O Instituto Vida Nova, ONG/aids que atua na zona leste de São Paulo, realiza no próximo dia 31 de janeiro, na sede da instituição, uma série de atividades em alusão ao Dia da Visibilidade Trans, celebrado no dia 29 de janeiro. O evento é gratuito e a ideia é fazer uma reflexão sobre a vida de travestis e homens e mulheres transexuais que lutam diariamente por trabalho, políticas de saúde, contra a violência e pelo reconhecimento da própria existência.
“Desde o ano passado estamos trabalhando para levar informações sobre prevenção e tratamento contra a aids para a população trans da periferia de São Paulo. Trazer este público para a sede do Vida Nova é contribuir diretamente para fomento das políticas públicas na base”, explicou Américo Nunes Neto, fundador do Vida Nova.
Segundo o ativista, não dá para desassociar a população trans da epidemia de HIV. “Não temos dados específicos sobre o número de trans vivendo com HIV/aids no Brasil, mas sabemos que essa população é bastante atingida pela doença, com uma prevalência de HIV de mais 30%. Por isso, estamos focados em levar conhecimento sobre prevenção combinada para o maior número de travestis e transexuais.”
As atividades iniciam às 15h do dia 31, com uma roda de conversa sobre o Projeto TransPrevenção. “Acreditamos que a maior marca deste projeto é o empoderamento em saúde desta população. Muitas participantes desconheciam, por exemplo, as novas tecnologias de prevenção. Outras nem sabiam sobre o direto que elas têm de acessar hormonioterapia no SUS.”
Às 18h, as participantes serão convidadas para uma atividade lúdica de massagem e relaxamento. Está programado atividade física com piscina.
A programação chega ao fim com um jantar especial preparado pela equipe de voluntários Vida Nova. No cardápio terá muita dose de amor e carinho para celebrar a data.
O Projeto
Premiado em dezembro de 2019 pelo Secretaria de Vigilância em Saúde, o Transprevenção já alcançou quase 200 trans em São Paulo, com 40 rodas de conversa. Também foram realizadas parcerias com os Centros de Testagem em Aconselhamento, com ofertas de testagem para HIV, sífilis e hepatite B e C.
Dados preliminares da iniciativa apontam que 78% das participantes não conheciam a mandala da prevenção. Mas mais da metade (54,7%) disseram que se sentiam vulnerável ao HIV. 75,8% já trabalhou como profissional do sexo. O dado mais preocupante, segundo Américo, é sobre suicídio: 25% delas já tentaram se suicidar.
“A transexualidade precisa ser entendida na sua complexidade e profundidade pelas instituições para melhor acolhê-la, considerando a saúde como um bem-estar biopsicossocial. Ela deve ser reconhecida também como uma expressão da diversidade humana”, disse o militante, completanto que a Instituição está bem feliz com os resultados alcançados no TransPrevenção. “Já conseguimos identificar multiplicadoras de informações a partir das rodas de conversa. Além disso, é comum ouvir das participantes a importância desta iniciativa para a construção da autoconfiança”, completou.
Visibilidade Trans
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado sempre em 29 de janeiro. A data marca uma das primeiras iniciativas públicas contra a transfobia, a campanha Travesti e Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos, lançada em 2004 pelo Ministério da Saúde.
De lá para cá, conquistas foram obtidas por essa população. Uma delas foi o decreto presidencial, publicado em abril de 2016, que autorizou o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal.
Mas nem tudo são flores. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas em 2017, ocorreram 179 assassinatos de travestis ou transexuais no Brasil, o maior índice de homicídios relacionados à transfobia em 10 anos. Isso significa que, a cada 48 horas, uma pessoa trans é morta no país.
Organizações que atuam em defesa dos direitos dessa população apontam que políticas são necessárias para romper com esse cenário de violência. “Nem sempre os serviços de saúde estão preparados para atender as especificidades desta população, fazendo com que migrem para outros municípios em busca da saúde integral. É preciso mudar essa realidade”, finalizou Américo.
O evento no Vida Nova é aberto especialmente a população de travestis e transexuais da zona leste de São Paulo. É necessário confirmar presença por meio do Whatsapp oficial do projeto: (11) 98212-6950.
Fonte: Agência de Notícias da AIDS – Talita Martins