Mas, nesta edição, pelo menos três filmes abordam o assunto das crianças e adolescentes trans. Por coincidência ou não, o tema veio com peso nessa edição da Berlinale. Eles trazem em seus enredos a vida de uma pessoa que descobre durante seu crescimento sua verdadeira identidade.
O filme de Gil Baroni conta a história de Alice, uma adolescente transgênero que é forçada a se adaptar a um novo sistema de vida ao se mudar da badalação da capital pernambucana para uma cidade do interior do Sul, lidando com o conservadorismo do lugar.
“Ser uma pessoa trans hoje no mundo é saber que seu corpo é político, que ele exala resistência”, declarou o cineasta brasileiro sobre sua obra. “Nunca se produziu tantos filmes como essas temáticas no Brasil. Quanto mais a gente sente que existe um processo ou uma onda conservadora, mais nós, da comunidade LGBTQI+, sentimos que existe uma necessidade de expressar e pôr isso em pauta e em discussão nas telas, na internet, e em todos os lugares”, ressaltou Baroni.
Ele acrescenta que decidiu apresentá-lo com uma pegada mais leve e humorada, mas sem perder o tom de militantismo. “Alice é uma adolescente trans que tem um sonho muito simples, que é dar o seu primeiro beijo”.
O documentário “Petite Fille” de Sébastien Lifshitz mostra a gradual evolução de Sacha, uma menina de sete anos nascida no corpo de um menino. A rotina da família de Sacha foi acompanhada durante meses, e é trazida sob uma perspectiva delicada.
O filme mostra tanto o desespero de uma mãe que tenta apenas ver sua filha “ter uma infância como todas as outras crianças” quanto a perspectiva da pedopsiquiatra da menina.
“Petite Fille” define a questão da disforia de gênero, que são momentos quando a pessoa tem uma dissociação da visão sobre a aparência externa e a identidade psicológica, e que é mais intenso durante a infância e a adolescência.
Lifshitz espera que seu filme, aclamado no festival e que também faz parte da mostra Panorama, possa ser mostrado em estabelecimentos de ensino para auxiliar a formação de futuros professores com essa questão.
Fonte: Observatório G