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“Essa pandemia me deu muito tempo para pensar em como seria a minha vida daqui pra frente”, afirma jovem carioca em entrevista ao Projeto


Foto: Arquivo pessoal

Ressignificar diz respeito ao ato ou ação de dar novo sentido a algo na vida. Mais do que palavras, o verbo que o define é atitude. E quando ela vem acompanhada de reflexões, essa dualidade só tende a fortalecer a individualidade, a saúde mental e os planos para a vida.

Foi buscando novos horizontes que a jovem Wendy Nascimento, de 27 anos, da zona norte do Rio de Janeiro não se furtou em fazer desses momentos incertos causados pela pandemia do novo coronavírus, o momento para dar o turning point (ponto de virada) que sua vida precisava. Refez laços perdidos de amizade, abriu espaço para ouvir mais e debater de menos, compartilhou afeto com a adoção de uma nova companhia de quatro patas em casa e certa de que sairá diferente de toda essa experiência quando tudo passar.

Confira abaixo a entrevista da representante do mês de agosto do Fala Jovem no Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens na íntegra:

 

1- Apresentação 

R: Wendy do Nascimento Sobral, 27 anos.

2 – Você reside na Zona Norte do Rio, certo? Quais os principais desafios de morar nessa região?

R: Sim, moro especificamente na Penha Circular. O maior desafio é a questão da violência, sempre tem conflitos nas comunidades vizinhas, assaltos. É muito difícil sair de casa e não saber se você vai voltar “inteiro”. Mas, em contrapartida, o lado positivo é que tem bastante comércio e transportes públicos variados.

3 – Como é a relação com sua família? Mora com eles? 

R: Sim, moro com meus pais. Na maior parte complicada, porque todo mundo aqui tem opiniões beeeeem diferentes, dificulta o diálogo. Ninguém nunca está errado. Mas tem coisas que é melhor fingir demência para não passar raiva, e com o tempo a gente entende (no meu caso) que certas discussões nem valem o desgaste emocional e tento conviver da melhor maneira possível.

4 – Sobre a pandemia, de que forma o isolamento social causado pelo coronavírus afeta ou já afetou sua saúde mental? E o que tem feito para distrair a mente e evitar os gatilhos psicológicos?

R: Quando começou a ser divulgado os milhares de mortos pelo mundo inteiro me bateu um desespero, um medo de morrer, tinha noites que não conseguia dormir de tanto chorar. A ansiedade gritava, viver na incerteza me deixa muito afetada, ainda mais com o fato de que a pessoa que estivesse contaminada teria a maior possibilidade de morrer “sozinha”, sem ninguém para segurar a mão sabe. Essa pandemia me deu muito tempo para pensar em como seria a minha vida, em como eu agiria com as pessoas daqui pra frente, tentar ser mais próximo possível das pessoas que amo.

Quase 1 mês depois de isolamento abandonaram cinco filhotes de gato em frente à minha casa, eu e a vizinhança adotamos, fiquei com uma. Acredito que tenha sido um presente do universo para me mostrar que nem tudo está perdido, claro que abandono de animais é crime previsto por lei e a pessoa que fez isso deveria pagar pelo feito, porém fico feliz em ter estado lá para acolher ao menos um. E posso dizer que depois disso tudo as coisas ficaram um pouco melhores, claro que ainda tenho ansiedade, mas nada se compara como era antes. A Amy chegou para transformar, minha distração e pensamento são todos voltados a ela.

5 – Da mesmo que a política, a pandemia foi politizada entre os brasileiros. Isso se refletiu nas suas amizades e familiares também?

R: Ainda bem que tenho amigos que pensam parecido comigo, as pessoas que tive conflito e com certeza acreditam que é só uma “gripezinha” ficaram para trás lá na época das eleições em 2018.

6 – Como você avalia o combate ao coronavírus no Rio de Janeiro?

R: Sinceramente, eu não acho que tenha de fato um combate. Um estado que tem quase 170 mil infectados, quase 15 mil mortes e nenhuma recuperação (estatisticamente até o momento), a meu ver não está fazendo nada. A cada dia os números crescem exponencialmente, não só no Rio como no Brasil todo, e ainda sim insistem na história de fase para reabertura do comércio.

Que reabertura, se nunca fechou? Que isolamento, se ninguém respeita? As mídias sociais estão aí para nos mostrar todos os dias as pessoas vivendo como se nada estivesse acontecendo. Shoppings, Bares, Praias todos cheios, depois a população quer uma solução. Mas que solução se ninguém respeita nada? Mas é claro que a maior parcela de culpa é do Estado, que não tem o mínimo de respaldo para com a sua população. Deveria ter sido decretado lockdown desde o início, mas acredito que se tivesse estaria do mesmo jeito.

7 – Você é formada em Comunicação Social. Como avalia o papel da imprensa e da publicidade nesse período?

R: A imprensa é essencial nesse momento de crise, ela é quem nos passa as informações do que acontece no mundo, mas acho que muita coisa não é divulgada por interesses políticos.

Já a publicidade continua quase a mesma coisa que é vender ideias, serviços, produtos, fazer com que a marca seja lembrada, só que com uma dificuldade maior, pois os consumidores estão mais conectados do que nunca e a demanda de informações é altíssima.

Relacionamento e Prevenção

8 – Sobre a questão da prevenção, você tinha abertura para conversar isso dentro de casa? Ou o assunto era tabu? Quando tinha dúvidas ou dilemas nesse sentido, como buscava resolvê-los?

R: Acredito que abertura para o assunto deveria ter, mas nunca me senti a vontade de conversar sobre. Sempre busquei informação na internet e caso não solucionasse as minhas dúvidas perguntava as amigas que eu sabia que teria tal informação.

9 – Qual o papel ou importância da prevenção em seus relacionamentos?

R: Por mais que estejamos com alguém ou não, nunca saberemos quem as pessoas realmente são, e acredito que ninguém deveria estar disposto a correr riscos com a própria saúde ou até mesmo uma gravidez indesejada. É fundamental se proteger e estar atento a todos os métodos possíveis de prevenção.

10 – Geralmente as mulheres têm dificuldades para acessar serviços voltados para os direitos sexuais e reprodutivos (camisinha feminina, DIU, laqueadura, aborto etc). Como você avalia isso? Acredita que o machismo influencia ou o Estado não dá conta da demanda?

R: Quando se trata de nós (Mulheres) o machismo impera, apesar de estarmos no século XXI e de tanta luta para chegarmos até aqui. São assuntos que ainda são tabus perante uma sociedade que não está preparada para reconhecer e muito menos entender esses direitos, mas é dever do Estado ampliar o acesso a esses serviços.

11 – Jovens de 15 a 29 anos são uma das principais parcelas populacionais, atualmente, no que diz respeito aos índices de infecção por HIV/AIDS no Brasil. Ao mesmo tempo, nunca se teve tanto acesso à informações e outras tecnologias. Em sua opinião, o que faz com que a juventude se infecte tanto atualmente por HIV?

R: Apesar da juventude ter informações e tecnologias nas mãos, não quer dizer que ela saiba o que procurar, não quer dizer que ela vá se informar sobre esses assuntos, por isso a importância da educação sexual nas escolas, o jovem precisa se preparar para a vida sexual de uma forma segura e esclarecer as dúvidas sobre preservativos, DSTs, organismos feminino e masculino etc.

12 – A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) trabalha, bem como o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, envolvida em questões do HIV/AIDS, prevenção, direitos humanos e justiça social para com populações vulneráveis (soropositivos, LGBTs, comunidades, jovens, negros, mulheres etc). Você considera que esses tipos de ações são importantes? Por quê?

R: Com certeza, nem todo mundo tem acesso à informação. O trabalho de vocês é excelente, fico imensamente feliz por terem Projetos como esse que buscam passar esse tipo de informação e que acolhe essas populações. Vejo que nem tudo está perdido e que ainda podemos ter esperanças de que tudo um dia possa melhorar e que as pessoas a cada dia mais estejam devidamente informadas.

Futuro

13 – Qual sua perspectiva para o futuro?

R: Sinceramente?! Dizer que espero um mundo melhor é difícil. A cada dia uma nova informação de como o mundo anda doente e como as pessoas andam regredindo. É muito doloroso não ver perspectiva, quantas lutas diárias, lutas de desde que o mundo é mundo. O ano é 2020 e temos que dizer o óbvio, temos que lutar pelo óbvio, é cansativo. A única coisa que eu posso desejar é RESPEITO, somos seres humanos, indivíduos com suas particularidades e é preciso aprender a respeitá-las e entender que o que o outro “escolhe” para a própria vida é problema dele e não seu.

14 – Acredita que sairemos diferentes e que tiraremos lições importantes para o mundo pós-pandemia?

R: Eu, Wendy, acredito que sairei diferente sim, olharei as coisas com mais carinho, com novas perspectivas, valorizar cada momento com amigos e familiares. Só assim para a gente perceber o quanto o outro é importante na nossa vida.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

Foto: Arquivo pessoal

 

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