Quando o tema é vacinação, a maioria dos pais se preocupa com as imunizações que precisam ser aplicadas durante a infância dos filhos. Muitos se esquecem ou desmerecem as recomendações para a adolescência. Uma delas é contra o HPV, vírus associado ao surgimento de cânceres. Até em países em que ela é oferecida gratuitamente, como o Brasil, as taxas de adesão à vacina estão abaixo do esperado. Duas pesquisas divulgadas recentemente podem ajudar a reverter esse cenário. Os cientistas identificaram causas ligadas à baixa imunização e medidas com potencial para vencê-las.
Em um dos estudos, conduzido nos Estados Unidos, um dos países com baixa adesão à vacina de HPV, médicos e enfermeiros de 19 estados responderam a um questionário sobre desafios e estratégias usadas por eles para estimular a imunização de jovens. A análise das respostas mostrou que a maior barreira está relacionada à recusa e à falta de informação dos pais quanto à importância da medida.
“O pouco conhecimento é o principal entrave e, em seguida, o que agrava ainda mais é a falta de tempo para discutir a vacinação com as famílias, além da baixa presença de adolescentes nos centros de saúde”, detalha Margaret Wright, uma das pesquisadoras da American Academy of Pediatrics e autora do estudo, apresentado na última reunião da Sociedade Americana de Pediatria.
O trabalho mostra ainda que as estratégias mais eficazes usadas pelos profissionais da área para aumentar adesão estão voltadas para a educação. “A fórmula mais relatada foi o uso de explicações esclarecedoras quanto à vacinação contra o HPV e de ferramentas para melhorar a comunicação, como cartazes e imagens. Outro ponto positivo é o uso de mensagens para relembrar a necessidade de realização da segunda dose”, detalha Margaret Wright.
O segundo estudo, realizado também por americanos, analisou a influência de vídeos educativos. Ao longo de sete meses, a equipe observou pais de 1.596 adolescentes (com idade entre 11 e 17 anos). Por meio de relatórios, descobriram que os adultos que assistiram a um vídeo educacional sobre a vacina contra o HPV enquanto aguardavam uma consulta médica apresentaram três vezes mais chances de levarem os filhos adolescentes para vacinar.
“Esse estudo procurou educar os pacientes sobre a vacina e levá-los a iniciar uma conversa com especialistas da área médica, que podem os ouvir e estão dispostos a oferecer conselhos quando solicitados”, afirma Brian Dixon, pesquisador do Regenstrief Institute, nos Estados Unidos, e principal autor da pesquisa, publicada na revista Pediatric. “Se conseguirmos educar pacientes onde eles podem tomar medidas imediatas em prol da saúde, podemos garantir que pessoas mais elegíveis recebam a vacina, potencialmente salvando vidas e economizando no tratamento de doenças.”
Cobranças e tabus
Bárbara Alves da Silva, 38 anos, faz parte do grupo de mães que garantiu a proteção dos filhos. “Vacinei os meus dois, o Samuel, de 13 anos, e a Nicole, de 9 anos, há alguns meses. Fui muito influenciada por uma amiga que trabalha na área médica. Ela sempre me lembra e cobra. Isso é bom porque me ajuda a não esquecer”, conta.
Para a comerciante, o alerta da colega foi essencial na medida tomada. “Eu vejo que falta um pouco de informação entre as outras mães que conheço, mas acredito que isso ocorre pela falta de propagandas e do reforço da importância dessa vacina”, frisa. “Na época em que eu era criança, tínhamos uma campanha maior, no colégio mesmo, era comum ser cobrado dentro da sala de aula sobre vacinações.”
Para Kelly Tirelli, psicóloga e membro do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, um dos maiores problemas relacionados a baixas taxas de imunização do HPV é a reação da sociedade a duas questões envolvidas. “Esse tema envolve pontos polêmicos: a sexualidade e a vacinação. Hoje, muitas pessoas estão descrentes quanto à vacinação, temos dados até de baixas taxas em relação à imunização da gripe, uma das mais comuns. E no caso do HPV, ainda temos a sexualidade envolvida, que é um tabu para a nossa sociedade.”
Para a psicóloga, a tendência da maioria das famílias é evitar lidar com esse tema. “As pessoas acham que falar sobre algo é estimular. Acreditam que, ao levar o filho para vacinar, estão permitindo e até incentivando que ele tenha uma vida sexual”, diz. Segundo Kelly Tirelli, apenas a difusão de mais informação, feita de forma adequada, pode contribuir para mudanças. “É preciso desconstruir esses dogmas e crenças presentes na sociedade. É algo que está enraizado, mas que pode ser mudado por meio de propagandas e palestras, por exemplo. Os adolescentes ainda precisam de seus pais para que possam realizar a imunização. Por isso, é importante ter diálogo entre os familiares.”
Fonte: Correio Braziliense