Quem já passou pela experiência de utilizar aplicativos de relacionamento, principalmente aqueles voltados para homens gays, já deve ter recebido uma foto do pênis antes mesmo de ver o rosto do seu interlocutor. A pergunta “ativo ou passivo?” também permeia a maioria das conversas. A existência dessas plataformas de relacionamento fez com que muitas pessoas explorassem sua sexualidade, que antigamente permaneceria “discreta e no sigilo”.
Entretanto, a facilidade de se encontrar um parceiro por perto para uma transa rápida tem exposto outros problemas: a superficialidade nos relacionamentos e o falocentrismo (phalos = pênis) das relações homoafetivas masculinas. Cada vez mais pacientes, muitos deles jovens ainda, têm apresentado queixas de impotência e perda da libido. Precisamos inicialmente diferenciar essas duas disfunções:
- Impotência é o conjunto de queixas relacionadas à dificuldade em iniciar, manter ou terminar o ato sexual. Temos como o principal exemplo a disfunção erétil, ou problemas de ereção. Outras disfunções que também podem interferir numa relação satisfatória são a ejaculação precoce ou a retardada.
- Já a libido é o desejo ou vontade de se relacionar sexualmente. Muitas vezes confunde-se com a impotência, que apesar de estarem intimamente ligadas, são processos diferentes em nosso corpo, bem como também podem apresentar causas distintas.
A ereção ocorre por um processo involuntário no nosso cérebro, desencadeado pelo sistema nervoso parassimpático. Pode ocorrer após um estímulo, seja ele tátil, visual ou até mesmo um pensamento erótico. Mas ela também pode ocorrer sem estímulo algum, como por exemplo durante o sono, e acordamos com aquele volume matinal no pijama.
A disfunção erétil pode ocorrer por diversos motivos, como doenças nas artérias e veias, diabetes, tabagismo, abuso de drogas e cirurgias que envolvem órgãos pélvicos, como a próstata e o reto. Mas a maioria dos episódios são de fundo psicológico, ou seja, sem nenhuma causa orgânica definida.
A impotência possui diversos tratamentos, como o uso de medicação, próteses penianas e estimulação e fisioterapia pélvica. O médico responsável por tratar essas disfunções é o urologista e não se deve tomar nenhum medicamento sem prescrição e orientação médica.
A libido também pode estar relacionada com doenças sistêmicas. As causas psicológicas fazem parte e têm fundamental importância e muitas vezes uma conversa franca com o seu parceiro sobre seus desejos e angústias e o apoio de um psicoterapeuta podem apontar o motivo para a perda do apetite sexual.
Voltando ao início do texto: a pressão em ter uma boa performance sexual, muitas vezes inspirada no fácil acesso à pornografia, bem como o sexo pautado e centralizado no pênis, pode contribuir no aumento da incidência de casos de impotência e perda da libido.
Lógico que o estímulo do pênis e sua função durante a penetração ou no sexo oral e masturbação são extremamente prazerosos para ambos os parceiros. Mas sexo vai muito além disso. A exploração de áreas erógenas, mamilos, nuca, atrás da orelha, ânus e pés, entre diversas outras, pode ser igualmente prazerosa.
Realizar suas fantasias e fetiches de forma consensual e segura também podem ajudar a aumentar a libido. O seu corpo é um mapa de prazer a ser explorado. E tirar um pouco o foco do pênis pode ajudar a se sentir com menos pressão e tentar diminuir os casos de perda da libido e impotência.
Caso esteja passando por esse tipo de dificuldade, não sofra sozinho. Compartilhe com seu(s) parceiro(s) e procure ajuda profissional, que pode envolver médicos, psicólogos e fisioterapeutas.
Fonte: Carta Capital