O Dia Mundial do Idoso, ou Dia Internacional das Pessoas Idosas, é celebrado nesta segunda (1), mas sem motivos para comemorações. O número de brasileiros com mais de 60 anos chegou a 30 milhões em 2017, mas boa parte desses sexagenários tem enfermidades que comprometem a saúde e sua expectativa de vida. É o que mostra o Estudo Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), que acompanha idosos de sete centros urbanos – no Brasil, os de São Paulo. Na verdade, como já afirmou para esse blog, o médico Egidio Dórea, coordenador do programa Universidade Aberta da Terceira Idade, da USP, estamos “no limiar de uma crise sem precedentes no que tange a doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes”. Será preciso que toda a sociedade se articule para transformar a longevidade num bônus, e não num ônus.
Criada em 2011, The Global Alliance for the Rights of Older People(Aliança Global para os Direitos dos Idosos) reúne 115 organizações no mundo. Essa rede defende que, sem uma convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre os direitos dos idosos, os abusos não serão combatidos com a mesma eficácia. Assim como há documentos específicos sobre crianças e mulheres, este seria um instrumento capaz de estabelecer parâmetros internacionais sobre quão inaceitável é a discriminação, tanto do ponto de vista moral, quanto legal. Se nada for feito, com o progressivo envelhecimento da população teremos um número cada vez maior de pessoas enfrentando violações de seus direitos.
A entidade criou uma plataforma chamada “In our own words” (“Em nossas próprias palavras”), disponível nas seis línguas oficiais das Nações Unidas: inglês, francês, espanhol, russo, árabe e chinês. Mais de 2 mil idosos de 50 países relataram suas experiências e as histórias se assemelham. A lista é grande e nem longe conseguirei relacionar todos os tópicos, por isso aqui vão alguns: políticas públicas que não levam em conta as necessidades dos mais velhos; discriminação no ambiente de trabalho a partir dos 40 anos; abusos físicos, verbais, psicológicos e financeiros; negligência e abandono por parte da família; exclusão social e isolamento; falta de cuidados paliativos e por aí vai. Para fechar: em certas regiões do planeta, velhos ainda são acusados de feitiçaria.
Ano passado, indiquei “Como envelhecer”, de Anne Karpf, como livro de cabeceira para quem estivesse entrando na maturidade. Redimensiono minha sugestão: deveria ser leitura obrigatória a partir dos 20, já que todas as trajetórias que não são ceifadas prematuramente desembocam na velhice. A autora propõe que, sempre que estivermos com um idoso, devemos pensar nele como nosso futuro e aplaudir sua resiliência. “Precisamos reumanizar as pessoas mais velhas, atribuir a elas o mesmo mundo interior rico que presumimos existir dentro dos mais jovens e em nós mesmos”, afirma a autora. Não poderia usar palavras mais sábias, mas proponho um pequeno desafio a todos e todas neste 1º. de outubro: que encontrem tempo para ouvir a história de um idoso. Sem pressa. Sem exigir que explicações que se alongam sejam abreviadas. Com curiosidade sobre os sonhos, as paixões e os obstáculos enfrentados. Nossas próprias histórias sairão enriquecidas.
Em sua trajetória, o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens contribuiu para a diminuição da vulnerabilidade de homens que fazem sexo com homens (HSH), com o projeto pioneiro sobre a vida do idoso HSH. Com direção de Vagner de Almeida.
Fonte: G1