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Jovens relatam ao Projeto Diversidade Sexual da ABIA, como a pandemia do novo coronavírus alterou suas rotinas


Desde dezembro de 2019 que o mundo vem acompanhando o surto, antes epidêmico apenas na China, até tornar-se uma pandemia global – com estragos também na Itália, Espanha e EUA, atualmente – do novo corona vírus. Isolamento social, isolamento vertical, lockdown (isolamento obrigatório ou compulsório com uso de força policial ou militar), restrições, prevenção e muito álcool gel.

A rotina de muitos lares mundo afora, também no Brasil – apesar das negativas presidenciais -, mudou por completo. Novos hábitos e cuidados tiveram de ser incorporados para se evitar uma infecção por esse patógeno ainda desconhecido. Além disso, efeitos graves vêm sendo sentidos também na rotina de muitos por conta de bloqueios e interdições de mobilidade: nas fronteiras terrestres, aéreas, marítimas – e no caso do Rio de Janeiro, interestaduais e intermunicipais também.

Esse combo nem sempre é digerido nos primeiros momentos, e nem a longo prazo, da forma mais dócil possível. Leva tempo e até acostumar-se com tantas novas regras muitos resistem, outros anseiam além da normalidade, outros irritam-se com mais facilidade e ainda tem aqueles que exploram com mais afinco a criatividade para driblar o isolamento e o tédio de não poder sair de casa. Mas como será que os jovens lidam com isso? De que forma o COVID-19 (nome científico do vírus) de fato afetou ou vem afetando o dia-a-dia de cada um/a deles/delas?

Em busca de alguns relatos sobre isso, o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens colheu alguns depoimentos, de forma virtual via redes sociais, com alguns jovens de diversos lugares da região metropolitana carioca para entender como tá sendo isso na prática de suas vidas.

Confira abaixo alguns depoimentos*:

 

Grace Jones, 23 anos, Queimados (RJ)

“Minha vida já é uma epidemia desde que nasci (risos). Isto tem que passar, por que aqui onde estou, não onde moro, não tem mais nada. Vou ter que ir para a rua ganhar a vida, seja o que Deus quiser. Morro de medo de morrer todos os dias, então esse vírus filho ****, não me assusta muito não. Estou sem fazer nada, nem um centavo eu tenho. O vizinho aqui por uns favores que faço, me passa uma comida pela cerca. Horrível essa situação. O celular está uma **** e vai pifar. Uso a internet do meu anjo da guarda aqui. Dizem que estão dando cestas básicas em um local, mas não sei se darão para mim”.

Paulinha, 26 anos, Niterói (RJ)

“Sou cuidadora de três idosos em casa e é uma barra, pois não temos dinheiro para pagar ninguém para me ajudar. Trabalho em um escritório de Contabilidade, mas não posso fazer nada em casa, pois os computadores são fechado só no escritório. Minha vida estea muito Punk, com medo e exausta de tudo. A falta de dinheiro é pior do que o corona vírus”.

Luiz, 23 anos, Belo Horizonte

“Estou preso no meu quarto! Momento de tensão, muito complicado, sempre tomando cuidado com tudo e com todos, vamos passar por essa, mas virão outras e outras. Muito pessimismo, muito alarde, muita indisciplina por parte da população. Assustador. Estudo veterinária e estou tirando o tempo estudando tudo que posso para os exames”.

Valeria Del, 29 anos, Petrópolis

“Estou por ai. Eu saio mesmo e não estou muito preocupada com tudo que vejo e escuto na TVs, rádios e pessoas me falando. Tenho escutado é muita gordofobia (kkkkk…), pois quando estou andando a pé daqui de casa até ao centro da cidade eu escuto muitas pessoas passarem de carros, motocicletas e gritam – “Vá para casa gordona, balofa,… ” outros nomes que nem gosto de repetir. Chato, não é? Ai eu fico com raiva deles e do corona. Chato, né…? Acho que estou com depressão profunda…choro atoa…”

Claudinho, 18 anos, morro da Babilônia, Leme

“Aqui as coisas estão parcialmente fechadas. As igrejas fecharam todas, mas a comunidade sobe e desce sem parar, inclusive eu que tenho que ir buscar coisas para a minha mãe, avó e tias. O suporte aqui é muito entre familiares, mas tenho tios que estão nem aí. Não fazem nada e ainda entram em casa sem se limpar. Quarentena para eles é coisa de esquerdistas. A vida na comunidade é muito difícil para se controlar tudo isto. Nós moramos todos colados. Ninguém respeita a quarentena, o espaço do outro, inclusive os familiares. Minha avó tem 89 anos e só nós para protegê-la e mesmo assim é muito deficiente esses cuidados. Tenho medo da minha mãe e avó de adoecerem e como vamos cuidar delas ou eu mesmo ficar doente… tenho muito medo. Ninguém aqui em casa sabe que sou gay e nem na praia onde eu trabalho com meus tios”.

Miriam Batista, 22 anos, Cordovil, Cidade Alta

“Tenho Jesus no coração e nada me afetará. Vou na igreja todos os dias e oro muito. Fecharam os portões, mas eu fico do lado de fora com outros irmãos orando. Somos escolhidos por Deus e nada nos acontecerá. Orar é o remédio para essa coisa que está ai”.

Leo San, 21 anos, Complexo da Maré, RJ

“Nisto tudo o que me faz muita falta é sexo (risos). Tô brincando… estou em casa, vendo filmes de sacanagem…kkkkk (também), mas ajudando meu pai a levantar o segundo andar lá de casa para se colocar um telhado. Ele disse que eu tenho que ter uma profissão, mas não quero ser pedreiro, nada contra, mas quero ser cantor. Ninguém lá tem muito medo do coronabicha….kkkkk, é um entra e sai lá de casa, tudo muito colado, sem privacidade…parece que ninguém tem medo. É só começar um churrasco que aparecem como mosca e ficam todos colados, dançando, bebendo, cantando e brigando… tenho um namorado idoso, mas ele me proibiu de ir até a casa dele. Eu queria era mudar para lá, sair desse inferno aqui. Nem sei quando começou isto de quarentena”.

Daniel Stuart, 30 anos, Rio de Janeiro

“Eu demorei para compreender como as coisas ficariam, mesmo estando em home office que no meu caso profissional seria impensável, hoje após dez dia e com férias antecipada aulas na plataforma virtual e sem ir na padaria, posso dizer que o coronavírus alterou 100% o meu modo de vida e de forma negativa. Pois me impossibilita meu direito de ir e vim, tive viagens, consulta tudo cancelado”.

Kamila Leite, 28 anos, Niterói (RJ)

“O covid-19 afetou minha rotina primeiramente no estágio, onde foi suspenso as atividades dos estagiários e aprendizes por tempo indeterminado. Na faculdade minhas aulas foram adiadas por 1 mês e sem previsão para o semestre começar. Quanto a família e amigos, estou sem poder visitá-los.”

Heloísa Souza, 28 anos, Niterói (RJ)

“No meu caso os impactos causados pelo coronavírus se deram bastante no âmbito profissional, pois sou professora e as escolas foram fechadas como medida para combater o avanço da doença… Além disso, meu psicológico, obviamente, tb afetado com toda essa situação, aliada à preocupação com pessoas q ñ podem ficar em casa e estão expostas (pessoas próximas ou não)”.

 

Giovanna Luna, 20 anos, Duque de Caxias.

“O coronavírus afetou não só na minha rotina escolar e de estágio, como afetou também minha rotina social, desde que começou a ser pedido a quarentena não saí mais de casa, ou seja, tem duas semanas que não vejo meus amigos, que não vou à academia e que não curto nem um barzinho no fim do expediente. Já na minha rotina escolar/ trabalho, as coisas foram mais sérias pois esse ano eu me formo e estou simplesmente com o período parado e sem previsão de volta. Já no estágio eles me deram banda de horas e quando isso passar terei que pagar, mudou muita coisa em duas semanas e o pior é não ter certeza de quando isso vai melhorar”.

Gabriela Albano, 35 anos, Higienópolis (RJ)

“Minha situação não é diferente de boa parte dos profissionais informais que ficaram sem trabalho por conta do isolamento. Como estou desempregada, às vezes faço freelas com organização de eventos, revisão textual e aulas particulares, o que me garante algum dinheiro. O adiamento de muitos processos seletivos e a incerteza de como vai ficar a oferta de emprego quando a situação normalizar me preocupa muito. Apesar de tudo isso, sei que esse período de quarentena é extremamente necessária”.

Raíza Elita, 26 anos, Duque de Caxias.

“Particularmente, até o momento não fui tanto afetada, meu maior medo é nos próximos meses, posso receber atrasado ou simplesmente não receber. Estou trabalhando menos agora, mas de qualquer forma tenho que sair de casa e entrar em contato com outras pessoas. Aqui em casa, meu tio continua trabalhando normalmente e minhas primas estão sem estudar até segunda ordem. Mas nos dias que estou em casa, não saio de casa e acompanho todas as notícias e é desesperador. O pior pode vir acontecer, mas tento me manter otimista apesar de tudo”.

Lohan Toledo, 24 anos, Vicente de Carvalho (RJ)

“Amigo, afetou toda a minha vida!!!!!

Estou tirando carteira de motorista pra conquistar um emprego novo e tive que parar”.

Maria Lúcia Meira, 24 anos, Niterói (RJ)

“Eu tenho uma rotina de 8 horas de trabalho na semana e agora com isso mudou bastante. E até o próprio volume de trabalho foi reduzido. Dentro dessa questão eu sinto falta de convívio com a rua, com as pessoas. Eu não sou do RJ, eu moro aqui sozinha. Então minha família é de outro estado. E quando eu vim pro Rio foi justamente por essa questão que o carioca tem com o espaço, com a rua. E pra min que não tenho família aqui isso é muito bom. Mas ao mesmo tempo que tô sozinha, aproveitei para contactar mais a minha família na internet e meus amigos também”.

Paulo Sérgio, 30 anos, Belford Roxo (RJ)

“A pandemia do covid-19 afetou e muito a minha vida. Além de quase perder o emprego, afetou meu lado psicológico. Quando preciso ir a rua, fico sempre em estado de tensão, trêmulo e com medo até de respirar. Vi cerca de 100 famílias da empresa em que atualmente trabalho serem demitidas, vi pessoas próximas contraírem a doença, e com isso me sinto de pés e mãos atadas. Hoje, 28/3, estou em meu 4 dia de quarentena, e o único sentimento em meio a tudo isso é o medo, pois também faço parte do grupo de risco e convivo com pessoas que também fazem parte. Nesse momento só nos restam o medo e a fé.”

Marcos Furtado, 27 anos, Santa Teresa (RJ)

“Comecei a quarentena no dia 17/03. Apesar de viver em uma favela, Pereira da Silva, em Santa Teresa (RJ), tenho privilégios como trabalhar de home office e fazer as aulas da faculdade por meio do acesso remoto. Como sou jornalista, canalizei as minhas energias para produzir reportagens sobre a realidade de moradores de favelas e regiões periféricas. Entrevistei gente da Rocinha, Maré, Cidade de Deus, Belford Roxo, Nova Iguaçu entre outros lugares. Ouvi muitos relatos de gente sem água, vivendo em casas sem estrutura e que, mesmo consciente da importância da prevenção, precisa sair para trabalhar”.

 

*Grafia respeitada conforme a dinâmica de linguagem das redes sociais

 

Texto: Jean Pierry Oliveira e Vagner de Almeida

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