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Especialistas da AIDS debatem sobre os novos desafios diante da COVID-19


A banalização e a indiferença diante do número de mortes pela COVID-19, o recrudescimento do estigma e da discriminação e o Estado responsável pela destruição dos sistemas públicos de saúde foram algumas das reflexões surgidas na videoconferência “Quais as lições da pandemia do HIV/AIDS para a pandemia COVID-19”.

Organizada pela Universidade Federal de Ciências em Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), com o apoio de um pool de organizações, dentre elas a ABIA, a conversa – cuja transmissão foi ao vivo na manhã desta sexta-feira (22/05) – reuniu pesquisadores no campo do HIV/AIDS no país e na América Latina: o diretor-presidente da ABIA, Richard Parker (UFRJ), o pesquisador Mario Martin Pecheny, da Universidade de Buenos Aires (UBA/CONICET) e o vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr. Também participaram como debatedores os pesquisadores Paulo Gilberto C. Leivas (UFCSPA/MPF) e Roger Raupp Rios (TRF-4/UNISINOS).

Parker iniciou a conversa relembrando como a ciência partiu do zero e teve que inventar novas categorias no surgimento da AIDS. O diretor-presidente da ABIA também enfatizou o problema do estigma e da discriminação que assim como na AIDS, mas por razões diversas, tem surgido na pandemia da COVID-19. Segundo ele, o mesmo tem acontecido com a ideia de grupo de risco e as condições de vulnerabilidade social, pois foi a definição de vulnerabilidade social que abriu espaço para pensar a maneira que a sociedade reage à COVID-19. Parker chama atenção para o fenômeno:

“O conceito de vulnerabilidade foi central na AIDS e aos poucos fomos perdendo esta centralidade com a biomedicalização e suas respostas eficazes para a epidemia. O UNAIDS chegou a pedir para não usar a palavra vulnerabilidade para não fortalecer o estigma. Hoje vemos como isso foi uma grande ilusão porque se não enfrentarmos as políticas destrutivas e as desigualdades, não vamos adiante e permitimos quase que um genocídio de populações vulneráveis”, afirmou Parker.

Já o vice-presidente da ABIA, Terto Jr., se disse impressionado com a banalização e a indiferença diante do número de mortes causadas pelo novo coronavírus. Ele lembrou que até recentemente as 12 mil mortes por ano causadas pela AIDS no país era motivo de indignação. De acordo com Terto Jr., a mobilização para responder à AIDS começou com um movimento contrário à banalização das mortes.

“Todos nós que éramos afetados pela AIDS costurávamos colchas com os nomes das pessoas que haviam morrido e levávamos nos eventos. Não temos como fazer isso na COVID-19. Mas será que não tem outro tipo de reação?”, indagou. Para Terto Jr., enquanto a AIDS fomentou a reorganização dos grupos mais afetados num momento de reabertura política, o novo coronavírus chegou no país num momento de decomposição da sociedade e dos sistemas. “Com menos mortes, a AIDS conseguiu mobilizar discursos e políticas e hoje, com todas as mortes da COVID-19, a gente não está conseguindo se mobilizar para reagir a isso”, disse o vice-presidente da ABIA.

Para o argentino Mario Martin Pecheny (UBA/CONICET), o Estado não é somente um ator que surge para responder à pandemia da COVID-19, mas quem cria e reproduz as condições de vulnerabilidade. “O Estado não é um ator que aparece depois da vulnerabilidade. O Estado vem responder a pandemia, mas durante anos destruiu o sistema de saúde e, portanto, criou essas condições de vulnerabilidade. Como no HIV, o Estado deve dar condições e acesso ao tratamento do novo coronavírus”, afirmou.

Pecheny também trouxe informações sobre a pandemia na Argentina e os casos de estigma e discriminação que já começaram a surgir por lá. “As pessoas que já saíram do hospital e voltaram para casa estão enfrentando estigmas na Argentina. Não podemos banalizar nada na COVID e devemos saber que estamos diante de algo terrível. Precisamos reformular o cuidado em situações simples como visitar a avó”, concluiu.

Apesar de elogiada pelo alto nível do debate, a iniciativa foi criticada no chat por não ter nem mulheres e nem pesquisadores/as negros/as entre os palestrantes convidados. A organização respondeu que estará atenta nos próximos ciclos de debates que serão promovidos pela universidade. Ainda de acordo com a organização, a conversa realizada nesta manhã do dia 22/05 será disponibilizada em podcast.

Confira também a versão em inglês do texto.

Por Angélica Basthi

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