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Drag queen viaja o Brasil para discutir política e questões sociais: ‘humor de reflexão’, diz


A drag queen Rita von Hunty viaja o país com palestras sobre política e história — Foto: Reprodução/Instagram

O jovem Guilherme Terreri, que saiu do interior de São Paulo e se estabeleceu na capital paulista para cuidar da mãe com câncer, descobriu dentro de si uma drag queen e encontrou nessa expressão artística uma forma de discutir política.

Batizada como Rita von Hunty, a drag criou um canal no YouTube, desenvolveu um curso sobre comportamento humano e participa de um programa de entretenimento na TV a cabo. Hoje, tornou-se reconhecida nacionalmente pelo tom crítico e politizado.

“O tipo de humor que proponho é de reflexão, normalmente política. Na verdade, tudo é política. Então, invariavelmente, você acaba rindo ou deixando de rir por um motivo político”, afirma.

Rita também viaja o país ministrando palestras com os mesmos temas discutidos no curso, como história e sociologia. Nesta quinta-feira (30), o encontro é no Sesc de Ribeirão Preto (SP), onde Guilherme nasceu, e o assunto é masculinidade tóxica.

“O tipo de humor no qual acredito é o mesmo do Gil Vicente, o escritor e humanista português. Uma frase que ele usava muito é ‘ridendo castigat mores’: através do riso, você critica os costumes. O meu tipo de humor é exatamente esse: através do riso estou criticando costumes.”

Drag queen politizada

Rita se reconhece como uma drag queen politizada. Essa maneira de se expressar foi construída a partir da formação em artes cênicas e letras, da participação em diversos cursos, inclusive na Austrália, e da experiência como educador.

“Comecei a dar aula aos 14 [anos]. Então, sem 15 anos de experiência, não estaria dando aula agora. Não acordei um dia e falei ‘Sou educador’. Não acordei um dia e falei ‘Vou dar aula’. É uma coisa construída há muito tempo.”

A ideia de criar uma drag queen surgiu no Carnaval de 2013, quando Guilherme e os amigos decidiram se montar para ir a uma festa. Apesar da brincadeira despretensiosa, Rita fez tanto sucesso que foi convidada para trabalhar como hostess de outra balada.

“Estava vindo das artes cênicas e uma drag queen, para um profissional de artes cênicas, é um prato cheio, porque ser drag é ser figurinista, maquiador, peruqueiro, ator, cantor, bailarino, diretor, roteirista. É como se todas as atividades fossem potencializadas em uma pessoa”, diz.

O nome da drag foi construído a partir de três referências: Rita Hayworth, atriz norte-americana que fez sucesso na década de 1940, ‘hunty’, gíria usada pelas drags para expressar admiração ou carinho, e ‘von’, termo alemão que sinaliza nobreza.

“O Guimarães Rosa tem um conto maravilhoso em Sagarana chamado ‘A hora e a vez de Augusto Matraga’, no qual ele fala que tudo tem uma hora e uma vez. Tenho certeza de que, se não tivesse feito artes cênicas, não teria me tornado o comunicador que me tornei”, diz.

Curso de política

O que era diversão virou trabalho, e Guilherme encontrou em Rita uma oportunidade de se expressar politicamente e levar conhecimento à sociedade. O jovem explica que o movimento artístico drag queen está historicamente relacionado à política.

“Jorge Lafond, a Vera Verão, era entretenimento, só que tinha um trabalho de militância superimportante. O Jorge Lafond foi formado pela Unirio, a mesma faculdade onde estudei. Ele era preto, bicha e bailarino, em uma época em que essas três coisas eram vistas com muito maus olhos pela sociedade tradicional e hipócrita”, afirma.

Com isso, Guilherme diz que relacionar drag queens ao entretenimento é um fenômeno recente e que, mesmo aquelas que estão ligadas ao show business – programas de TV e música, principalmente – também carregam uma força política e de transformação.

“Antes da indústria cultural, antes de ter a palavra entretenimento, tinha arte. Pensar, por exemplo, a Rita Lee nos Mutantes, o Ney Matogrosso em Secos e Molhados. Será que a gente consegue falar deles como entretenimento? Eles só cantavam como política”, questiona.

De salto alto, batom vermelho, peruca no estilo pin-up e vestido retrô, Rita discute com os alunos do curso temas como capitalismo, religião, amor, trabalho e etiquetas sociais. Cada tema é um módulo com duração de quatro horas.

“Os únicos que as pessoas esperam que falem sobre política são os políticos. A gente mora em um país que tem um dito popular que é ‘Política não se discute’. É absurdo”, afirma. “Todas as pessoas são políticas. Se você mora na polis, está inserido na comunidade, você é político. Politizado, no entanto, é ser consciente disso.”

Com as reflexões, Rita não só compartilha conhecimento teórico, como ensina a transformá-lo em ferramentas de autoconhecimento e mudança social, relacionando os temas das aulas com a vida e a realidade das pessoas.

“A gente passa a vida inteira se silenciando, se encaixando em modelos que não são nossos, correndo atrás de coisas que, na verdade, a gente nem quer. Talvez, se a gente estivesse em maior sintonia com as nossas vozes, viveria vidas mais felizes.”

Fonte: G1

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