Como é ser LGBT, negro e jovem na Baixada Fluminense? Foi esse o ponto de partida para as discussões da Roda de Conversa sobre LGBT’s na Baixada Fluminense, realizado na última sexta feira (19/08/16), no calçadão de Nilópolis, na cidade de mesmo nome.
Organizada pela ONG CIAFRO (Centro de Integração da Cultura Afrobrasileira) em parceria com a Prefeitura de Nilópolis e a Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos, o assistente de projetos Jean Pierry Oliveira do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA, representou a instituição no evento como mediador e outros participantes do projeto estiveram contribuindo e compartilhando com todos que ali paravam para ouvir, perguntar e aprender sobre o tema. Em alusão ao projeto “Identidade Negra: Moda, Arte e Cultura” desenvolvida nesta cidade toda quinzena, a roda de conversa teve como objetivo debater os principais desafios, experiências e vicissitudes da população negra, juvenil e outras minorias. Com uma mesa composta por jovens e adultos LGBT’s, Jean Pierry questionou, como é a experiência de ser um LGBT na região. “Para mim não é tão difícil, pois talvez por eu ser mais feminilizada as pessoas não encaram ou estranham que eu seja lésbica, não me vêem assim. Entretanto, sei que as experiências de outras pessoas da comunidade LGBT são totalmente diferentes das minhas e isso também, querendo ou não, me atinge e é uma luta de todos nós”, afirmou a jovem Thayane Christinne.
Para a recepcionista e Miss Trans de Nilópolis, Bárbara Joy, “é um orgulho poder viver na minha cidade sendo reconhecida por aquilo que eu sou. Tenho nome social, fui casada, tive todos meus direitos e hoje sou viúva, recebendo também pensão como qualquer esposa que perde o marido. Me sinto bem em minha cidade”, disse ela. Porém completou: “mas eu sei que essa não é a realidade de todas. Essa semana mesmo duas transexuais foram maltratadas por um senhor no supermercado que ficou incomodado delas entrarem no banheiro feminino, onde suas filhas e mulher tinham entrado. Ainda tem muita gente fechada que precisa saber mais sobre nós mulheres transexuais”, revelou. Outro destaque que não passou batido pelo debate informal no calçadão popular foi sobre o HIV/AIDS entre o público LGBT. Indagado pelo assistente de projetos sobre os índices do vírus que ainda alarmam esta população, assim como outras, o psicólogo e ativista Tiago Santos foi enfático. “O HIV/AIDS ainda é visto por algumas pessoas como apenas transmissível entre os homossexuais. Tudo por uma visão muito estigmatizada que coloca como anormal aquilo que foge da heteronormatividade e que as igrejas sustentam como o certo”, criticou.
Sobre isso, o estudante de jornalismo Marcos Furtado pôde ser mais realista. Ex-pregador de igreja evangélica, o jovem descobriu-se homossexual dentro da denominação e por anos viveu dividido entre o desejo e a obrigação. “Acredito que até mesmo por isso o Papa Francisco esteja fazendo algo correto que é levar a palavra de Deus com muito amor. Eu passei anos sofrendo por não poder ser aquilo que eu sou, achando que era pecado, sujo e que eu seria punido”, pontua.
Encerrando a Roda de Conversa, Jean Pierry Oliveira deixou uma mensagem dizendo que “é importante falarmos e conscientizarmos todos os cidadãos sobre as questões LGBT, principalmente na Baixada Fluminense. Eu trabalho com HIV/AIDS e no movimento social e vejo o quanto somos negligenciados nas questões de saúde, educação e sociedade. Precisamos que entendam que não lutamos por privilégios, mas sim por direitos”, acrescentou