves de Oliveira Cruz, de 25 anos, comprendeu aos 18 que era uma mulher pansexual. À época, não estava familiarizada com o termo, mas entendeu o significado da orientação pelo afeto:

— Diferente da maioria das pessoas pansexuais, não passei pelo processo de achar que era lésbica ou bissexual. Quando comecei a sentir atração por pessoas, notei que eu não sentia diferença entre homens e mulheres cisgênero (pessoas com quem eu convivia). Antes de conhecer o termo pansexual, dizia que gostava de pessoas e que não ligava para gênero. Quando conheci a pansexualidade, em 2013, foi um grande autorreconhecimento — diz.

Com um canal no Youtube para falar sobre a pansexulidade, o Lado Pan, Livia revela que sofreu insultos cibernéticos. Ela também afirma que foi ofendida dentro da comunidade LGBT+:

— Tenho um canal no Youtube para falar sobre a pansexualidade. Nele, li comentários preconceituosos sobre ser uma mulher pansexual. O pior que recebi foi quando associaram a pansexualidade com pedofilia —  conta ela, afirmando que os preconceitos acontecem na própria comunidade LGBT+:

— Na comunidade LGBT+, mulheres lésbicas falaram que não ficariam comigo por eu me relacionar com homens, que eu “atrapalho a luta” levantando pautas em prol da pansexualidade. Apontaram que a minha orientação sexual é “modinha” e transfóbica. Muitas pessoas da comunidade LGBT+ não entendem que diversidade vai além do homem gay e da mulher lésbica.

‘Tive que sair de casa’

A web designer Marcelle Barcellos, de 33 anos, relata seu processo de autodescoberta como pansexual.

— Dos 15 anos aos 18, namorei com um homem. À época, eu me considerava hétero. Tive breves relacionamentos heteroafetivos até que fiquei com uma mulher. Não achava que seria tão sério na primeira vez, mas logo me vi namorando. Hoje são 13 anos de namoro e moramos juntas. Minha orientação nunca foi um tabu, mas mesmo assim me considerava bissexual— diz Marcelle, enfatizando que o tempo resolveu as coisas: — O que pode me atrair é a personalidade. Sou pansexual, monogâmica, em uma relação com uma mulher e muito feliz.

Marcelle reflete sobre os preconceitos que já sofreu por ser pansexual, tanto na sua familia, quanto na comunidade LGBTI+.

— Quando revelei a minha pansexualidade, tive que sair de casa porque meu pai não aceitou bem. O restante da minha família é muito conservadora, nem todos aceitam, mas não me importo. Até meu ex-namorado teve muito preconceito, se “culpou” e quis agredir minha atual. Dentro da comunidade LGBTI+ também sofri, mas antigamente era pior. É como se o bissexual ou o pansexual fossem “falsos gays”. Já fui questionada tantas vezes. Muitos querem criar regras, mas não existe isso. As pessoas precisam parar de querer impôr normas para determinar a orientação do outro — comenta.

Marcelle Esteves, vice-presidente do grupo Arco-Íris, — organização sem fins lucrativos que atua na defesa e promoção dos direitos LGBT+, explica como o coletivo dá apoio às pessoas pansexuais:

— Trabalhamos para que todas as pessoas sejam respeitadas no seu gostar e existência, independente da sua orientação sexual. Além disso, capacitamos os profissionais de saúde e assistência social para que saibam conversar com uma pessoa pansexual, não cometendo o equívoco de descriminá-la ou associá-la a outra identificação — diz.

A psicóloga Bárbara Mêneses discorre sobre como a intolerância é prejudicial para o emocional das pessoas pansexuais:

— Os insultos prejudicam tanto na autodescoberta, mas também na autoestima. Essas ofensas, na questão da sexualidade, trazem prejuizo no sentido da pessoa não se sentir legítima e livre em se relacionar como gostaria — diz.

Fonte: O Globo

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