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Morre Larry Kramer, autor e ativista contra Aids, aos 84 anos


Morreu nesta quarta-feira (27), em Manhattan, Nova York, aos 84 anos, o escritor Larry Kramer. Ele ganhou muito destaque nas décadas de 1980 e 1990, com sua luta de conscientização da sociedade americana sobre a Aids, ajudando a mudar a conjuntura de políticas de saúde pública do país.

Soropositivo, Kramer enfrentou também complicações hepáticas durante sua vida, passando, inclusive por um transplante de fígado. David Webster, marido do escritor, informou ao “The New York Times” que a causa da morte foi pneumonia.

Ensaísta e dramaturgo, Larry Kramer é o nome por trás de “The normal heart”, sua peça autobiográfica, escrita em 1985. O espetáculo ficou nove meses em cartaz no Public Theater, em Nova York, e chamou atenção por seu texto de caráter passional e voz importante no alerta às autoridades no combate à doença. Quatro anos depois, Kramer seria diagnosticado como portador do vírus HIV.

Em 2011, a peça ganhou uma nova montagem na Broadway, ganhando, inclusive, um Tony. Já em 2014 a HBO, sob assinatura de Ryan Murphy, lançou uma adaptação escrita pelo próprio autor. A produção, com Julia Roberts e Mark Ruffalo no elenco, levou o Emmy de melhor filme feito para TV.

Ativismo feroz e polêmico

Porém, alguns anos antes do nascimento de “The normal heart”, Kramer já se destacava na esfera pública, como fundador, em 1981, da Gay Men’s Health Crisis, organização pioneira nos EUA em apoio a portadores do vírus HIV.

Porém, apenas um ano após a criação da entidade, Kramer foi expulso por diretores, incomodados com seu comportamento agressivo. Como resposta ante a sua saída, Kramer classificou os colegas como uma “triste organização de mariquinhas”.

Ele fundou, então, o Act Up, grupo militante que passou a cobrar, nas ruas, maior agilidade no desenvolvimento de medicamentos no combate à Aids, além de levantar a bandeira contra a discriminação da comunidade LGBTQIA+.

Diante de sua ferocidade e engajamento, Kramer chegou a ser classificado pela escritora e crítica de arte Susan Sontag (1933-2004) como “um dos encrenqueiros mais valiosos da América”. Ainda nos anos 1980, o ativista justificou seu comportamento com a seguinte frase: “Se você escreve uma cartinha e a envia por fax sem destino certo, ela afunda como uma tijolo no Hudson”.

Um dos destinos certos de Kramer, aliás, foi Anthony Fauci, considerado o maior infectologista dos EUA e, hoje, uma espécie de para-raios do presidente Donald Trump no combate ao novo coronavírus. Em 1988, o então diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas foi chamado por Kramer de “assassino” e “idiota incompetente”, em uma carta aberta escrita pelo dramaturgo ao jornal “The San Francisco Examiner”.

Nesta quarta-feira, em entrevista ao “NYT”, Fauci lamentou a morte de Larry Kramer e confessou que, hoje, compreende o comportamento, digamos, incisivo do escritor em sua militância. “Depois de passar pela retórica dele, você passa a entender que ela faz sentido. Ele tinha um coração de ouro”, disse o infectologista, reconhecendo que, à época, o governo americano estava desacelerando a busca por tratamentos eficazes no combate à Aids.

Os dois se aproximaram em 2001, quando Kramer enfrentou um transplante de fígado e foi convidado por Fauci a passar por testes experimentais no desenvolvimento de medicamentos contra doenças hepáticas.

Com a entrada do infectologista no time de Trump para o combate à Covid-19, Kramer foi um dos nomes que saiu em sua defesa. “Estou com muita pena dele, está sendo muito atacado”, disse o dramaturgo, em entrevista por email ao repórter do “Times” John Leland.

Pandemia inspirou peça inédita

Nestes meses anteriores a sua morte, Larry Kramer escreveu uma peça chamada “An army of love must not die”, inspirada pela pandemia de Covid-19. É o que também revela a troca de mensagens entre o autor e o repórter John Leland.

“É sobre os gays tendo de lidar com três pragas”, escreveu o dramaturgo, no email enviado ao jornalista. Kramer se referia ao HIV, ao novo coronavírus e à decadência do corpo humano com o passar dos anos. O dramaturgo, no ano passado, quebrou uma perna e ficou deitado por horas em seu apartamento, até a chegada de uma cuidadora.

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