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No Rio, curva de infectados pela Covid-19 ‘rejuvenesce’; entenda


Descuido. A estudante de Engenharia Mariana Fadel, de 23 anos, acredita ter se reinfectado ao relaxar e viajar para Búzios Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — Personagens fundamentais na cadeia de transmissão da Covid-19, os jovens voltaram para as ruas, e os casos da doença entre eles não param de crescer. Uma análise do GLOBO confirma a percepção de especialistas que alertavam para os efeitos do afrouxamento da quarentena que levou milhares de pessoas para bares e festas no Rio. O levantamento do jornal, com base nos primeiros dias de sintomas de mais de 32 mil pessoas que contraíram o coronavírus até anteontem, revela o claro “rejuvenescimento” da curva de infectados.

Entre as 16ª e 19ª semanas epidemiológicas (de 12 de abril a 9 de maio), considerado período de pico da pandemia na cidade, apenas 9,4% dos pacientes com Covid estavam na faixa etária de 20 a 29 anos. A maior parte dos doentes (43%) tinha entre 30 a 49 anos. Porém, o cenário mudou. Os jovens adultos hoje representam quase 15% do total de pessoas que manifestaram sintomas de Covid-19, recentemente, entre 25 de outubro e 21 de novembro — da 44ª até a 47ª semana.

Esse grande contingente se junta a outras faixas etárias já muito prevalentes no quadro geral de doentes, a principal delas de pessoas entre 30 e 49 anos. Isso faz a curva “rejuvenescer”. Ao mesmo tempo, os infectados mais idosos passaram a ter uma participação menor no total de doentes em relação ao início da pandemia. Os infectados entre 70 e 89 anos, que chegaram a representar quase 14% do total no auge da curva de casos, agora são cerca de 10%.

Entender a distribuição dos casos por faixa etária é importante para nortear as ações públicas, como definir o que deve ser flexibilizado, até que a cidade volte à sua rotina normal, ou mesmo a dinâmica de atendimento de saúde, que pode sofrer variações dependendo do público alvo. Como se sabe, os idosos tendem a ter quadros bem mais graves da doença, embora os mais jovens não estejam livres de eventuais complicações.

O perfil dos infectados, produzido a partir de dados oficiais da Secretaria municipal de Saúde, pode mudar nos próximos dias com a atualização das estatísticas, mas vale destacar o retrato da pandemia na nova onda.

Para o infectologista Guilherme Werneck, da Uerj, há mais de uma explicação para o “rejuvenescimento”. As aglomerações, mais desejadas por jovens e evitadas pelos mais velhos, e o fato de os testes, no início da pandemia, terem sido direcionados para casos graves, em geral, apresentados por pessoas com mais idade.

— Entre aqueles que são mais velhos e têm suas comorbidades, uma parcela já ficou doente e a outra evita (sair) porque sabe dos riscos — pondera. — O que acontece é que, por ser uma doença de transmissão respiratória, precisa do contato entre as pessoas. O jovem tem uma preferência de contato com outros jovens. Mas, quando ele vai para casa, pode entrar em contado com outros perfis.

Vontade de sair e medo

Apesar do aumento de casos e mortes, a prefeitura e o estado ainda não cogitaram retomar o isolamento ou retroceder na flexibilização de algumas medidas sanitárias. Na noite de quinta-feira, mais uma vez, bares e restaurantes estavam cheios, com pessoas do lado de fora, muitas vezes sem máscara e sem manter o distanciamento mínimo de 1,5 metro. No Leblon, uma equipe da Guarda Municipal monitorava a Praça Cazuza, enquanto outra circulava de carro pela Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, dois points de boemia. No Boteco Belmonte, na Rua Dias Ferreira, o casal Pedro Rabelo, de 21 anos, e Nathalia Azevedo, de 22, admitiu não estar preocupado com distanciamento social. E mais: nas palavras deles, queriam “muvuca”. De Poços de Caldas, em Minas Gerais, vieram para conhecer o Rio e estão hospedados em Copacabana.

— Neste momento, estamos esquecendo que existe Covid — contou Nathalia, acrescentando que no Cristo, onde estiveram, havia muito mais gente do que no bar e que, em Minas, evita aglomerações para não ser multada pela fiscalização. — Lá, eles multam mesmo. Não tem essa de gente em pé e nem de mesa cheia.

Depois de passar seis meses em casa reclusa, a estudante de Engenharia Marina Fadel, de 23 anos, começou a sair de casa em setembro para pequena reuniões e e ir à casa de conhecidos. Ela acreditava que tinha anticorpos para coronavírus já que, em março, ao ter alguns sintomas, fez um teste sorológico que foi positivo. No feriado de Finados, ela foi com um grupo de amigos para Búzios e, lá, conta ter ido pela primeira vez a um bar. Na volta ao Rio, Marina ficou com sinais gripais e, ao fazer teste de PCR, se deparou com um novo resultado positivo. A estudante — que pode ser um caso de reinfecção — admite ter relaxado com os cuidados:

— Eu não ia a festas ou bares, apenas a casas de amigos com um grupo pequeno e em ambiente ventilado.

Assim como no Leblon, em Botafogo, o movimento também é intenso mesmo antes do fim de semana. Moradores de Caxias, na Baixada Fluminense, Thiago Nogueira, de 37 anos, e Thamires França, 27, pararam em Botafogo para tomar um drink. Os dois voltaram a frequentar bares há cerca de um mês. Ela, que está na faixa etária que cresce entre os pacientes; ele na faixa com maior participação no quadro geral de infectados desde o início da pandemia.

— Eu passei meses em isolamento, cumprindo as diretrizes do lockdown, mas tive que sair para trabalhar em outubro e acabei flexibilizando. Temos procurado lugares vazios e ao ar livre — disse Thiago. — O mais assustador foi sair pela primeira vez, foi um baque. Agora, já me sinto mais seguro, estou me precavendo.

As amigas Mariana Veronez, de 32 anos, da Barra, e Andreza Valinote, de 31 anos, do Méier, se reuniram anteontem à noite no Espetto Carioca, na Barra da Tijuca. As duas assumiram que têm muito medo.

— Voltei a sair, confiante, em outubro. Mas, agora, a segunda onda começou. Conheço nove pessoas que estão infectadas. As regras não são respeitadas. A garçonete veio aqui com a máscara abaixada, há pessoas em pé e as mesas não estão com o distanciamento correto — observou Andreza.

Por nota, a Guarda Municipal informou que mantém a fiscalização e disse já ter ter aplicado 10.019 infrações sanitárias, das quais 8.256 (82,40%) por falta do uso de máscara. Ainda segundo a Guarda, na quinta-feira, ninguém foi multado porque foi um patrulhamento rotineiro.

Fonte: O Globo

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