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Jornalista da zona leste lança livro sobre a saúde sexual de lésbicas e bissexuais


Cauê Conessa/Divulgação

Em 2015, a jornalista Larissa Darc, 21, sentiu alterações ginecológicas no corpo. Moradora da periferia, no Parque do Carmo, zona leste de São Paulo, ela tentou marcar uma consulta pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas percebeu que a espera seria demorada.

Com medo de complicações, procurou um farmacêutico de confiança e tomou antibióticos sem prescrição.

Quando finalmente conseguiu ser atendida, o médico lhe disse que não precisava ser examinada, porque ela só havia tido relações sexuais com meninas, o que na concepção do profissional, a fazia ser virgem ainda. Larissa precisou insistir para conseguir o direito de ser examinada.

O episódio despertou a vontade de escrever sobre a saúde sexual de mulheres que amam outras mulheres e resultou no livro “Vem Cá”, que será lançado nesta terça-feira (19), no espaço Tapera Taperá, na região central da cidade.

Em um tom de bate papo, o livro foi escrito em primeira pessoa. A jornalista optou por colocar a vivência pessoal no texto. “O que eu percebia quando lia textos sobre sexo lésbico, era que eles não eram escritos por lésbicas ou bissexuais, porque eram carregados de preconceito e fetichização”, diz Larissa.

“Sinto que as meninas não se sentem representadas pelo que já existe hoje. Quis chamar a pessoa para uma conversa, porque precisamos saber que estamos sendo ouvidas por pessoas que entendem a gente.”

A obra foi o projeto de conclusão de curso em jornalismo de Larissa, que durante um ano imergiu no universo do sexo entre vaginas. Larissa é correspondente da Agência Mural.

Com prefácio da jornalista Beatriz Sanz e dividido em seis capítulos, o livro abrange aspectos que envolvem a saúde sexual de mulheres lésbicas e bissexuais, como o atendimento médico, as infecções que podem ser transmitidas e o prazer.

Além disso, discute a heteronormatividade: “as expectativas comportamentais que estruturam os campos da vida de uma pessoa, como os papéis de gênero associados à masculinidade e feminilidade”, nas palavras da autora.

INVISIBILIDADE

De acordo com a jornalista, o mais difícil durante o processo foi encontrar material de apoio e especialistas mulheres para falar sobre o assunto. A autora defende que há ainda um imaginário sobre o sexo lésbico que se distancia do real, o que é prejudicial para a vida das garotas.

O livro também aponta que, no geral, mulheres lésbicas e bissexuais não possuem atendimento ginecológico adequado e ficam expostas a contrair ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), sem muitas vezes saber desses riscos.

Larissa traz casos de garotas lésbicas que tiveram problemas de saúde, como câncer no colo do útero. Também mostra meninas que passaram por momento de violência dos seus corpos, devido a falta de humanização do profissional de saúde em lidar com mulheres que possuem uma vida sexual ativa, mas não com homens.

Além da dificuldade no atendimento, outro ponto levantado pela jornalista é a inexistência de métodos de prevenção pensadas para o sexo entre mulheres.

A obra explica sobre as chamadas “gambiarras”, na qual meninas utilizam outros elementos na hora do sexo para tentar ter alguma proteção. “A camisinha, tanto masculina como feminina é feita especificamente para o pênis”, aponta Larissa.

“A preocupação com os corpos das mulheres é muito recente e pensar sobre os corpos de mulheres que não se relacionam com homens, mais recente ainda. O primeiro passo que estou tentando fazer com o livro é conscientizar as pessoas sobre isso”.

PESQUISA VIRA TRABALHO

O livro foi custeado pela autora. Alguns serviços foram feitos por amigas, como a arte da capa, de Bruna Campos. Entre impressão, compra de registo e revisão, a jornalista gastou cerca de R$2.500.

Um dos problemas de não ter apoio foi a hora de levar os livros impressos para casa. “Eu não tinha dinheiro para o frete. Como eu traria 100 livros para casa?”. A alternativa foi chamar o irmão para ajudar e com uma mala de viagem e uma mochila carregar o material até a zona leste.

“Queria muito ter uma editora para me dar suporte, mas eu tinha um pouco de urgência, então decidi fazer por conta”.

Pouco depois de terminar o livro, Larissa começou a trabalhar em uma ONG de comunicação de educação e sexualidade e pretende continuar pesquisando sobre a saúde de mulheres bissexuais e lésbicas.

“Estou trabalhando com o que pesquisava e agora quero trabalhar ainda mais. Enquanto puder, quero lutar para que as mulheres tenham acesso a prazer. A gente tem que cuidar da gente, da nossa saúde e da saúde da outras. Cuidar da saúde sexual não é frescura, não é bobagem”.

Fonte: Folha de São Paulo

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