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Igor Fernandez e Evandro Santo mostram como é complicado ser um gay famoso no Brasil


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Até pouco tempo, só atores de uma certa idade, livres da obrigação de encarnar galãs românticos, é que assumiam sua homossexualidade numa boa. Foi o que aconteceu com Marco Nanini e Luís Fernando Guimarães, cujas saídas do armário não provocaram maiores rebuliços.

Há poucos dias, Reynaldo Gianecchini afirmou ser bissexual durante uma entrevista, e foi bastante aplaudido pela coragem –afinal, ele ainda é protagonista de novelas. Também houve muita gente resmungando “eu já sabia”, mas isto era mais do que esperado.

O caso de Igor Fernandez é inédito. O ator de 23 anos está tendo seu primeiro papel de destaque na novela “Bom Sucesso” (Globo), como o personagem Luan. Nesta segunda (21), Igor compartilhou um vídeo em seu perfil no Twitter, comemorando os cinco anos de namoro com Gabriel Soares. Não me lembro de outro jovem galã se assumir gay tão cedo na carreira.

E, para variar, os internautas se dividiram. Muitos desejaram felicidades ao casal. Alguns lembraram do fogo do inferno, porque Igor e Gabriel estariam contrariando as leis divinas. Mas a maioria dos comentários negativos procurou disfarçar a homofobia: a notícia seria “irrelevante”, com tantas outras coisas mais importantes acontecendo no mundo e nhé-nhé-nhé.

O contraste com Evandro Santo é curioso. O humorista, conhecido pelo personagem Christian Pior do extinto programa Pânico, nunca escondeu de ninguém sua homossexualidade. Na sexta passada (18), Evandro Santo foi agredido depois de um show em Marília, no interior de São Paulo. Um espectador, alvo de uma brincadeira durante o espetáculo, o esmurrou depois da apresentação.

Além da esperada divisão nos comentários na internet –muita gente se solidarizando com o ator, outros tantos dizendo que ele “apanhou pouco”– também surgiram críticas vindas da própria comunidade LGBT.

Críticas, a meu ver, até justificadas. Ao longo dos anos, Evandro Santo não só jamais defendeu os direitos igualitários, como chegou a declarar que no Brasil não existe homofobia (há registros em vídeo dele dizendo isto). Evandro também posou algumas vezes abraçado a Jair Bolsonaro, mesmo depois do atual presidente ter dito que preferia ter um filho morto a um filho gay.

Ao ser vítima de uma estúpida agressão homofóbica, Evandro estaria, portanto, provando do próprio veneno. Eu não chego ao ponto de dizer que ele mereceu apanhar, é claro. Mas torço para que este episódio lamentável abra um pouco seus olhos para a realidade cruel em que vivem milhões de LGBTs no Brasil.

Evandro e Igor são dois exemplos distintos do momento peculiar pelo qual passa o movimento gay (e suas inúmeras ramificações) entre nós. O Brasil já permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao mesmo tempo em que é o país do mundo que mais mata homossexuais, transexuais e travestis.

Uma parcela crescente do público não está nem aí para a orientação sexual das celebridades, e até se alegra quando uma delas exibe em público seu parceiro do mesmo gênero. Uma outra parte resiste ao progresso e insiste nos valores da Idade Média, ainda que sob uma camada superficial de polidez. No meio dessa balbúrdia, não são raros os casos de gays como Evandro Santo, que misturam sinceridade e ignorância no mesmo pacote.

Desejo sorte aos dois. Que Igor Fernandez tenha uma longa e bem-sucedida carreira, e que seja feliz ao lado de quem quiser. E que Evandro Santo pare de bajular seus inimigos, e venha lutar com quem já está do lado dele.

Fonte: Tony Góes/Folha de São Paulo

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