Felipe Gustavo, de 27 anos, encontrou na internet seu espaço de liberdade e aceitação enquanto homossexual. Phellyx Moura, como o youtuber é conhecido nas redes, não se trata apenas de um personagem que compartilha visões do cotidiano com humor, mas da personalidade de um jovem que teve dificuldades para ser compreendido pela família e amigos devido sua identidade de gênero. Phellyx é um dos seis influenciadores digitais que fazem parte da websérie “Orgulho Família”, lançada esta semana pelo Instagram, em celebração ao mês do orgulho LGBTI+ .
– Comecei a gravar meus vídeos na internet e pude soltar a pessoa que sou. O personagem Phellyx foi algo que eu sempre vivi, mas não tinha coragem de colocar para fora — diz o blogueiro, que ficou conhecido por vídeo que conta sobre a rotina de ser funcionário do MC Donald’s. Após o sucesso, Phellyx foi contratado como garoto propaganda e hoje é embaixador da rede no Brasil.
A confiança para criar o canal veio através do suporte da família afetiva. A mãe biológica não aceitava sua identificação de gênero e o expulsou de casa. Na época, Phellyx trabalhava em uma lan house e uma das donas o acolheu como filho.
Além de Phellyx, a ex-BBB e cantora, Gabriela Hebling, o ator Maicon Santini, os youtubers Lucca Najar e Mandy Candy, homem e mulher trans, e Fernando Pagani contam sobre o processo de aceitação e a importância de poder expressar sua diversidade dentro e fora das redes sociais, de maneira autêntica e livre. Os episódios serão divulgados no perfil do apresentador Matheus Mazzafera , que também entrevistou os familiares dessas personalidades.
O projeto #OrgulhoFamília foi desenvolvido em parceria com ONGs que lutam pelos direitos homossexuais no Brasil, como a Todxs, start-up de inclusão LGBTI+, Aliança Nacional LGBTI+, Grupo Dignidade e It Gets Better Brasil, além da Mães Pela Diversidade, uma organização formada por mães e pais de jovens LGBTI+ que lutam por uma sociedade onde o respeito à diversidade prevaleça.
Espaço de expressão
O Instagram é hoje uma das principais plataformas adotadas por jovens que buscam se conectar com os assuntos e pessoas que gostam e admiram. A rede social, que já acumula mais de um bilhão de usuários no mundo, se configura como espaço para usuários amplificarem suas vozes e causas, de modo a construir uma comunidade de apoio para outros jovens, como uma forma de pertencimento a um grupo maior que não para de crescer.
Segundo o gerente de comunicação do Instagram , Vinicius Limoeiro, a websérie vem para reforçar o compromisso da empresa para criar um espaço de expressão seguro e para celebrar o mês do orgulho LGBTIQ+. Os vídeos serão publicados a cada dois dias no canal do IGTV no perfil de @matmazzafera.
— Queremos garantir que o Instagram seja sempre um espaço seguro, positivo e inclusivo para todos se expressarem, especialmente os jovens — afirma Vinicius Limoeiro — Ouvir e trabalhar ao lado de pessoas da nossa comunidade e instituições é uma maneira de fomentar uma rede diversa e positiva em nossa plataforma — conclui.
Construindo uma rede de apoio
Os influenciadores participaram de uma mesa redonda onde discutiram a importância em participar da vida dos filhos, sendo fontes de apoio e incentivo para cada um deles.
Eliana Torres, mãe do trans Lucca Najar, acredita que respeitar o tempo para esse momento de “saída do armário” é essencial para dar espaço e segurança para que o jovem se sinta confortável para dividir seus anseios com a família.
“Embora eu percebesse, deixei que chegasse até mim. Fiquei ali observando e vibrando uma energia boa pra ele. É óbvio que nós temos as nossas dificuldades, porque pra algumas pessoas isso não é natural. E eu penso que assim como queremosr ser respeitados, reconhecidos e amados, precisamos entender também que o outro tem seu próprio tempo”, comenta Eliana.
Maria Julia Giorgi, fundadora da ONG Mães pela Diversidade, também compartilhou seus medos como mãe de um homem gay.
“Desde que ele tem 5 anos, fui me preparar para o dia que ele viesse me contar. E o dia que isso aconteceu, o chão abriu debaixo do meu pé. Não por ele ser gay, óbvio, mas pelo medo da violência, da segregação, da humilhação e de tudo o mais”, comenta Giorgi.
A sua experiência serviu como base de inspiração para que entendesse a necessidade em fornecer apoio, não somente a seu filho, mas também a outros jovens que pudessem viver a mesma situação com suas famílias. O resultado foi a fundação da ONG Mães pela Diversidade, que participou do processo de estruturação da websérie junto com outras organizações sociais de modo a trazer o olhar empático e lugar de fala.
“Virei uma ativista, mãelitante, mãelitante eu sou. E fundei o Mães pela Diversidade. Para dar representatividade pra essa mãe, pra que ela possa colocar suas questões, suas tristezas e dar o apoio psicológico também. Nós fazemos o apoio psicológico com profissionais pra essa mãe. Porque ela sofre também”, explica Maria Julia.
A realidade de grande parte da comunidade LGBTIQ+ no Brasil não reflete um cenário de apoio por parte dos familiares. Fernando Pagani, criador de conteúdo e bissexual, conta sobre a relação com a sua família, que não o aceita até hoje.
“Eu não me dou bem ainda com muita gente da família, porque minha família é muito tradicional, italiana, então é um pessoal de uma cabeça bem fechada mesmo. As reuniões sempre têm aquelas piadas homofóbicas. Então eu ainda estou nesse estágio de aguentar bastante coisa”, relata Fernando.
A falta de representatividade da comunidade LGBTIQ+ também está relacionada ao preconceito da sociedade, como conta Mandy Candy, gamer trans.
“Na minha época, eu não sabia o que era uma pessoa trans. Para mim, uma pessoa trans, uma pessoa travesti e um gay era tudo a mesma coisa. E eu só escutava no colégio todo mundo falando que era feio. Eu escutava as pessoas falando ‘tudo bem ser gay, desde que não use roupa de mulher, que aí é demais”, diz Mandy.
* Estagiária sob supervisão de Renata Izaal
Fonte: O Globo