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Empreendedoras lésbicas dão visibilidade e empregos ao movimento LGBTQ+


Imagem: Lucas Seixas/Folhapress

Como driblar o preconceito que dificulta a inserção de mulheres homossexuais no mercado de trabalho? Empreendedoras lésbicas encontraram uma solução ao lançar negócios que dão visibilidade ao movimento LGBTQ+, com ênfase na letra L.

É o caso da jornalista mineira Maira Reis, 36, fundadora da Camaleao.co, que faz a ponte entre oportunidades de emprego em empresas e um banco de talentos “colorido”, composto por profissionais lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer e outros.

Segundo o Relatório Brasil LGBT 2030, realizado pela consultoria especializada OutNow, 9,5 milhões de brasileiros fazem parte desse arco-íris de identidades de gênero e orientações sexuais. Mas a empregabilidade LGBTQ+ ainda traz tabus: 38% das empresas brasileiras têm restrições na hora de contratar homossexuais, segundo estudo da consultoria de engajamento Santo Caos; e 17% não contratariam LGBTQ+s para cargos de chefia, de acordo com dados recentes do site de recrutamento Elancers. “Minha meta é melhorar esses números”, diz Maira.

Você sabe de uma vaga?

Influente na rede social de relacionamento profissional LinkedIn desde 2015, a jornalista começou a receber mensagens do público LGBTQ+ em busca de oportunidades no mercado: “Eu tenho experiência na área X, Y ou Z, queria saber se você sabe de uma vaga para indicar meu currículo…”

Um dia, ela notou que tinha mais de 30 currículos na caixa de mensagens. Após uma conversa com uma amiga da área de recursos humanos, ela decidiu organizar um banco de talentos e encaminhar CVs para recrutadores. A ideia, diz, é compor um banco plural que promova a diversidade no mercado de trabalho. Bingo: uma rede de hotéis contratou uma pessoa trans a partir dessa ponte, o que validou a ideia da startup.

Hoje, Maira tem mais de 1.100 currículos cadastrados e está desenvolvendo um aplicativo para a Camaleao.co, que deve ser lançado até o fim do ano. O time de desenvolvimento do app é composto por cinco mulheres, três delas lésbicas. “Ter um projeto capitaneado por mulheres, a maioria lésbica, não é simples, principalmente considerando os desafios do empreendedorismo, como a falta de grana. Todo dia você é desafiado. Mas podemos contribuir para coisas impactantes. A gente quer revolucionar o mercado”, diz.

Produtos coloridos

No universo de startups, as empreendedoras e o mercado LGBTQ+ (o chamado “pink money”) estão em alta. De acordo com o levantamento mundial Global Entrepreneurship Monitor 2017/2018, que, no Brasil, é realizado em parceria com o Sebrae, as mulheres foram responsáveis por mais de metade dos novos negócios abertos (51%). Para Nanny Mathias, 28, novos empreendimentos contribuem para romper estereótipos sobre a ideia de incapacidade de lésbicas.

“Uma mulher que sente atração somente por mulheres é até taxada de querer ser homem. Elas são responsáveis por diversas descobertas e criações, mas, por muito tempo, os créditos foram apenas para eles”, diz a idealizadora do Festival Feira Colorida, que reúne empreendedores LGBTQ+ no Rio de Janeiro. Nanny, que se identifica como “lésbica, preta, periférica com muito orgulho”, foi uma das palestrantes do Encontro: Diversidade e Empreendedorismo LGBTI, realizado pelo Facebook.

Após viver episódios de assédio por chefes e perder oportunidades de emprego, o caminho foi empreender. Em 2017, ela fundou a marca Love Pride, de camisetas com ilustrações relacionadas à diversidade sexual, com apoio da mulher, Isabelly Rossi. Em 2018, conseguiu engajar outros empreendedores, ativistas, artistas e simpatizantes da causa, para a primeira edição da feira de “produtos coloridos”, além de ações sociais e campanhas no Parque Madureira, no Rio. No dia 7 de setembro, acontece a terceira edição do festival, na Areninha Hermeto Pascoal, na capital fluminense.

Uma livraria que se tornou feminista

O negócio da catarinense Nanni Rios, 32, é a palavra. Formada em jornalismo, a produtora cultural se tornou uma das personalidades mais ativas na defesa da causa feminista e LGBTQ+ de Porto Alegre.

Depois de tempos trabalhando em uma editora, ela fundou a Livraria Baleia na capital gaúcha, em 2014. Inicialmente, a proposta era oferecer ao leitor uma curadoria especial de leituras. “Comecei com os livros e temas de que eu gostava, lidos ou não, mas que, de alguma forma, eu pudesse apresentar a história ou o/a autor/a a quem se interessasse. Assim, a livraria não nasceu feminista, mas se tornou feminista”, diz.

As estantes são dedicadas a escritoras feministas e títulos relacionados a diversidade e direitos humanos. Além de lançamentos de livros, incluindo obras de autoras como Alice Ruiz, Heloisa Buarque de Hollanda, Carola Saavedra e Angélica Freitas, a livraria abriga workshops e rodas de conversa.

“Alguns temas foram ignorados pela sociedade por muito tempo. No caso de uma livraria, é muito difícil que uma pessoa que não seja LGBT se dedique a buscar livros sobre a temática e formar um acervo acolhedor para esse público”, diz. “Uma pessoa não LGBT pode muito bem fazer um ótimo trabalho nesse sentido, mas confio que a gente precise tomar as rédeas da nossa revolução também”.

Segundo Nanni, a presença de lésbicas na liderança de negócios (não necessariamente focados no público LGBTQ+) é importante para restaurar “a possibilidade de sucesso que foi apagada do nosso imaginário ao longo dos tempos e substituída pela imagem de que lésbica é uma mulher que ‘não deu certo'”, por não ter uma família “tradicional” ou por ter posições mais firmes e não ser submissa.

“Na literatura, histórias com lésbicas ou são trágicas ou contêm escárnio. No cinema, idem. No imaginário, é sempre trágico o destino de uma mulher lésbica porque ela ousou se rebelar contra a natureza”, diz a empreendedora. “Por isso, projetos liderados por mulheres lésbicas, em qualquer área, contribuem para restaurar nossa autoestima enquanto grupo e também pessoalmente, no sonho de cada uma de nós, de poder escolher qualquer profissão e sonhar com sucesso e satisfação.”

Fonte: Universa/UOL

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