Warning: Use of undefined constant php - assumed 'php' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/storage/d/d2/36/abianovo/public_html/site/hshjovem/wp-content/themes/ultrabootstrap/header.php on line 108

Nº de candidatos que se declaram trans na inscrição do vestibular da Unicamp triplica em 4 anos


Primeira fase do vestibular foi aplicada em 17 de novembro — Foto: Eduardo Rodrigues/EPTV

Trinta e três candidatos informaram no ato da inscrição do vestibular 2020 da Unicamp que são transexuais, segundo a comissão organizadora (Comvest). O número é três vezes maior do que no vestibular 2016, quando a organização passou a permitir que o gênero fosse comunicado. Para uma filósofa e ex-aluna trans da universidade, o aumento é positivo e animador, mas é ainda há muito que avançar para garantir direitos e segurança.

Segundo o diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto, os fiscais de aplicação do vestibular escalados para salas com candidatos transexuais são orientados a permitir o uso do banheiro condizente com o gênero e que as provas sejam assinadas com os nomes sociais, mesmo que o documento pessoal ainda não esteja atualizado.

Ao todo, 72,8 mil pessoas se inscreveram para a primeira fase do vestibular, que foi aplicada no dia 17 de novembro. A abstenção foi de 8,27%, segundo a Comvest, o que significa que 6.029 deixaram de fazer a prova com 90 questões de múltipla escolha. O resultado sai em 9 de dezembro.

“A nossa orientação para todos os candidatos ao vestibular é que ninguém se sinta constrangido sob nenhum aspecto. Nós sabemos que as pessoas já estão tensas e ansiosas por causa da prova, então fazemos todo o trabalho possível para dar tranquilidade para todos os candidatos, com todas as necessidades e particularidades que cada um deles têm”, explica o diretor.

“No caso das pessoas trans, passa desde a questão do reconhecimento de que as pessoas podem assinar e se identificar da maneira que socialmente ela se identifique, mesmo que seus documentos não tenham sido alterados. Da mesma forma, tal como é procedimento dentro da universidade e entendimento das sociedades em que essa temática é mais debatida, de que as pessoas devem utilizar os espaços, ir ao banheiro, no qual ela se identifica”, afirma o diretor.

‘É pouco, mas diante de tudo que nós não temos, é muito’

A bacharel em filosofia pela Unicamp Leila Dumaresq formou-se em 2006 e, atualmente, participa do Conselho de Ética da Unicamp, além de frequentar grupos de estudos. Ela comemora o aumento de candidatos trans, mas reivindica campanhas de inclusão no dia a dia da universidade.

“É muito importante ter o nome social respeitado no vestibular. Não é a única medida, mas ao mesmo tempo é um sinal que você dá para as pessoas. É pouco, mas diante de tudo que nós não temos, é muito”, informou a filósofa.

Na avaliação dela, o número de candidatos é representativo se comparado ao percentual estimado da população trans. “A população trans é uma minoria numérica também. Nós somos 2%, talvez arrebentando 4% da população. É evidente que se você começa a contar LGBTs aí tem diversos recortes. LGBT eu ouço falar de algumas estatísticas de 10%”.

Dumaresq lembra que foi bem atendida pelos funcionários da Unicamp ao pedir a mudança de nome nos documentos e comprovantes, mas vê a necessidade de mais conscientização na comunidade acadêmica como um todo. “Precisaríamos de campanhas de conscientização, porque nem sempre a melhor maneira é uma retratação punitiva”.

Segundo Freitas Neto, cerca de 90% dos estudantes que prestam o vestibular têm até 19 anos, idade em que a autodescoberta pode estar em andamento. “Então esses jovens, mesmo as pessoas trans, é muito raro que já tenham terminado esse processo, [ou já tenham] clareza do ponto de vista psicológico e todas as devidas orientações neste momento da vida”.

O diretor também avalia que transexuais ainda têm menos acesso ao ensino básico e, por isso, mais dificuldade para chegar a universidade. Também é vítima mais frequente da violência. “Tradicionalmente a população trans tem menor escolaridade e menor expectativa de vida se comparado ao restante da população. A violência que acomete o grupo é bastante alta na sociedade brasileira”.

‘Direito de estar em todos os espaços’

Suzy Santos, agente de ação social do Consultório de Rua, grupo contratado pelo Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira para atendimento à população em situação de rua de Campinas. Mulher trans, ela também é fundadora da Casa Sem Preconceitos, iniciativa para acolhimento de transexuais em vulnerabilidade social.

O projeto existe desde 2017 e chegou a ter um abrigo para mulheres trans em situação de rua, mas o imóvel foi fechado por falta de verba. Agora, uma nova casa será inaugurada ainda neste ano e deve começar a acolher pessoas em janeiro. Serão cinco vagas fixas e um para acolhimento emergencial.

A agente atua há 16 anos na rede de saúde e também vê com bons olhos o aumento. “Só o fato de elas poderem trazer a identidade delas, sem precisar se esconder, e ter acesso nesse contexto que a gente tem hoje, eu fico muito feliz que elas possam trazer suas identidades”.

“A gente estimula que as pessoas possam entender que a gente tem direito de estar em todos os espaços. Eu acho que a gente precisa aumentar esse número. Eu fico muito feliz e ainda acho que é muito pouco”, resume.

%d blogueiros gostam disto: