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Jovem da zona norte do Rio conversa com a ABIA e revela como enfrenta o desemprego, os estigmas e fala sobre aplicativos: “hoje vivemos a geração do desinteresse”. (2017)


Texto: Jean Pierry Oliveira

Na tarde da última quinta feira (09/02/17), na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), no Centro (RJ), o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, coordenado por Vagner de Almeida, recebeu o jovem Leandro Avance F. Evangelista para uma entrevista de perfil, inaugurando uma das novas ações positivas voltadas à juventude do projeto em 2017.

Morador do bairro de Jardim América, zona norte da capital carioca, “onde um dia já foi tranquilo, mas hoje tem muitos assaltos”, Avance discorreu sobre seus enfrentamentos diários, como jovem periférico e homossexual, diante de inúmeros dilemas pessoais, familiares e sociais. Especialmente, o desemprego. “Com essa crise eu fui desligado da empresa pois , infelizmente, afetou a área em que eu estava. Eu era auxiliar administrativo numa empresa de petróleo e gás , a Saipem do Brasil, que fazia parcerias com a Petrobrás”, diz ele. Além de estar fora do mercado de trabalho, privando-se de certos luxos ou necessidades nem tão urgentes, porém importantes para si, Avance ainda revela que apesar do apoio da mãe, a cobrança aumenta e a auto estima diminui. “No começo minha mãe estava entendendo, mas agora ela tá (sic) começando a cobrar. Porque ela quer que eu ajude em algumas coisas em casa, mas eu até compreendo o lado dela, porque só ela também não tem como pagar algumas coisas. Mas eu já expliquei a ela que tudo é questão de tempo e é pra ela ter um pouquinho de paciência, porque eu sei que daqui a pouco eu vou conseguir alguma coisa”. E completa: “Estar nessa condição afeta um pouco minha auto estima porque, às vezes, eu quero fazer a barba, por exemplo, e aí tipo, eu quero ir no barbeiro pra ele, sabe, desenhar a barba e eu não tenho dinheiro né (sic)”, lamenta ele.

Anterior a experiência nada agradável de subtração social e econômica, o jovem destaca que, durante sua adolescência, sua sexualidade e o direito de revelar-se também foram violados. “Eu me assumi com 18 anos e, assim, na verdade, foi meu irmão que falou para ela(sua mãe). Ele pegou um diário meu que tinha lá escrito que eu gostava de meninos e ela veio me perguntar. E eu disse que sim, que era verdade. Aí ela falou que ia me levar num psicólogo, só que depois ela começou a mudar o conceito dela e viu que não era nada demais. Mas ela não disse o porque de me levar no psicólogo. Só disse isso e saiu de perto, porque ela meio que ficou em estado de choque e eu fiquei calado com receio dela me bater. Aí comecei a notar que mudou quando levei meu boy em casa”, disse. Entretanto, “hoje em dia, é super tranqüila comigo e, às vezes, quando ela vê alguma reportagem de homofobia na TV ela me chama, pede para tomar cuidado. É muito cuidadosa comigo”.

Bem resolvido consigo mesmo e usuário de aplicativos de relacionamentos, o jovem critica a forma como outros jovens se relacionam hoje em dia. “Ah, hoje em dia o pessoal só quer saber de pegação, ninguém quer nada sério e agora tem a nova “geração do desinteresse”, do sexo fast foda, o famoso sexo rápido. E o desinteresse é de maneira geral, porque eu tenho amigos meus héteros que falam que também está muito difícil, que é pra todos os lados. Ontem mesmo eu tava conversando com um rapaz e a gente (sic) tava tendo um papo maneiro, e aí de repente ele me perguntou se eu era afeminado. Bem, eu não entendi nada. A pessoa não tem que colocar rótulos nas pessoas. Ela tem que conhecer a pessoa primeiro pra poder né, ver o que vai dar. Mas eu acho que antigamente não era assim não. A pessoa demonstrava mais. Eu não sei o que está acontecendo hoje em dia. As pessoas acham que demonstrar (que está gostando) é ser trouxa e é bem complicado”.

E a banalização do sexo traz consigo implicações importantes como a prevenção. Preocupado com sua saúde e atento aqueles com quem se relaciona, Leandro revela que “a AIDS não está escrita na cara de ninguém. Eu me preocupo e uso camisinha sempre, mas tipo, é raro pegar um de aplicativo e ir logo com o carinha pra cama. Já aconteceu sim, sexo casual de boate, de eu ver a pessoa ali e tal, fisicamente, e acabar indo. Nunca aconteceu comigo de transar sem camisinha não”. E destaca uma peculiaridade em seu comportamento sexual. “Eu só fico preocupado quando, por exemplo, a camisinha é do outro. Eu acho que posso estar sendo até um pouco neurótico, mas sei lá, a gente não sabe do que a pessoa é capaz de fazer”, revela. Para ele, apesar de toda a informação presente sobre os riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis, HIV/AIDS, entre outros, é a irresponsabilidade da juventude que determina e incide sobre os inúmeros casos de infecção atuais.

Já sobre suas expectativas para o futuro, o jovem carioca se mostra esperançoso, confiante e com fé. “Eu vou tentar dar o meu melhor, eu vou tentar focar em mim esse ano de 2017. Eu tô (sic) assim bem otimista porque eu acho que as coisas vão dar certo. Tudo é a força do pensamento. Só Deus mesmo”.

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