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Lésbicas periféricas: desinformação fortalece silenciamento


FOTO: CAMILA LIMA

Falta educação. E, então, falta informação. O que sobra, no fim, é desrespeito. Ser LGBTI+ no Brasil é viver atado à necessidade de bater o pé e se afirmar como sujeito de direito todos os dias. Quando o assunto é ser lésbica – principalmente no Nordeste, na periferia do Ceará e em uma capital ainda tão desiguais -, a luta é dobrada. Ser enxergada e enxergar a si com respeito ainda é direito básico que figura entre as lutas deste Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado hoje, dia 29 de agosto.

Algumas mulheres homossexuais, contudo, ainda desconhecem a possibilidade de ir em busca do que querem. Essa realidade assola principalmente quem já vive à margem, sendo comum a lésbicas de bairros como a Paupina, na Regional VI de Fortaleza, uma das mais castigadas pela ausência de políticas públicas básicas. É lá que Janaiane Soares, estudante do curso de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), mora há 18 dos 26 anos de idade. E foi de lá que precisou “sair” para se descobrir inteira.

“Sempre falaram do meu jeito mais ‘masculinizado’, por causa de padrões: se eu jogasse bola, já era alguma coisa. Chegaram a me perguntar se eu era lésbica, mas eu nem sabia o que isso significava. Percebi que eu era quando fui fazer ensino médio no IFCE, no Benfica, com 15 anos, e passei a me informar. Precisei sair do meu lugar, acessar outro mundo, pra me reconhecer”, relembra Janaiane.

Conhecimento

O processo de autodescoberta, ela reconhece, foi “privilegiado”. “Conheço uma pessoa que se descobriu por meio de violência: quando uma colega a beijou à força no banheiro”, relata. “Meu colégio não tinha nem uma quadra, imagine outras preocupações sobre os alunos. Não tinha conversa nem cultura pra você consumir e conhecer”.

A ignorância alimenta violências não só externas, mas contra si, como aponta Janaiane. “Na periferia, é comum o relacionamento lésbico reproduzir o hétero, existir ‘o homem’ e ‘a mulher’ da relação. Para ser aceita, ela tenta se colocar no local do homem, mas isso nunca vai acontecer”, lamenta, ressaltando ainda que o comportamento contribui para relacionamentos homossexuais abusivos.

Segundo Rachel D’Amico, doutoranda em Sociologia e membra do Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade (NUSS) da UFC, “a violência entre mulheres dentro de relacionamentos lésbicos é silenciada, e isso se agrava na periferia – o silenciamento, aliás, é o que atravessa todas as discussões sobre ser lésbica hoje”.

Existência

A consequência grita na saúde, outra demanda urgente das mulheres homossexuais. “Há um apagamento da existência lésbica, como se não tivessem demandas específicas”, pontua Rachel, ratificada pela educadora social Lídia Rodrigues, 32. “Na periferia, ninguém se liga muito que tem direitos e que pode reivindicar isso. Os atendimentos a lésbicas em postos de saúde, em ginecologistas, são precários. É uma identidade muito marginalizada”, lamenta.

A educadora, que mora em comunidade no bairro Rodolfo Teófilo e se descobriu lésbica aos 21 anos, sintetiza o que é preciso para avançar na luta por direitos de mulheres periféricas: comunicação. “Não existe nenhum trabalho educativo na periferia, a galera tem o imaginário formado pelo senso comum. Não tem campanhas de massa pra população compreender e abrir mão desses preconceitos. Entender que, enquanto seres humanos, existem muito mais coisas que nos assemelham do que diferem”.

Fonte: Diário do Nordeste

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