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“Não está sendo fácil viver esse período de isolamento social. Eu tive várias crises de ansiedade, só sonhando com o dia em que ficaremos livres dessa pandemia”, afirma professor entrevistado para o Fala Jovem


Foto: Arquivo pessoal

Se a esperança de dias melhores é a última que morre é nela e em sua crença que Matheus Oliveira vem se agarrando. Aos 24 anos, o morador de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, se apega na positividade para poder lidar com as intempéries de um “novo normal”, como se acostumou falar.

Em tempos de pandemia, onde as incertezas são maiores do que as respostas para elas, o professor vem administrando como pode sua rotina. Ciente da importância da saúde mental, Matheus busca cuidar de si e dos outros como forma de amenizar sintomas da ansiedade e de tendências ao suicídio, através de sua participação em um projeto de cunho social e com foco no Setembro Amarelo também.

Apesar dos pesares, o momento também está sendo útil para descobrir novas habilidades profissionais, reforçar os laços familiares e aguardar o melhor momento para retornar às salas de aula.

No bate papo remoto com a equipe do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, Matheus falou ainda sobre questões como HIV/AIDS, prevenção, coronavírus, educação sexual e outros temas.

Confira a entrevista abaixo na íntegra:

 

1- Nome completo e Idade 

R: Matheus Freitas de Souza Oliveira, tenho 24 anos

2 – Você reside em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, certo? Quais os principais desafios de morar nesta região?

R: Sim, Belford Roxo costumava ser uma cidade tranquila, moro aqui desde os meus 6 anos. Porém os últimos anos têm sido bem complicados. O tráfico é a questão mais desafiadora, pois você pode sair a qualquer momento na rua e ser assaltado. O que já aconteceu comigo umas duas vezes e sem contar a guerra entre as facções vizinhas, que faz a gente não sair de casa, ou seja, vivemos com medo.

3- Como é a relação com sua família? Mora com eles? 

R: Moro atualmente com minha mãe, minha irmã e meu padrasto e nossa relação é ótima. Somos extremamente unidos e durante essa quarentena tivemos a chances de nos conhecer muito mais.

4 – Sobre a pandemia, de que forma o isolamento social causado pelo coronavírus afeta ou já afetou sua saúde mental? E o que tem feito para distrair a mente e evitar os gatilhos psicológicos?

R: Então, não foi fácil e não está sendo viver esse período de isolamento social. Tem me afetado muito, tenho ficado preocupado com minha família que mora em outro município, com amigos e com a população. Devido a isso eu tive várias crises de ansiedade, só sonhando com o dia em que ficaremos livres dessa Pandemia.

Mas o isolamento me ajudou bastante, pude me conhecer mais, conhecer minha família, descobrir um dom que jamais imaginei que poderia ter que é confeccionar roupas. Aprendi fazer Tie-Dye (tingimento artístico de tecidos) e como isso foi me ajudando eu pensei por que não compartilhar com o próximo e influenciar mais gente?

Então comecei a gravar vídeos e postar nas minhas redes sociais e tenho atingido um público bom, que sempre me pede para fazer mais.  E ultimamente tenho me envolvido em um projeto que foi uma criação inspirada em um projeto na qual participei de um fotógrafo amigo meu, que faz parte da agência na qual faço parte sobre o setembro amarelo (mês de conscientização e prevenção ao suicídio). Criei a escuta amiga, na qual disponibilizo minhas redes sociais com conversas, conselhos e ajudar quem está com a saúde mental abalada por conta da Pandemia e diversos outros fatores.

5 –  Como você avalia o combate ao coronavírus no Rio de Janeiro?

R: Sabemos que de acordo com a pesquisa o Rio de Janeiro é o segundo pior estado no combate ao covid-19 e como temos visto, ultimamente as praias cheias, bar lotado e apenas com isso já é possível dizer que não estamos muito bem.

6 – Você é professor. Como enxerga a politização da volta às aulas? Quais são os principais desafios e soluções que você acredita que serão enfrentados na Educação por conta do ano, praticamente, inativo?

R: Nós ainda estamos vivendo um momento difícil então eu como professor acredito que a volta às aulas no momento não é necessária. Já está mais do que claro que infelizmente o ano letivo foi perdido sim, desde o começo da Pandemia quando as aulas foram à distância, muitos alunos já perderam aula, pelo fato de não ter acesso a internet, um computador ou um aparelho telefônico. Infelizmente temos visto muito isso.

Temos escolas que mandam atividades para casa, mas acho que o retorno as aulas um pouco precipitado, sem contar que vejo relatos de pais que não vão querer mandar seus filhos para escola ainda, por não se sentirem confiantes. E no caso de as aulas voltarem o desafio maior será colocar esses alunos que não tinham acesso à internet no alcance daqueles que tem recursos dentro de casa, (para) que eles se desenvolvam da mesma forma. Agora a solução é que o sistema de ensino do Brasil faça uma reforma no currículo em 2021 para que os alunos realmente aprendam e se desenvolvam e que não perca os conteúdos.

Relacionamento e Prevenção 

7 – Sobre a questão da prevenção, você tinha abertura para conversar isso dentro de casa? Ou o assunto era tabu? Quando tinha dúvidas ou dilemas nesse sentido, como buscava resolvê-los?

R: Na minha casa sempre conversamos abertamente sobre esse assunto, meus pais sempre me alertaram, sempre me ensinaram como se prevenir, sempre me deixaram a par das doenças. Então sempre tive essa educação dentro de casa.

8 –  Qual o papel ou importância da prevenção em seus relacionamentos?

R: É fundamental, é sempre importante estar estudando maneiras de se prevenir, conversando com seus parceiros, pois é importante ter essa troca. E vamos se prevenir galera, não vamos dar bobeira e correr riscos, cuide da sua saúde.

9 – Jovens de 15 a 29 anos são uma das principais parcelas populacionais, atualmente, no que diz respeito aos índices de infecção por HIV/AIDS no Brasil. Ao mesmo tempo, nunca se teve tanto acesso à informações e outras tecnologias. Em sua opinião, o que faz com que a juventude se infecte tanto atualmente por HIV?

R: Vivemos no mundo que temos fácil acesso a informação e campanhas, mas os jovens hoje, muitos deles não sabem o que procurar. Na minha opinião, um dos motivos mais relevantes é a falta de educação. Como professor eu sou a favor da educação sexual na escola, porém muitos têm esse tabu de que ” ah vai ensinar meu filho a fazer sexo”.

Não, não é isso, educação sexual é para que o jovem entenda os riscos que podem ocorrer, por não se prevenir no sexo. Então acredito que é a falta de educação na adolescência, pois muitos não têm pais ou alguém que possam aconselhar e com isso acaba se infectando.

10 – A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) trabalha, bem como o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, envolvida em questões do HIV/AIDS, prevenção, direitos humanos e justiça social para com populações vulneráveis (soropositivos, LGBTs, comunidades, jovens, negros, mulheres etc). Você considera que esses tipos de ações são importantes? Por quê?

R: Esses tipos de ações sem dúvidas são importantes. E a população desfavorecida é a que mais sofre, infelizmente. Saber que temos pessoas que levam projetos como este em prol de ajudar a esta população é extremamente necessário e deve ser melhor apoiado.

Futuro

11 – Acredita que sairemos diferentes e que tiraremos lições importantes para o mundo pós-pandemia?

R: Eu acredito que sim, acredito que o mundo sofreu na pele esse momento caótico que vivemos. Eu irei passar a me valorizar mais, a estar perto de gente que amamos, a viver momentos intensamente, fazer o que amamos. Valorizar mais a vida, as pessoas, as oportunidades. Acho que a Pandemia me fez ser forte, me fez me conhecer mais, me fez ter mais vontade de viver e de lutar pelo o que eu acredito. E acredito que boa parte da população tirará grandes lições.

12 – Qual sua perspectiva para o futuro?

R: Eu costumo dizer que sou um menino sonhador, ainda bem que sonhar não custa nada. Apesar de não acreditar muito, eu sonho com um futuro melhor para todos, sem violência, com mais respeito, mais empatia, um mundo em que todos nós podemos viver em paz sem qualquer tipo de ódio. E totalmente respeitoso. É esse o futuro que eu quero.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

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