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ONG lança hashtag #ÉCrimeSim para reunir relatos de LGBTIfobia; veja os depoimentos


Foto: Georges Gobet/AFP

“Minha própria mãe me disse que eu sou amaldiçoado, que nunca vou ser feliz, que ela preferiria me ver morto em um leito de hospital.”

A frase acima é apenas um entre os mais de 600 depoimentos coletados, em 24 horas, pela ONG de defesa dos direitos LGBTI All Out Brasil. A entidade lança, nesta semana, a hashtag #ÉCrimeSim para reunir histórias e falar sobre a importância de criminalizar a LGBTIfobia.

Os primeiros casos foram reunidos por e-mail, e a ideia é reforçar a coletânea com relatos nas redes sociais. As histórias em exibição no site da campanha variam das ameaças às agressões físicas, dos episódios na infância à falta de segurança para casais de idosos homoafetivos.

“Eu fui mandando embora [de casa] sem mesmo ter pra onde ir. Tudo fica mais complicado sendo menor de idade. Hoje em dia, engulo seco para não ter problemas, mas cada frase é como uma facada”, diz um depoimento.

“Somos um casal gay. Aposentados, ambos com 62 anos. Passamos por momentos de pânico e tortura psicológica no nosso apartamento, onde fomos espancados em uma tentativa de homicídio e mantidos em cárcere privado. No dia seguinte, fomos expulsos de nossa própria casa por um grupo de vizinhos”, afirma outro relato.

Saindo do juridiquês

A campanha foi lançada na semana em que a criminalização da LGBTIfobia deve voltar à pauta do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros discutem duas ações sobre o tema, e avaliam dois pedidos:

  • que o STF declare a “omissão” do Congresso Nacional até o momento, e estabeleça a obrigação de os parlamentares aprovarem uma lei que criminalize a homofobia e a transfobia;
  • que o STF estabeleça, enquanto isso, que a LGBTIfobia está dentro de um conceito mais amplo de “racismo”, e deve ser punida pela legislação que já trata o racismo como crime imprescritível.

O julgamento está marcado para esta quarta-feira (13), mas pode ser adiado a pedido de um dos 11 ministros da Corte. A gerente de campanhas da All Out Brasil, Ana Flávia Andrade, afirma que a ideia da campanha é chamar atenção para o tema e, ao mesmo tempo, tirar o “juridiquês” do debate.

“Às vezes, a gente se preocupa tanto em explicar o ‘juridiquês’ que acaba não explicando tanto do contexto humano da situação. Fomos atrás de recolher esses relatos justamente para lembrar a população de que […] estamos falando da proteção da vida de milhares de pessoas”, diz.

Além de expor os depoimentos, a All Out tenta rebater os argumentos de que a criminalização da homofobia e da transfobia seria “desnecessária”, ou um pedido de “privilégio”.

“São muitos relatos de agressão apenas porque as pessoas se beijaram, porque estavam de mãos dadas, porque se abraçaram. Coisas tão normais, que de repente são perigosas”, diz Ana

Violência variada

Entre os relatos de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis, há depoimentos de pessoas heterossexuais que também foram agredidas porque “se pareciam” com homossexuais, ou porque estavam abraçadas a alguém do mesmo sexo.

Questionada sobre o “elemento comum” entre os diferentes relatos, Ana Flávia enviou ao G1 uma lista trágica com pelo menos dez situações recorrentes de agressões, ameaças e violência explícita.

“Agrupamos temas como pessoas expulsas de casa, agredidas, ameaçadas e torturadas por familiares, enviadas pras perigosas ‘terapias de conversão’; pessoas que sofriam com discriminação no colégio, vinda de colegas ou mesmo de professores […]; pessoas que sofrem discriminação em ambiente de trabalho, demitidas ou nem mesmo contratadas por serem LGBT+; pessoas atacadas por desconhecidos completos na rua; pessoas que não têm seu nome correto respeitado e são chamadas pelo nome de registro mesmo com todos os documentos legalmente retificados.”

“Teve um relato que me marcou muito, que foi um que uma pessoa disse que ‘tivemos que nos abraçar, mesmo morrendo de vontade de nos beijar’. É uma espécie de perda de liberdade que as pessoas LGBT+ enfrentam quando precisam se preocupar com a sua própria segurança o tempo inteiro.”

Veja, abaixo, outros relatos coletados pela All Out e que compõem a campanha #ÉCrimeSim:

  • “Estava com o meu namorado dentro de um elevador, indo embora da casa de uma amiga. Ao passar pela portaria, o porteiro disse que ‘a câmera tinha pegado’, que ‘as pessoas iam ver o que a gente fez’. O que a gente fez foi se abraçar.”
  • “Levei uma pedrada por estar de mãos dadas com o meu namorado.”
  • “Um colega do trabalho disse: ‘Se eu pudesse enchia um ônibus de gays e colocava fogo.'”
  • “Saímos da hamburgueria de mãos dadas e uma garrafa cheia de urina foi arremessada contra nós.”
  • “A mãe de uma amiga desejou que ela fosse estuprada, só por ser lésbica.”
  • “Um amigo foi violentamente agredido em São Paulo por acharem que ele era gay, o que ele não é. Pode acontecer com qualquer um.”
  • “Perdi meu emprego pelo simples fato de ter oficializado minha união com uma pessoa do mesmo sexo que eu.”

Para participar da campanha, basta enviar o relato em qualquer rede social, acompanhado da hashtag #ÉCrimeSim. A mobilização deve continuar mesmo após uma decisão final do STF, já que a elaboração e a aprovação da lei que criminaliza a homofobia ainda caberá ao Congresso Nacional.

Fonte: G1

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